Amaury Ribeiro Jr. — Do Hoje em Dia
A
procuradora da República no Rio Andrea Bayão Ferreira denunciou o ex-diretor de
Planejamento de Furnas, Dimas Toledo, e um grupo de empresários e políticos acusados de
participarem da chamada Listas de Furnas – a caixinha de campanha clandestina que
funcionou na empresa estatal durante o governo de FHC. A denúncia reúne um
arsenal de documentos da Polícia Federal e da Receita Federal que, além de
atestar a veracidade, comprova a existência de um “mensalão” organizado por
Dimas na estatal.
De
acordo com a procuradora, o mensalão de Furnas provocou o enriquecimento de
funcionários públicos, empresários e lobistas, acusados de alimentarem os financiamentos ilegais de campanha políticas
dos tucanos e de seus aliados com o dinheiro público. Segundo a denúncia, o
esquema era custeado pelos contratos superfaturados assinados pela estatal com
duas empresas : a Toshiba do Brasil e a JP Engenharia Ltda. As duas foram
contratadas sem licitação pública para realizar obras no Rio . “ O diretor
Dimas Toledo reproduziu, em Furnas, o esquema nacional que ficou conhecido como
‘ mensalão’ – um esquema de arrecadação de propina – na ordem de milhões,
custeado mediante o superfaturamento de obras e serviços”, diz a procuradora na
denúncia.
A lista
A
lista de Furnas, assinada pelo próprio Dimas Toledo, traz o nome de políticos
que receberam doações clandestinas de campanha da empresa estatal em 2002. Entre os beneficiados
estão os ex-governadores de São Paulo e de Minas Gerais, e outros 150
políticos.
Réus
confessos
Os
próprios executivos da Toshiba do Brasil – uma das empresas que financiavam o esquema –
confirmaram a existência de um caixa dois que sustentava mesada de servidores e
políticos. O superintendente Administrativo da empresa japonesa, José Csapo
Talavera, afirmou, por exemplo, que os contratos de consultoria fictícios das
empresas de fachada, até 2004 , eram esquentados por um esquema de “notas
frias”.
Escuta
quente
As
escutas da Polícia Federal desmentem que o lobista Nilton Monteiro teria
tentando falsificar a lista. Pelo contrário. “Durante a intercepção das linhas
telefônicas usadas por Nilton Monteiro, nada foi captado que indicasse a
falsidade da lista, ao revés, em suas conversa telefônicas, inclusive com sua esposa, sustenta que a lista é autêntica”, diz
a procuradora.
Jefferson
confirmou
Um dos
políticos citados na lista, o ex-presidente do PTB e ex-deputado Roberto
Jefferson(PTB) também confirmou à PF a veracidade do documento. De acordo com o
depoimento anexado à denuncia do MP, Jefferson disse ter recebido, na campanha
para deputado federal em 2002, R$ 75 mil da estatal. A grana foi entregue pelo
próprio Dimas Toledo a Jefferson num escritório no centro do Rio.
Peritos
Mas a
prova cabal de que a lista de Furnas é mesmo verdadeira acabou sendo fornecida
por peritos da Polícia Federal. Em depoimento à PF, além de confirmarem a
autenticidade da assinatura de Dimas Toledo, os peritos descartaram a
possibilidade de montagem.
Chantagem
De acordo
com a denúncia, a lista com o nome de políticos que receberam doações
clandestinas da estatal teria sido elaborada pelo próprio Dimas Toledo, que
pretendia usá-la para manter-se no cargo. O próprio diretor da estatal teria
entregue o material ao lobista, que tentou l negociá-la com os adversários
políticos do PSDB.
Trânsito
Dimas
Toledo confirmou que o lobista tinha trânsito livre na estatal. Dimas disse
ter, inclusive, marcado um encontro do lobista com o departamento jurídico da
estatal.
Indiciamento
Além de
Jefferson, o MPF denunciou Dimas Toledo, mas deixou de fora caciques do PSDB
citados, sob o argumento de que eles são alvos específicos de uma investigação
da PF e do MPF sobre os beneficiários da caixinha de campanha alimentada pela
empresa estatal.
