Por Davis Sena Filho — Blog Palavra
Livre
O bloqueio econômico, financeiro e
comercial a Cuba, imposto pelos Estados Unidos, é um dos bloqueios mais longos
que se tem notícia no mundo contemporâneo, além de ser considerado cruel pelos
organismos internacionais como a ONU. No dia 7 de fevereiro, o bloqueio completou
50 anos, ou seja, meio século e foi transformado em lei em 1992 e 1995. O
ex-presidente, Bill Clinton, ampliou o embargo comercial ao pequeno país
caribenho em 1999, o que acarretou a proibição de filiais estrangeiras de
empresas do país yankee de
comercializar com Cuba valores que ultrapassem a US$ 700 milhões.
A Assembleia das Nações Unidas rejeita, reiteradamente, a política isolacionista promovida pelo governo estadunidense e o seu Departamento de Estado contra Cuba, que é objeto de críticas internas contundentes por parte de entidades estadunidenses, contrárias ao bloqueio, ao argumentarem que não existe norma no direito internacional que justifique um embargo tão radical em tempo de paz e de globalização.
Cuba enfrenta cinco décadas de guerra econômica. Para se ter uma ideia do que é
isto, ao longo de 50 anos a ilha cubana teve prejuízos que chegam a mais de U$
100 bilhões, valor este elevado para um país tão pequeno. É algo
incompreensível, com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos ainda não mudarem
sua política externa para com cubanos.
As contradições da política estadunidense no que tange a Cuba são questionadas
pela comunidade internacional. Lembro que, ao tempo em que Cuba é boicotada por
um tempo de 50 anos, os Estados Unidos se constituíram nos principais parceiros
comerciais da China comunista, além de retomarem o diálogo com a Coreia do
Norte e o Vietnã, seu arqui-inimigo do passado, com o propósito de criarem uma
nova fronteira de negócios com o país que, juntamente com o Laos e o Camboja,
formam a Indochina.
É necessário salientar também que representantes da Coreia do Norte e dos
Estados Unidos se reuniram no ano passado em Genebra, na Suíça, com a intenção
de desbloquearem as conversações sobre o desarmamento nuclear dos coreanos,
considerados à revelia pelos yankees
como um dos países formadores do “eixo do mal”, juntamente com o Irã e o invadido
Iraque, que desde 2003 está ocupado pelas forças militares dos EUA, que têm
interesses geopolíticos na região, além de controlar o petróleo e um país como
o Iraque cujo povo tem cinco mil anos de história.
Se a questão fundamental fosse ideológica, os estadunidenses não negociariam
com a China, que é comunista como Cuba e muitas vezes contrária, por exemplo,
aos interesses dos estadunidenses no Conselho de Segurança da ONU. Negócios são
apenas negócios. Os Estados Unidos, mesmo na Guerra Fria e em alta escala,
sempre negociaram com a extinta União Soviética, e nem por isso o mundo acabou.
O bloqueio comercial a Cuba não tem mais sentido, tanto é verdade que muitos
países, inclusive o Brasil, negociam comercialmente com o país caribenho e
pedem o fim do embargo nos fóruns internacionais.
Além disso, considero o Brasil, que tem uma das diplomacias mais avançadas do
mundo, um grande mediador. Com o fortalecimento do Mercosul com a entrada definitiva
da Venezuela e o reconhecimento por parte dos grandes países ocidentais de que
o Brasil é o principal País da América Latina, o Governo Federal, por meio do
Ministério das Relações Exteriores, deveria se empenhar de forma mais assertiva
junto à OEA, à ONU, aos blocos econômicos como a Comunidade Europeia para que
os Estados Unidos façam uma revisão de suas políticas públicas e diplomáticas em
relação a Cuba, país independente e autônomo, que se recusa a ser tutelado por
quem quer que seja, como bem demonstra a história cubana desde 1959, quando os
revolucionários, à frente do movimento de libertação Fidel Castro e Che Guevara,
assumiram o poder político e militar na ilha caribenha.
