Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
“O
Internacional é o próprio coração do povo gaúcho: o Colorado é o Poncho e a
Pólvora”.
Quando eu
tinha nove anos de idade, em 1969, morava em Santa Rosa, cidade do oeste do Rio
Grande do Sul, onde vivem muitos descendentes de imigrantes italianos e
alemães. Santa Rosa é pioneira no plantio de soja no Brasil, cultura esta que,
posteriormente, os gaúchos espalharam por todo o País, pois a planta se
transformou em uma mina de ouro, principalmente no setor de exportação.
Naquele
tempo, o famoso Colorado, o glorioso Sport Club Internacional, fundado em 1909,
havia recém-saído de uma fila de sete anos sem títulos, além de ainda ter
inaugurado o Estádio Gigante da Beira-Rio, em um jogo contra o Benfica de
Portugal, base da Seleção Portuguesa da Copa do Mundo de 1966, e que contava
com Eusébio, o maior craque português de todos os tempos e um dos jogadores
mais completos da história do futebol.
Valdomiro: símbolo de vitórias, ponta rápido, goleador e colecionador de títulos. |
O time do
Inter escalava na época dois atacantes que fizeram história no Rio Grande.
Valdomiro e Claudiomiro. O primeiro está marcado para sempre como símbolo da
hegemonia do Internacional no Rio Grande do Sul e no Brasil, no finzinho dos
anos 60 e durante a década de 70. Valdomiro foi tão importante e simbólico para
os torcedores do Colorado que figura como referência em um time que escalava
jogadores como Figueroa, Falcão, Manga, Lula, Vacaria, Jorge Andrade, Batista,
PC Carpegiani, Dario, Flávio, Jair, Cláudio, Pontes, Marinho, Caçapava, Tovar,
Bráulio, Carbone, Dorinho, Borjão, Chico Spina e o maior cabeceador que eu vi na vida —
Escurinho.
O segundo
jogador, Claudiomiro, era um centroavante clássico, daqueles que tinham
técnica, mas também força física (era também rompedor), arranque ao tempo que
agilidade, apesar de, pouco tempo depois de seu surgimento, sofrer com a
tendência para engordar, tal qual o Coutinho, do Santos, e o Neto, do
Corínthians e do Guarani. Claudiomiro era um artilheiro nato, perigoso
goleador. Atualmente chamam o jogador com essas características de “matador”,
mas isso é outra história.
Claudiomiro: artilheiro simbolizou a hegemonia do Inter sobre o Grêmio, além de ter jogado na Seleção. |
Quando
esse magnífico centroavante surgiu para o futebol, o Inter começou a ganhar de
seus rivais, inclusive do Grêmio, que se consagrou heptacampeão gaúcho, em 1968,
e disputava o octacampeonato em 1969, ano da inauguração da Beira-Rio.
Claudiomiro estava para o Internacional como Alcindo (o Bugre) para o Grêmio.
Claudiomiro fez o gol inaugural do Estádio da Beira-Rio e ficou para sempre em
minha memória. Foi neste ano, o de 1969, que o Colorado dos Pampas ganhou o
primeiro campeonato de uma série de oito, que se encerraria em 1976, com o
Inter consagrado também como bicampeão brasileiro. Era um timaço, quase
imbatível.
Valdomiro
e Claudiomiro compõem o imaginário do torcedor colorado, principalmente aquele
que no fim da década de 1960 e início da década de 1970 era criança ou
adolescente e vibrava com seus gols e com os craques maravilhosos que o Grande
Internacional tinha naquelas décadas inesquecíveis. Claudiomiro, o artilheiro,
engordou e, naquele tempo, a medicina esportiva, a preparação física e a
nutrição, como ciências, não eram tão desenvolvidas, o que fez com que sua
carreira fosse abreviada, logo após ele ter jogado no Botafogo, onde não
conseguiu ter uma sequência de jogos por causa do excesso de peso.
Manga, Cláudio, Figueroa, Vacaria, Marinho e Falcão; Valdomiro, Batista, Dario, Caçapava e Lula. Inter quase imbatível, com oito jogadores que jogaram na Seleção, além do cracaço chileno Figueroa. |
Valdomiro
e Claudiomiro eram tão importantes que jogaram na Seleção Brasileira, em um
tempo em que somente quem atuava no eixo Rio-São Paulo era convocado. No
Gigante da Beira-Rio está escrito, em letras garrafais: O Clube do Povo do Rio Grande
Sul. E não poderia ser de outra forma. O Internacional é vermelho, como
a Internacional Socialista; como os Maragatos; como o sangue dos heróis e dos
anônimos da Revolução Farroupilha; como os corações daqueles que lutam por
justiça e causas justas. O Internacional é o próprio coração do povo gaúcho: o
Colorado é o Poncho e a Pólvora.
3 comentários:
Davis, você me emocionou porque revivi a minha adolescência. Moro em Caxias do Sul, estou com 53 anos e nunca mais esqueci aquele esquadrão de craques que era o Colorado. Você tem uma ótima memória e escreve de uma forma real mas sem perder a poesia. Grande abraço. Vou espalhar o artigo pelo internet para os meus amigos colorados e também os gremistas (rsss).
O Colorado de 75/76 foi como a Beija-Flor no carnaval carioca: mudou tudo. A partir daí, ou você se adaptava ou não ganhava mais. E foi o que aconteceu com todos. Aquele time mudou o futebol brasileiro sem tirar sua técnica e sua beleza plástica, muito pelo contrário. Logo depois o Carpegiani foi para o Rio e levou aquele estilo para o Flamengo, que jogava da mesma forma. O Botafogo deveria ter contratado o Carpegiani, não o Claudiomiro, que chegou gordo e em fim de carreira. Na época, a medicina esportiva ainda estava tão atrasada que ele treinava de casaco para tentar perder peso...
VIVA O CRUZEIRO!!!!!!!!!!
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