Vara da
Fazenda
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Justiça não acolheu a denúncia do MP sobre "lista de Furnas"
Do Hoje em Dia
Produzida pela procuradora da República no Rio, Andrea Bayão Ferreira, a denúncia do caso que ficou conhecido como “mensalão de Furnas” não chegou a ser aceita pela Justiça. Ao receber o caso, o juiz federal substituto Roberto Dantes Schuman de Paula declarou que o órgão não tinha competência para a análise do caso, que foi então encaminhado à Justiça Estadual do Rio de Janeiro.
Na nova instância, o Ministério Público Estadual do Rio, por sua vez, não encampou a acusação, entendendo que os fatos carecem de investigações complementares.
Entre as fragilidades que teriam sido detectadas está a falta de aprofundamento das investigações relacionadas justamente ao núcleo petista de apoio às atividades de Nilton Monteiro, o denunciante, no financiamento e no fornecimento de padrões de assinaturas do ex-diretor de Furnas e de parlamentares, cujas ações foram flagradas pela própria Polícia Federal, em escuta autorizada pela Justiça. Além do então diretor de Furnas, Nilton Monteiro também foi denunciado pela procuradora.
Curiosamente, em dezembro de 2011, após denúncias na imprensa nacional sobre uma suposta falsificação da lista, a procuradora Andréa Bayão foi promovida e, poucos dias depois, teria concluído os trabalhos que estavam paralisados há cinco anos, antes de assumir a nova função, em Brasília, o que aconteceu no dia 6 de fevereiro de 2012.
Na investigação, o Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Polícia Federal, em laudo realizado em 2006, apontava indícios de falsificação do documento, como “diferenças de formatação”, “deixando claro que aquela cópia não foi obtida a partir desse último documento”, realçou.
Mídia esconde a “Lista de Furnas”
Por Altamiro Borges
A mídia “privada” é bastante seletiva na escandalização da política. Nos últimos dias, ela só pensa naquilo – no “julgamento do século” do chamado “mensalão do PT”, que se inicia nesta quinta-feira (2) no Supremo Tribunal Federal. As revistonas deram capas terroristas; as manchetes dos jornais parecem combinadas; e os “calunistas” da tevê não falam em outra coisa. De tão concentrada, porém, a mídia deixou de noticiar que Ministério Público Federal decidiu fazer a denúncia formal sobre a famosa Lista de Furnas.
O premiado jornalista Amaury Ribeiro Jr., autor do livro “A privataria tucana” – o best-seller que também foi omitido pela mídia tucana –, registrou ontem no jornal Hoje em Dia a decisão do MPF. Segundo revelou, a autenticidade de “lista” já teria sido provada. Ela revela que a estatal Furnas superfaturou contratos para repassar dinheiro a cerca de 150 políticos durante a campanha eleitoral de 2002. Os principais beneficiários seriam candidatos do PSDB e do DEM, entre eles o mineiro Aécio Neves e o paulista Geraldo Alckmin.
Cinismo dos tucanos e da mídia
A famosa “lista de Furnas”, que os demotucanos juravam não existir e que a mídia “privada” sempre evitou investigar, teria sido feita pelo próprio ex-presidente e ex-diretor de planejamento da empresa, Dimas Toledo. Para a procuradora Andrea Bayão Ferreira, do Rio de Janeiro, agora não há mais dúvida sobre a sua autenticidade. De posse dos documentos, Amaury Ribeiro inclusive já pensa em escrever a segunda parte do livro “A privataria tucana”. Para ele, a lista comprova a existência de um “mensalão” de Furnas.
A decisão do MPF também animou o deputado Rogério Correia (PT-MG). Com base num laudo pericial da Polícia Federal, ele foi um dos primeiros a denunciar o rombo na estatal para financiar a eleição de Aécio Neves ao governo de Minas, em 2002. “Quando fiz a denúncia, tentaram até mesmo cassar o meu mandato. Mas a verdade, finalmente, começa a prevalecer”. Para ele, a lista comprova a hipocrisia dos tucanos. “Eles só querem investigar os esquemas dos outros, porque esse de Furnas eles tentam abafar até agora”.
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