Por
Marcelo Migliaccio, do Blog Rio Acima
Em 1982, Lysâneas Maciel, candidato do PT ao
governo do Rio, teve pouco mais de 150 mil votos. A eleição acabou vencida Por
Leonel Brizola depois de desbaratada a tentativa de fraude da empresa
Proconsult na contagem de votos. O esquema, que incluía divulgação de números
manipulados na emissora líder de audiência. daria a vitória ao candidato
Moreira Franco, do PDS, braço político da moribunda ditadura militar,
acabou fortalecendo as correntes oposicionistas do estado.
A vitória de Brizola deixou esperançosos os cariocas de esquerda. De fato, o Rio elegeu bancadas significativas de oposição ao governo federal mas, depois do próprio Brizola, considerado por muitos um caudilho centralizador, um líder carismático que não contribuía para organização das massas, nunca mais o estado apresentou uma liderança esquerdista de projeção nacional.
Boa parte daquela geração que votou pela primeira vez em 82 permanece fiel ao ideário esquerdista até hoje. É fácil identificar entre os cariocas de cerca de 50 anos muitos que agora se opõem ao golpe jurídico-midiático-legislativo que afastou Dilma Rousseff da Presidência. Esse eleitorado, no entanto, sente-se órfão. Não há no Rio uma única liderança da envergadura de Lula, Eduardo Suplicy, Fernando Haddad, para citar expoentes da esquerda paulista, ou do gaúcho Olívio Dutra, por exemplo.
Tem sido difícil até mesmo nas eleições para a prefeitura da capital e para o governo do estado do Rio apostar num candidato de esquerda que tenha chances de vitória. O PMDB de Sergio Cabral e Eduardo Paes instalou-se nos mais altos cargos executivos há décadas, mantendo a tradição que vem do velho MDB do cacique Chagas Freitas. Esse reinado peemedebista, avalizado incondicionalmente pela emissora líder de audiência, só foi interrompido por Brizola, duas vezes, e por Anthony Garotinho e sua mulher Rosinha. Apesar de não alinhado com a Globo, o casal Garotinho, no entanto, sempre foi visto com muita desconfiança pelo eleitorado esquerdista do Rio.
Os líderes sindicais fluminenses nunca alcançaram a projeção nacional de um Jair Menegheli, da CUT. Quem prometia muito era Juarez Antunes, o sindicalista da Companhia Siderúrgica Nacional que virou deputado federal e depois prefeito de Volta Redonda. Em 1989, no entanto, ele morreu num acidente de carro suspeito, parecido com o que matou o ex-presidente Juscelino Kubictheck, este, como Antunes, um desafeto da ditadura militar.
Talvez como reflexo dessa falta de líderes expressivos, a geração cinquentona carioca raramente encontrou eco nas suas pregações esquerdistas. Em geral, seus conterrâneos pouco ou nada politizados nunca foram receptivos ao proselitismo político. Segmentos consideráveis da classe média chegam mesmo a repudiar o assunto nas rodinhas de conversa. Mulher e futebol sempre foram temas mais atrativos para os cariocas em geral. O nicho esquerdista do Rio já até se acostumou a ficar falando para as paredes.
A aversão à política de boa parte da população fluminense pode explicar em parte as bancadas conservadoríssimas eleitas pelo estado nos últimos pleitos para a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Mandamos para Brasília muitos evangélicos, muitos pára-quedistas turbinados por esquemas de propaganda milionários, como o atual candidato de Paes à prefeitura, Pedro Paulo, o empresário Julio Lopes, o cacique interiorano Pezão e outras figuras com muito poder econômico por trás mas de estatura política insignificante até mesmo para o discurso de direita, que nunca demandou muita elaboração. Isso sem falar nos Bolsonaros e Wagner Montes da vida... Por incrível que pareça, no estado tido por muitos como o mais vanguardista da federação, o voto de cabresto ainda funciona, e muito.
Fora Brizola, chegaram ao poder no Rio o socialista Saturnino Braga, que faliu por não conseguir administrar uma prefeitura sitiada economicamente, e Benedita da Silva, que careceu de estofo para ir além do bordão "mulher, negra e favelada". Fernando Gabeira chegou a ser bem votado em algumas eleições proporcionais mas, quando tentou cargos majoritários e abandonou o discurso pró-legalização da maconha, perdeu seus eleitores mais fiéis. Não conquistou o voto conservador como queria e acabou bandeando-se para a direita de vez. Hoje, não passa de mais um colunista a integrar o coro reacionário nas páginas do jornal O Globo.
Muitos eleitores fluminenses, principalmente os mais jovens, apostam agora em Marcelo Freixo, deputado estadual atuante e identificado com as causas populares. Porém, ainda lhe falta punch, falta falar grosso, comprar um bom barulho nacional, bater de frente contra o status quo. Quem faz isso muito bem é Jandira Feghali, fiel escudeira de Dilma a desempenhar papel corajoso no combate ao golpe que levou Michel Temer ao poder. É Jandira, hoje, a mais importante liderança de esquerda do Rio.
