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Coimbra comenta sobre o que todo mundo viu e sabe, menos os colunistas e os "especialistas" da Globo News e da imprensa comercial e privada em geral. (DSFº)
09.10.2012
REDE BRASIL ATUAL
Por João Peres, Rede Brasil Atual
Diretor
do Instituto Vox Populi acredita que Serra se apoiará em bandeira
moral, que a essa altura não soma eleitores, ao passo que Haddad ainda
precisa se tornar mais conhecido.
Coimbra: Serra se equivoca ao julgar que critério
moral é primordial para definir voto.
Foto: Celton Oliveira/espacodoconhecimento.org)
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São Paulo –
Em sua avaliação sobre o resultados das urnas após as votações de 7 de
outubro, o diretor do Instituo Vox Populi, Marcos Coimbra, conclui que o
partido que mais ampliou sua territorialidade foi o PT, contrariando a
expectativa geral, que dava como certa a ascensão do PSB a estrela do
cenário político nacional.
O
analista disse também que o julgamento do mensalão a poucos dias do
primeiro turno não surtiu o efeito desejado contra o PT, conforme
estimado pelos adversários, e que, ao insistir no discurso da moralidade
como tese para alavancar sua campanha no segundo turno, o tucano José
Serra dificilmente conseguirá conquistar mais votos do que já teve no
domingo. No domingo, o PT cresceu 12% em relação a 2008, indo de 558 prefeituras para 624. O partido, além disso, é o que disputa o maior número de municípios em segundo turno: 22.
Ao
fim da entrevista, Coimbra afirma ainda que Fernando Haddad não deve
contar exclusivamente com o prestígio de Lula e Dilma Rousseff para o
sucesso de sua corrida eleitoral. "Ele ainda é um desconhecido da
maioria da população e precisa aparecer mais", disse, ao mesmo tempo que
avaliou a ampla rejeição ao tucano como vantagem inicial importante em
favor do petista.
Em
linhas gerais, imaginava-se o PSB como o grande vencedor em termos de
capital político. Você acha que já no primeiro turno se confirmou esse
crescimento do PSB?
Se
formos ver o número de prefeituras que o PSB ganhou, ele ficou numa
posição intermediária, com menos de 8% das prefeituras país afora.
Ganhou algumas fora do Nordeste, especialmente em Minas Gerais, mas não
foi um resultado de grande crescimento. Na eleição passada foi eleito em
300 e poucas prefeituras e agora está com 430. Num total de 5 mil, é
pouco. Em termo de resultados em capitais a expansão foi muito aquém do
que se imaginava. Ainda há o segundo turno e pode haver algum
crescimento.
Uma
boa notícia foi a vitória em Recife. E a má notícia foi a não ida para o
segundo turno do prefeito do PSB de Curitiba. Não sei o que “vale
mais”, pois Recife já é o terreno do PSB, então ganhar lá não é uma
grande novidade. Novidade seria manter-se na frente de uma prefeitura da
região Sul, o que não aconteceu. A vitória do Marcio Lacerda em Belo
Horizonte realmente não foi surpresa. Se houve uma surpresa foi ele ter
tido uma votação muito aquém do que se imaginava que poderia ter,
considerando que ele estava no exercício, que ele tinha uma boa
avaliação e que ele era apoiado por Aécio Neves. Fora isso, o PSB está
disputando agora com o PT em algumas capitais, como Fortaleza e Cuiabá,
mas é cedo para dizer que é um grande vencedor. É um partido que teve um
bom desempenho, mas está longe de ser a estrela em ascensão.
Até
agora, o partido que mais teve sucesso nesta eleição foi o PT. Foi o
único que cresceu dentre os cinco maiores, fez o número maior de
vereadores, foi o que ganhou em maior número de cidades grandes, ganhou
em capitais, vai ganhar em mais capitas no segundo turno. Se ganhar São
Paulo, será o grande resultado, mas, mesmo não ganhando, o PT é o
partido que mais se enraizou e mais mostrou capacidade de crescimento no
conjunto do país, ao contrário do que muita gente imaginava.
Já é possível encontrar os fatores para explicar este crescimento?
É
um conjunto de fatores, como a organização partidária, o partido tem
apresentado bons candidatos num número grande de cidades, são coisas que
explicam o resultado quando se olha 5 mil eleições diferentes, não só a
de uma cidade. No conjunto da obra, o PT foi aparentemente o melhor
sucedido.
O julgamento do mensalão não surtiu nenhum efeito neste sentido ou ficou limitado?
