domingo, 1 de julho de 2012

Sócrates: eternamente em nossos corações

Craque emblemático da Seleção, Sócrates é um dos maiores de todos os tempos.
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Médico e intelectualizado, Sócrates lutou pela redemocratização do Brasil.
.Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre

Craque emblemático da Seleção, Sócrates é um dos maiores de todos os tempos
    Relembro o grande jogador e cidadão que foi Sócrates. O craque de futebol, um dos maiores que vi jogar, e o médico era um homem intelectualizado e que participou de eventos políticos grandiosos como o Diretas Já e a Democracia Corintiana. Pagou caro, porque parte da velha imprensa privada o perseguiu e depois o ignorou. Contudo, impossível esquecê-lo. porque logo ele se tornou comentarista da TV Cultura paulista e colunista da revista “Carta Capital”, entre outros afazeres e compromissos. Lamento a morte de Sócrates, mas o saúdo por ser um brasileiro da maior qualidade. Sócrates, alíás, tinha em seu sobrenome a palavra Brasileiro.
  
     Corria o ano de 1977. Eu tinha 17 anos. Era início de ano em Brasília. Chovia muito. Época das monções no centro-oeste brasileiro. A cidade passou por um forte período de seca, que chegou a dar índices de umidade do ar abaixo de dez, o que faz com que algumas escolas não abram suas portas para que as crianças não tenham problemas respiratórios, de saúde.
 
    É noite. Estou à frente da televisão e aprecio um jogo de futebol. O meu time de coração é o Clube de Regatas do Flamengo, o Rubro-Negro da Gávea. Mas os times que jogam são o Corínthians e o Botafogo de Ribeirão Preto pelo Torneio Laudo Natel, uma espécie de Torneio Início que existia em São Paulo antes de começar o Campeonato Paulista
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Raí, irmão famoso, disse: Fui um bom jogador mas meu irmão foi um gênio.
    Laudo Natel foi duas vezes governador de São Paulo e no segundo mandato (1971/1975) foi eleito de forma indireta pela Assembléia Legislativa, porque o Brasil estava em plena ditadura militar. O governador paulista era homem do sistema e foi também executivo poderoso do Bradesco, além de ter sido o braço direito do banqueiro Amador Aguiar, proprietário do maior banco privado do País.
  
    O jogo é duro. Os dois times se revezam nos ataques. O Corínthians não tem mais o craque consagrado e campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1970, o fenomenal Rivelino, conhecido como o Reizinho do Parque, que se transferiu para o Fluminense em 1975 e encantou os cariocas no principal templo do futebol — o Maracanã —, com suas jogadas geniais, de dribles curtos, lançamentos impressionantemente milimétricos e chutes canhoteiros poderosos.
  
   Contudo, a performance de um jogador me chama a atenção. Ele é alto, tem mais de 1,90 metro e joga com a cabeça sempre erguida. Apresenta para os meus olhos prazerosamente surpresos e depois embevecidos uma técnica refinadíssima, passes longos pelo alto e lançamentos sempre verticais, por baixo. Os chutes a gol, potentes e certeiros, e a elegância de seus passos e corridas lembram a elegância dos pássaros pernaltas quando estão, calmamente, em seu habitat, à procura de comida
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Sócrates e Zico: no Flamengo contusões impediram a dupla de jogar como ocorreu na Seleção
      O habitat de Sócrates é o campo e a comida a bola — o gol. Seus passes de calcanhar chamam a atenção por causa da precisão e da beleza plástica, ao ponto de eu não compreender como um jogador com um biótipo tão antiatleta consegue correr, sem ser desengonçado e muito menos perder o tempo da bola em relação ao espaço, ocupado também pelo seu marcador.
  
    O jovem, prestes a se formar em Medicina, controla o jogo, ao ponto de apenas um marcador não ser suficiente para controlá-lo, impedi-lo de dar seqüência às suas maravilhosas jogadas. Seus pés são pequenos para sua altura, porém seus passes são mortais, o que propicia aos companheiros de time fazer os gols que permitam a vitória do clube de Ribeirão Preto.
  
   Percebo que Sócrates, que estou a ver jogar pela primeira vez na minha vida, tem um talento ímpar, raro, e por esse motivo se trata de um fenômeno do futebol, o esporte mais importante e popular do planeta. O craque é um notável dos gramados, futuro deus dos estádios e um dos mais talentosos jogadores de sua geração e, por conseguinte, da Seleção Brasileira, que, nos idos de 1977, já escalava Zico, Falcão, Toninho Cerezo, Reinaldo, Roberto Dinamite e o espetacular Rivelino, ainda considerado o maior craque do Brasil, que logo deixaria de jogar em nosso País depois da Copa do Mundo de 1978. Zico, posteriormente, seria o herdeiro da camisa 10 amarelinha.
 
   Sócrates, o que todo mundo já sabe, transferiu-se, em 1978, para o Corínthians. Tornou-se ídolo histórico do clube paulista e confirmou tudo o que eu pensei sobre seu imenso talento no decorrer daquele jogo em que ele atuou como meia-atacante do Botafogo de Ribeirão Preto. Nos seis anos que atuou pelo alvinegro, ganhou três campeonatos paulistas, em um tempo que as disputas estaduais eram mais longas e muito prestigiadas. O craque liderou a Democracia Corintiana, juntamente com Vladimir e Casagrande, e subiu nos palanques políticos e cívicos de quando os brasileiros lutavam ainda pela total democratização do País, que redundou nas Diretas Já.
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Sócrates se considerava de esquerda e foi boicato pela imprensa durante anos.
    O grande jogador também era ativista político e se mostrou um homem ligado às questões sociais e de perfil de esquerda. Em 1984, Sócrates se transferiu para o Fiorentina, sofreu com as contusões, além de ter problemas de coluna. Veio para o Flamengo em 1986 e jogou pouco pelo clube de maior torcida do País. Uma pena. Por ser rubro-negro, gostaria muito de vê-lo jogar ao lado de Zico, mas as contusões não permitiram, além de Zico também não estar bem fisicamente naquele ano, porque ainda se recuperava de séria lesão da qual foi vítima, em 1985, quando o jogador do Bangu, Márcio Nunes, quase o deixou aleijado.
  
   Foi uma pena, mas não lamento, porque vi esse extraordinário jogador nos campos do Brasil a conduzir, a controlar a bola e fazer com ela o que lhe aprouvesse, porque Sócrates se agradava da bola e por isso a tratou com arte e respeito que todo craque tem pelo povo, pelos torcedores, o que lhe dá autoridade para se sentir como um deus dos estádios, à procura de espaço para que seu tempo nunca seja esquecido e não acabe em nossa memória e em nossos corações. Saúde a Sócrates!

Um comentário:

Beto Alfeu disse...

Sócrates foi realmente um grande homem. Como jogador, foi fantástico. Justa a sua homenagem.