Novamente, a esperança de renovação parece depositada nos movimentos estudantis. Foi deles que saiu o senador Lindberg Farias, do PT, também, como Jandira, vigoroso combatente da legalidade do mandato de Dilma. Foi prefeito de Nova Iguaçu por duas vezes, escapou ileso até agora da avalanche denuncista em relação a seus mandatos mas fracassou na última eleição para o governo do Rio.
Quem sabe, dessa garotada que hoje ocupa escolas protestando contra a falência financeira e a incompetência administrativa do governo do Rio surjam lideranças de esquerda capazes de inflamar a parte do eleitorado daqui que tanto se ressente de representantes. É esperar para ver e torcer para que o entusiasmo juvenil não se perca pelo caminho. O Rio não vai aguentar muito tempo com essa turma braba dando as cartas.
A vitória de Brizola deixou esperançosos os cariocas de esquerda. De fato, o Rio elegeu bancadas significativas de oposição ao governo federal mas, depois do próprio Brizola, considerado por muitos um caudilho centralizador, um líder carismático que não contribuía para organização das massas, nunca mais o estado apresentou uma liderança esquerdista de projeção nacional.
Boa parte daquela geração que votou pela primeira vez em 82 permanece fiel ao ideário esquerdista até hoje. É fácil identificar entre os cariocas de cerca de 50 anos muitos que agora se opõem ao golpe jurídico-midiático-legislativo que afastou Dilma Rousseff da Presidência. Esse eleitorado, no entanto, sente-se órfão. Não há no Rio uma única liderança da envergadura de Lula, Eduardo Suplicy, Fernando Haddad, para citar expoentes da esquerda paulista, ou do gaúcho Olívio Dutra, por exemplo.
Tem sido difícil até mesmo nas eleições para a prefeitura da capital e para o governo do estado do Rio apostar num candidato de esquerda que tenha chances de vitória. O PMDB de Sergio Cabral e Eduardo Paes instalou-se nos mais altos cargos executivos há décadas, mantendo a tradição que vem do velho MDB do cacique Chagas Freitas. Esse reinado peemedebista, avalizado incondicionalmente pela emissora líder de audiência, só foi interrompido por Brizola, duas vezes, e por Anthony Garotinho e sua mulher Rosinha. Apesar de não alinhado com a Globo, o casal Garotinho, no entanto, sempre foi visto com muita desconfiança pelo eleitorado esquerdista do Rio.
Os líderes sindicais fluminenses nunca alcançaram a projeção nacional de um Jair Menegheli, da CUT. Quem prometia muito era Juarez Antunes, o sindicalista da Companhia Siderúrgica Nacional que virou deputado federal e depois prefeito de Volta Redonda. Em 1989, no entanto, ele morreu num acidente de carro suspeito, parecido com o que matou o ex-presidente Juscelino Kubictheck, este, como Antunes, um desafeto da ditadura militar.
Talvez como reflexo dessa falta de líderes expressivos, a geração cinquentona carioca raramente encontrou eco nas suas pregações esquerdistas. Em geral, seus conterrâneos pouco ou nada politizados nunca foram receptivos ao proselitismo político. Segmentos consideráveis da classe média chegam mesmo a repudiar o assunto nas rodinhas de conversa. Mulher e futebol sempre foram temas mais atrativos para os cariocas em geral. O nicho esquerdista do Rio já até se acostumou a ficar falando para as paredes.
A aversão à política de boa parte da população fluminense pode explicar em parte as bancadas conservadoríssimas eleitas pelo estado nos últimos pleitos para a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Mandamos para Brasília muitos evangélicos, muitos pára-quedistas turbinados por esquemas de propaganda milionários, como o atual candidato de Paes à prefeitura, Pedro Paulo, o empresário Julio Lopes, o cacique interiorano Pezão e outras figuras com muito poder econômico por trás mas de estatura política insignificante até mesmo para o discurso de direita, que nunca demandou muita elaboração. Isso sem falar nos Bolsonaros e Wagner Montes da vida... Por incrível que pareça, no estado tido por muitos como o mais vanguardista da federação, o voto de cabresto ainda funciona, e muito.
Fora Brizola, chegaram ao poder no Rio o socialista Saturnino Braga, que faliu por não conseguir administrar uma prefeitura sitiada economicamente, e Benedita da Silva, que careceu de estofo para ir além do bordão "mulher, negra e favelada". Fernando Gabeira chegou a ser bem votado em algumas eleições proporcionais mas, quando tentou cargos majoritários e abandonou o discurso pró-legalização da maconha, perdeu seus eleitores mais fiéis. Não conquistou o voto conservador como queria e acabou bandeando-se para a direita de vez. Hoje, não passa de mais um colunista a integrar o coro reacionário nas páginas do jornal O Globo.
