domingo, 29 de julho de 2012

O Clube do Povo do Rio Grande do Sul


Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre

“O Internacional é o próprio coração do povo gaúcho: o Colorado é o Poncho e a Pólvora”.

      Quando eu tinha nove anos de idade, em 1969, morava em Santa Rosa, cidade do oeste do Rio Grande do Sul, onde vivem muitos descendentes de imigrantes italianos e alemães. Santa Rosa é pioneira no plantio de soja no Brasil, cultura esta que, posteriormente, os gaúchos espalharam por todo o País, pois a planta se transformou em uma mina de ouro, principalmente no setor de exportação.

     Naquele tempo, o famoso Colorado, o glorioso Sport Club Internacional, fundado em 1909, havia recém-saído de uma fila de sete anos sem títulos, além de ainda ter inaugurado o Estádio Gigante da Beira-Rio, em um jogo contra o Benfica de Portugal, base da Seleção Portuguesa da Copa do Mundo de 1966, e que contava com Eusébio, o maior craque português de todos os tempos e um dos jogadores mais completos da história do futebol.

Valdomiro: símbolo de vitórias, ponta rápido, goleador e colecionador de títulos.

     O time do Inter escalava na época dois atacantes que fizeram história no Rio Grande. Valdomiro e Claudiomiro. O primeiro está marcado para sempre como símbolo da hegemonia do Internacional no Rio Grande do Sul e no Brasil, no finzinho dos anos 60 e durante a década de 70. Valdomiro foi tão importante e simbólico para os torcedores do Colorado que figura como referência em um time que escalava jogadores como Figueroa, Falcão, Manga, Lula, Vacaria, Jorge Andrade, Batista, PC Carpegiani, Dario, Flávio, Jair, Cláudio, Pontes, Marinho, Caçapava, Tovar, Bráulio, Carbone, Dorinho, Borjão, Chico Spina e o maior cabeceador que eu vi na vida — Escurinho.

     O segundo jogador, Claudiomiro, era um centroavante clássico, daqueles que tinham técnica, mas também força física (era também rompedor), arranque ao tempo que agilidade, apesar de, pouco tempo depois de seu surgimento, sofrer com a tendência para engordar, tal qual o Coutinho, do Santos, e o Neto, do Corínthians e do Guarani. Claudiomiro era um artilheiro nato, perigoso goleador. Atualmente chamam o jogador com essas características de “matador”, mas isso é outra história.

Claudiomiro: artilheiro simbolizou a hegemonia do Inter sobre o Grêmio, além de ter jogado na Seleção.

    Quando esse magnífico centroavante surgiu para o futebol, o Inter começou a ganhar de seus rivais, inclusive do Grêmio, que se consagrou heptacampeão gaúcho, em 1968, e disputava o octacampeonato em 1969, ano da inauguração da Beira-Rio. Claudiomiro estava para o Internacional como Alcindo (o Bugre) para o Grêmio. Claudiomiro fez o gol inaugural do Estádio da Beira-Rio e ficou para sempre em minha memória. Foi neste ano, o de 1969, que o Colorado dos Pampas ganhou o primeiro campeonato de uma série de oito, que se encerraria em 1976, com o Inter consagrado também como bicampeão brasileiro. Era um timaço, quase imbatível.

     Valdomiro e Claudiomiro compõem o imaginário do torcedor colorado, principalmente aquele que no fim da década de 1960 e início da década de 1970 era criança ou adolescente e vibrava com seus gols e com os craques maravilhosos que o Grande Internacional tinha naquelas décadas inesquecíveis. Claudiomiro, o artilheiro, engordou e, naquele tempo, a medicina esportiva, a preparação física e a nutrição, como ciências, não eram tão desenvolvidas, o que fez com que sua carreira fosse abreviada, logo após ele ter jogado no Botafogo, onde não conseguiu ter uma sequência de jogos por causa do excesso de peso.

Manga, Cláudio, Figueroa, Vacaria, Marinho e Falcão; Valdomiro, Batista, Dario, Caçapava e Lula. Inter quase imbatível, com oito jogadores que jogaram na Seleção, além do cracaço chileno Figueroa.

     Valdomiro e Claudiomiro eram tão importantes que jogaram na Seleção Brasileira, em um tempo em que somente quem atuava no eixo Rio-São Paulo era convocado. No Gigante da Beira-Rio está escrito, em letras garrafais: O Clube do Povo do Rio Grande Sul. E não poderia ser de outra forma. O Internacional é vermelho, como a Internacional Socialista; como os Maragatos; como o sangue dos heróis e dos anônimos da Revolução Farroupilha; como os corações daqueles que lutam por justiça e causas justas. O Internacional é o próprio coração do povo gaúcho: o Colorado é o Poncho e a Pólvora.


3 comentários:

Pedro Dantas disse...

Davis, você me emocionou porque revivi a minha adolescência. Moro em Caxias do Sul, estou com 53 anos e nunca mais esqueci aquele esquadrão de craques que era o Colorado. Você tem uma ótima memória e escreve de uma forma real mas sem perder a poesia. Grande abraço. Vou espalhar o artigo pelo internet para os meus amigos colorados e também os gremistas (rsss).

Leonardo Rocha disse...

O Colorado de 75/76 foi como a Beija-Flor no carnaval carioca: mudou tudo. A partir daí, ou você se adaptava ou não ganhava mais. E foi o que aconteceu com todos. Aquele time mudou o futebol brasileiro sem tirar sua técnica e sua beleza plástica, muito pelo contrário. Logo depois o Carpegiani foi para o Rio e levou aquele estilo para o Flamengo, que jogava da mesma forma. O Botafogo deveria ter contratado o Carpegiani, não o Claudiomiro, que chegou gordo e em fim de carreira. Na época, a medicina esportiva ainda estava tão atrasada que ele treinava de casaco para tentar perder peso...

Anônimo disse...

VIVA O CRUZEIRO!!!!!!!!!!