Considero fundamental que o Governo Federal recrudesça e procure efetivar a
inserção de Cuba no mercado econômico e financeiro internacional, por
intermédio de negociações do Itamaraty na OEA, na ONU, na OMC e nos bancos
internacionais, como o Banco Mundial (Bird), o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Cuba tem de ser
integrada urgentemente, bem como a Palestina à comunidade internacional, e com
celeridade. Nenhum país deve ser tratado como se fosse de segunda categoria,
porque povo algum é de segunda categoria. A humanidade pode até diferir na cor
da pele e na textura dos cabelos, mas ela é uma só, única e indivisível, porque
vivemos em um planeta do qual somos filhos, e, quando da nossa morte, voltamos
para o útero dele em forma de pó. Existem, sim, países poderosos, com força
econômica e bélica incomensurável e que se aproveitam de sua posição para impor
sanções e bloqueios, além de, se puderem, promover invasões militares.
O Tio Sam aponta e diz: a minha diplomacia é do boicote e do porrete. |
Contudo, faço uma ressalva: essas organizações financeiras têm de,
urgentemente, reformular seus programas de financiamento, voltando-se mais para
o desenvolvimento social dos países subdesenvolvidos e endividados e deixar em
segundo plano as estratégias que visam apenas o lucro, fato este que ocorreu
durante décadas com o Brasil, e agora, quando a Europa e os EUA estão em crise,
seus povos se recusam a apertar seus cintos e protestam nas ruas contra a falta
de emprego, de renda e de esperança proporcionados pela crise de 2008 que até
hoje perdura e que tende a piorar, segundo os ministros de Fazenda da zona do
euro e os analistas vinculados ao mercado financeiro e ao comércio e à
indústria.
A verdade é que o ex-presidente Lula tem razão. Ele criticou o FMI em evento nos
EUA realizado em 2011 quando recebeu prêmio de reconhecimento pelo seu governo
ter combatido a fome e a miséria e inserido milhares de famílias brasileiras no
mercado de consumo. O político trabalhista disse o seguinte: “O FMI tinha solução para tudo quando a
crise era na Bolívia, no Brasil, no México. Quando a crise chega aos países
ricos o FMI se cala, entrou num silêncio profundo. O BID, então, não fala mais
nada” — criticou Lula, alto e em bom som para quem quisesse ouvir,
inclusive os neoliberais brasileiros e a imprensa comercial e privada que
insistem em defender o indefensável, a justificar o injustificável e a
dissimular o fracasso retumbante de governantes atrelados ao Consenso de
Washington de 1989 e sem sensibilidade social, como o tucano e ex-presidente
neoliberal Fernando Henrique Cardoso, que foi três vezes ao FMI, de joelhos e
com o pires na mão, o que fez milhões de cidadãos brasileiros se sentirem
humilhados.
Lula afirmou ainda que os países desenvolvidos deveriam seguir os passos do
Brasil, tê-lo como exemplo quando se trata de combater a crise mundial. Para
ele, os mais pobres são os que têm de ter prioridade, porque não há nada mais
barato do que cuidar deles, pois duro e difícil é cuidar dos ricos. Para o
ex-mandatário, distribuir renda é a solução para que as pessoas pobres possam
consumir e, consequentemente, fazer a economia girar, o que propiciará a
criação de empregos e renda para os mais ricos, que poderão dessa forma
contratar um número maior de trabalhadores e com isso aumentar a força de
trabalho e a riqueza dos países, das sociedades.
Por sua vez, a presidenta Dilma Rousseff
disse quando esteve na Turquia que “Desejamos
à Europa uma saída rápida da crise por meio da busca por maior estabilidade
macroeconômica, mas também e, sobretudo, assegurando a retomada do crescimento,
da proteção ao emprego e dos segmentos mais vulneráveis das diferentes
populações”. A resumir: Lula e Dilma pensam de maneira igual, pois são
executores do mesmo programa de governo e projeto de País. Eles são políticos
trabalhistas, nacionalistas e acreditam no Brasil e em sua maior riqueza que é
o seu povo. Lula e Dilma são, fundamentalmente, de uma escola política e
econômica estruturalista, progressista, cuja origem remonta Getúlio Vargas e
passa por Celso Furtado.