Muitos eleitores fluminenses, principalmente os mais jovens, apostam agora em Marcelo Freixo, deputado estadual atuante e identificado com as causas populares. Porém, ainda lhe falta punch, falta falar grosso, comprar um bom barulho nacional, bater de frente contra o status quo. Quem faz isso muito bem é Jandira Feghali, fiel escudeira de Dilma a desempenhar papel corajoso no combate ao golpe que levou Michel Temer ao poder. É Jandira, hoje, a mais importante liderança de esquerda do Rio.
Novamente, a esperança de renovação parece depositada nos movimentos estudantis. Foi deles que saiu o senador Lindberg Farias, do PT, também, como Jandira, vigoroso combatente da legalidade do mandato de Dilma. Foi prefeito de Nova Iguaçu por duas vezes, escapou ileso até agora da avalanche denuncista em relação a seus mandatos mas fracassou na última eleição para o governo do Rio.
Quem sabe, dessa garotada que hoje ocupa escolas protestando contra a falência financeira e a incompetência administrativa do governo do Rio surjam lideranças de esquerda capazes de inflamar a parte do eleitorado daqui que tanto se ressente de representantes. É esperar para ver e torcer para que o entusiasmo juvenil não se perca pelo caminho. O Rio não vai aguentar muito tempo com essa turma braba dando as cartas.
7 comentários:
Ótimo texto. Davis, já conhecia o Marcelo Migliaccio e seu blog desde quando ele tinha um blog no JB, onde você também escrevia. Considero que este artigo do Migliaccio faz análise fundamentada sobre a política fluminense e carioca. Ele tem razão. O povo carioca está mais conservador e intolerante, sem generalizar, é claro. Eu também percebi isto, ao ver pelas televisões os movimentos reacionários dos coxinhas, uns mesquinhos perversos lamentáveis. Valeu por você publicar texto tão informativo e que nos ajuda a compreender melhor a política do Rio de Janeiro, um estado tão importante e a mudança político para o lado conservador e direitista dos cariocas. Abraço.
Dunga demitido da seleção! Pode começar a chorar, Davis Sena Filho. Mais uma derrota sua...kkkkk
Péssimo texto. Davis, já conhecia o Marcelo Migliaccio e seu blog quando ele tinha um blog no JB, onde você também escrevia e foi dispensado. Considero que este artigo do Migliaccio não faz análise fundamentada alguma sobre a política fluminense e carioca. Ele não tem razão. O povo carioca está mais esquerdista e petralha do que nunca, vide bizarrices como o patético "não vai ter golpe". Eu também percebi isto, ao ver pelas ruas, boçais como o meu irmão mau Paulo Blanc apoiando políticos corruptos de esquerda. Não valeu por você publicar um texto tão desinformativo e que nos atrapalha a compreender melhor a política do Rio de Janeiro, um estado tão importante e a mudança política para o lado petralha e esquerdista dos cariocas. Abraço
Jorge Marcelo, um canalha convicto. Morre de ódio por quem pensa diferente dele. É tao obsessivo e autoritário que não conforma com o que não cabe em seu pensamento tacanho e fascista. Jorge Marcelo, fica a sugestão: suba num prédio de 40 andares e se jogue. Com este gesto você fará pela primeira vez nesta sua vidinha de merda e repleta de fracassos um bem para a humanidade.
Ótimo o artigo do Marcelo Migliaccio. Concordo, mas gostaria de acrescentar que o trabalhismo carioca e a ascensão do PT na década de 1980 prejudicou as duas correntes, que são parecidas em muitas coisas, mas divergem quanto a forma de ver a sociedade e efetivar seus programas de inclusão social. O trabalhismo no Rio praticamente desapareceu com a morte do Brizola e o PT não teve condições de ocupar o espaço vago, até porque, por causa de São Paulo, o PT no Rio, apesar de importante, nunca cresceu como deveria. Valeu, Migliaccio. Muito bom vê-lo no blog do Davis Sena Filho.
Hehehehehe! Eu não sabia que cachorro falava, mas sei que o cretino do Jorge Marcelo, um ser "cafajestal" possui um QI bem menor do que o de um chimpanzé.
Excelente post. De fato o assunto preferido do homem carioca é mulher e futebol. Também por isto e por conta , dentre inúmeros exemplos, do topless que não pegou por intimidação masculina (fico pasmado!) nas areias cariocas, no evento Toplessaço , em 2013, que foi intimidador para as poucas mulheres presentes, inclusive para a idealizadora do evento, o rio é conservador. Concordo com o historiador Luiz Antonio Simas, de que o Rio não é progressista como muitos gostariam e que ainda levará algum tempo para essa ideia se sobrepor a nossa cultura machista e conservadora. A Jandira , o Freixo , o Jean Wyllys e o Lindberg, ainda têm a minha consideração, com ressalvas rs.
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