Por
Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
Há
algum tempo, quando eu era um jovem jornalista, percebi nas redações da
imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) que o jornalismo
empresarial, de negócios, tem lado, cor, ideologia e preferências culturais,
raciais e de classe social.
Sabem
por que essas distorções acontecem? Porque o jornalismo é tratado como produto
por empresas de comunicação cujos proprietários são megaempresários, que estão
a fim de ganhar dinheiro, aliás, muito dinheiro, como qualquer empresário
de outro ramo de negócios.
Por
isso e por tudo isso, temos um jornalismo partidário, sectário e conservador
elaborado, escrito e apresentado por jornalistas filhos das classes média e
média alta quando não de origem rica. São profissionais burgueses e que sonham
desde sempre com ascensão social e fama.
Esses
jornalistas não conhecem o Brasil, as suas diferentes regiões e culturas e
muito menos compreendem as questões, as necessidades e as dificuldades das
classes sociais menos privilegiadas. Agem assim porque inexiste neles o compromisso
com o País e o seu povo, porque prezam essencialmente os valores individuais,
que se alicerçam em uma sociedade de consumo, que, equivocadamente, mede e
avalia as pessoas pelo o que elas tem e não pelo que elas são.
Parte
desses jornalistas por ser assim integram, de forma espontânea e natural, um
sistema midiático de direita acumpliciado com os interesses econômicos e
financeiros dos barões da imprensa, dos proprietários de mídias cartelizadas e
monopolistas, que, por sua vez, são sócios dos grandes capitalistas nacionais e
internacionais.
MAURICINHOS E PATRICINHAS QUE DESPREZAM O POVO BRASILEIRO. |
Percebo,
evidentemente, que essas características me levam a crer e a afirmar que os
barões da imprensa são imperialistas, colonialistas e os replicadores do
pensamento conservador nacional e internacional, de forma que ao controlar os
meios de comunicação e de informação eles passam a domesticar os pensamentos, os
valores e até mesmo os sonhos e os propósitos da população em geral e em
especial das classes média e média alta, que, alienadas e muitas vezes de forma
involuntária, aliam-se àqueles que não querem distribuir renda e riqueza e
muito menos desejam ver um Brasil justo, livre, independente, democrático e
soberano.
Os
jornalistas os quais faço críticas são exatamente isto. Eu os conheço e sei de
suas vaidades e manias de grandeza que se baseiam na ascensão social. São burgueses
porque acreditam em valores estritamente comerciais e de modismos. Detestam ter
de lidar com o que seus pais sempre desprezaram: conviver com os mais pobres e
ter de ouvir suas queixas e necessidades ou perceber que a redoma de cristal
onde vivem é para os poucos que eles consideram seus semelhantes.
Os
homens e as mulheres comprometidos com seus patrões e, por conseguinte, com o
jornalismo de negócios privados se vestem e se comportam como yuppies cujos valores se confundem com
o mundo neoliberal que derreteu as economias, as almas e o orgulho da Europa
Ocidental, do Japão e dos Estados Unidos. É um mundo fútil e leviano, que se
alicerça em falso moralismo que edifica a ganância, o egoísmo, o materialismo e
constrói a guerra entre as pessoas, as sociedades e os países.
O JORNALISMO DE NEGÓCIOS PRIVADOS É ELABORADO POR JORNALISTAS YUPPIES. |
Por
isso e por causa disso resolvi, no já longínquo ano de 1995, não trabalhar
em redações da imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?). É isso aí.
Um comentário:
Davis, eu sou jornalista aqui do Acre. Sempre tive a mesma impressão que você tem. Só que ainda não posso sair das redações pois o mercado de trabalho aqui é pequeno. Mas é muito bom ler um texto desse e que explica tim tim por tim tim como funciona a imprensa e como pensam alguns dos nossos colegas. Abraço e parabéns.
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