Se
isso que eu acabei de falar é verdade, a resposta é não. Não faria
sentido imaginar esse desempenho se o fator julgamento fosse decisivo
para o universo eleitoral. Não estou dizendo que seja irrelevante, mas
que foi provavelmente menos relevante do que se imagina. Limitou o
desempenho de Fernando Haddad na cidade de São Paulo? Provavelmente. O
suficiente para tirá-lo do segundo turno? Não. A rejeição a ele
aumentou, mas ela continua a ser um terço da rejeição do Serra. Tudo
isso tem de ser levado em conta na hora de analisar o impacto do
julgamento do STF sobre o mensalão.
Nenhuma
das pesquisas havia previsto o Serra com intenções de voto acima dos
30% e o Haddad com uma diferença tão tranquila em relação a Russomanno.
Por quê?
A
base para você comparar pesquisas e resultados da apuração não é a
mesma. Então se você “devolver” os números que o Serra obteve para o
conjunto do eleitorado da cidade, ele teve os vinte e pouco por cento
que as pesquisas estavam indicando. A base das pesquisas não é aquela do
voto válido no dia da eleição. Agora, que houve um nicho de movimentos
que as pesquisas identificaram nos índices de desistência do Russomanno,
houve. E acabou acontecendo o natural, os dois principais partidos vão
disputar o segundo turno.
Houve
dentro do PT um entendimento de que essa eleição demorou para
esquentar. Isso pode ter ajudado o Russomanno a se manter por mais tempo
na dianteira?
É
provável, mas isso não foi uma peculiaridade dessa eleição. Em geral é
isso que acontece. Não nos esqueçamos que em 2008 até o final do
primeiro turno, parecia que Marta Suplicy e Geraldo Alckmin disputariam o
segundo turno e acabou dando Kassab. Não é a primeira vez que temos uma
eleição municipal que só se resolve nos últimos dias.
Entre Serra e Haddad, podemos apontar o favorito no momento?
Eles
terminaram esse primeiro turno empatados – a diferença de 1 ponto
percentual entre ambos pode ser considerada irrelevante –, e vão para o
segundo turno, cada um com seu capital de largada, seus pontos de
partidas. E com perspectivas diferentes de ganhar eleitores que não
votaram em ninguém ou que votaram em outros candidatos.
O
Serra tem contra ele uma rejeição enorme e acaba de ter o pior
desempenho da carreira política dele na cidade. Quer dizer que ele vai
perder? Não. Mas ele começa o segundo turno na pior posição, de todas as
outras eleições que já disputou, pelo tamanho da rejeição que tem.
A essa altura, sendo um político tão conhecido, há alguma coisa que ele possa fazer para reverter essa rejeição?
A
única coisa que ele pode fazer é isso que ele começou a fazer ontem,
que foi deixar claro como será a campanha dele. Será insistir na ideia
de que ele é um sujeito ético e moral e que o PT é um partido corrupto
como está sendo mostrado no julgamento do mensalão. Este é o único
argumento que ele tem. Se vai funcionar, não sei.
A
essa altura ele não tem mais argumentos. Ele vai falar disso todo santo
dia até a eleição. E vai contar com o endosso de alguns órgãos de
imprensa, que definitivamente não gostam do PT e que darão a ele
argumentos para investir neste único argumento.
Numa
cidade que se divide entre uma parte do eleitorado mais próximo ao PT e
outra parte mais alinhada com candidatos mais conservadores, esse
discurso também não acaba sendo limitado?
Sim.
Esse discurso leva em consideração que o que Serra chama de valores
morais é o critério primordial para definir a opção do eleitor. E leva
em conta também que a imensa da maioria das pessoas não tem uma opinião
tão elevada sobre a moralidade do “outro lado”.
Esse
argumento vai apenas dizer as mesmas coisas para pessoas que já têm
esse pensamento. Sinceramente, não acredito que isso faça com que as
pessoas ignorem toda a possibilidade de questionamento sobre a sua
biografia. Nós estamos sentindo o eleitor dizendo que há um lado “limpo”
e um outro lado “sujo”.
Ainda
há possibilidade de transferência de popularidade de Lula e Dilma para o
Haddad para ir ao segundo turno ou esse fator já está esgotado a essa
altura?
Acho
que já está sim. Não me parece que isso possa adicionar mais votos ao
candidato hoje. Não creio que seja um diferencial a ser decisivo no
segundo turno. Esse entendimento é geral.
E o que Haddad ainda pode apresentar para conquistar a preferência do eleitorado?
Ele
ainda continua pouco conhecido por um percentual importante da
população. Ele deve continuar seu esforço para apresentar suas
propostas, porque ele tem um potencial de crescimento em relação ao
Serra muito maior, obviamente.
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