Os neoliberais nunca compreenderam isso, não porque são ignorantes ou de parcos
conhecimentos sobre as questões e as realidades brasileiras, como se define
pessoas relativamente “espertas” de forma educada. Governaram para poucos
porque usaram de má-fé. E assim foi feito para, propositalmente, cuidarem dos
ricos e governarem para 30% da população do País, como fez FHC em seus dois
governos, controlados pelo PSDB e com o apoio de partidos como DEM, o pior partido
do mundo, pois tataraneto que é da UDN. Quanto ao PPS do desmoralizado Roberto
Freire, considero-o apenas um partido de aluguel e que se esqueceu de sua
memória. Lamentável.
Cuba tem de ter o apoio o Mercosul e tratar com o bloco suas demandas |
Voltemos a Cuba. A crise internacional é questionada fortemente por
instituições nacionais de diversos países, bem como por ONGs e outros
movimentos sociais que criticam, de forma ácida e até mesmo violenta, a atuação
dos organismos financeiros internacionais perante aqueles que deles dependem ou
que devem a eles. Se países inseridos em um contexto mais favorável têm
enfrentado graves problemas no que concerne à inserção no mercado
internacional, o que diríamos de Cuba que há cinco décadas enfrenta um bloqueio
econômico dos mais desumanos e cruéis que se tem notícia no mundo
contemporâneo? Por isso, como cidadão e jornalista sou favorável ao fim do
bloqueio imposto pelos Estados Unidos a Cuba.
A Guerra Fria, repito, acabou. O mundo se tornou globalizado. Globalização,
como o nome indica, significa interação entre os países, que passaram a se
comunicar e a realizar negócios em uma frequência e grandeza nunca vistas antes
pela humanidade. É surreal em tempos de globalização Cuba ficar à margem do
processo de integração mundial por questões muito mais mesquinhas do que
políticas. Os Estados Unidos veem Cuba como um problema pessoal. Dá a impressão
que os sucessivos governos estadunidenses teriam perdido um estado de sua
federação, à força, o que não retrata a realidade. Os cubanos seguiram seus
destinos de povo livre e independente e que tem o direito de fazer parte da
comunidade internacional tal qual a qualquer outro povo que tem representação
na ONU e em outros fóruns internacionais.
Cuba é soberana. E o Brasil, como um País tradicionalmente moderado,
diplomaticamente competente, de vocação mediadora, deve sentar à mesa de
negociações, com o propósito de inserir e incluir Cuba no contexto internacional.
A Carta da ONU considera direito inalienável de todo povo e de toda nação serem
livres, bem como participar dos processos de interação e integração entre os
povos. O bloqueio econômico ao país do Caribe não condiz com as realidades das
Américas e muito menos com a democracia, tão defendida pelos Estados Unidos ao
tempo que por eles negada ao povo cubano e a outros povos. O bloqueio a Cuba é
ideológico, insensato, cruel e injustificado. É isso aí.
2 comentários:
Os EUA fazem bloqueio no mundo inteiro por serem arrogantes e violentos. Cuba e seu povo sofrem a cinco décadas com o bloqueio. O Brasil, a Argentina e a Venezuela negociam com Cuba e deveriam aumentar o intercâmbio comercial.
Esses textos parecem textos de comédia.... haha... O Cuba não queria se livrar do imperialismo americano? Poisé, conseguiu... Vocês não são contra tudo que vem dos EUA? Do capitalismo? Poisé, então não reclamem... Socialismo é aqui lá que existe em Cuba... E além disso, existe o resto do mundo inteiro para comercializar... Não coloquem a culpa da porcaria ditatorial que é o governo comunista cubano nos EUA... A culpa é de Che Guevara e Fidel Castro.
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