Por
Davis Sena Filho -- Palavra Livre
“Obviamente, esses meios de comunicação estão
fazendo de fato a posição oposicionista deste País, já que a oposição está
profundamente fragilizada”. (Judith Brito, ex-presidente da Associação Nacional
de Jornais/ANJ e executiva do Grupo Folha de São Paulo, em 18 de março de 2010)
“A imprensa brasileira sempre foi canalha. A televisão já nasceu pusilânime”. (Millôr Fernandes)
Há 35 anos lido com o jornalismo — a partir de
1981. Formei-me na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em meados da
década de 1980. Naquele tempo eu via a imprensa, a chamada “grande” imprensa
como um instrumento de proteção da sociedade, além de considerá-la, apesar de
pertencer à iniciativa privada e comercial, entidade democrática disposta a
defender as liberdades de pensamento, de expressão, com o propósito de apoiar,
por exemplo, ações que efetivassem a distribuição de renda, de terras, enfim,
das riquezas produzidas pelos trabalhadores e acumuladas pelos empresários
deste imenso País injusto.
Eu era jovem, inexperiente e, além disso, era
adolescente nos idos de 1970, sendo que os primeiros anos de minha vida adulta
ocorreram no fim da principal década dos anos de chumbo. No País não existia
liberdade democrática, havia a censura, agora imposta pelos empresários donos
de jornais, seus empregados de confiança e não mais pelos generais. As pessoas
não falavam de política no dia a dia, em seus trabalhos, escolas, lazeres e
entretenimentos, o que dificultava ainda mais perceber e compreender os reais
interesses da imprensa empresarial, bem como se movimentava politicamente o
regime ditatorial. Era um silêncio só...
Como me formei na metade da década de 1980, cujo
quinto presidente militar da República era o general João Figueiredo, via a
imprensa naquele época como um segmento que lutava em favor de uma sociedade
que se tornasse justa, democrática e livre, ou seja, civilizada. Processo este
que somente acontece por intermédio da implementação constante de justiça
social, igualdade de oportunidades e combate sistemático às desigualdades
sociais e regionais, por intermédio de políticas públicas estruturalistas e
desenvolvimentistas, no que concerne à infraestrutura do País, e
distributivistas, no que é relativo ao lucro, às terras, enfim, aos meios de
produção.
Naquele tempo, o Brasil vivia em um regime de
força, que teve seu auge nos idos de 1968 a 1978, cuja imprensa, recém livre da
censura, que “terminou”, oficialmente, em 1978 por determinação do general-presidente
Ernesto Geisel, era vista por mim, jovem jornalista da década de 1980, como um
instrumento de resistência aos que transformaram a República brasileira em uma
ditadura militar, com a aquiescência e o apoio financeiro e logístico de
influentes segmentos econômicos da sociedade civil, que viram na ascensão dos
militares ao poder como uma forma também de aumentar seus lucros e ter seus
interesses empresariais e políticos atendidos.
Envolvidos até a medula com o golpe armado, os
coronéis midiáticos não pagaram o preço por serem golpistas, porque se
livraram, em parte, de serem alvos de quaisquer questionamentos, já que havia a
censura e a oposição partidária à ditadura se encontrava em um momento muito
duro de perseguição e repressão política, sem voz ativa para ser ouvida,
inclusive pela imprensa burguesa que, por ser comercial, bem como o braço
ideológico das elites econômicas brasileiras, aliou-se aos novos donos do
poder. Os magnatas bilionários de imprensa e de todas as mídias cruzadas e
monopolizadas aderiram ao golpe desde a primeira ordem e hora.
O jornalista minimamente alfabetizado, experiente e
informado, independente de sua formação cultural, política e ideológica,
independente de sua influência profissional e de seu contracheque, sabe (ou
finge não saber) que os proprietários da imprensa privada e de tradição
golpista são megaempresários, inquilinos do pico da pirâmide social mundial e
pontas de lanças dos interesses do grande capital. A imprensa burguesa censura
a si mesma, quando considera que os interesses empresariais estão a ser
contrariados.
E foi, indubitavelmente, que os empresários
midiáticos e inquilinos influentes da casa grande fizeram: autocensuraram-se.
Se você duvida, pergunte ao general Geisel, que certa vez comentou sobre esta
conduta dos magnatas bilionários, que, mesmo na democracia, censuram seus adversários,
como fizeram com as ações governamentais de Lula e Dilma, a jamais mostrar,
porque censuradas, as conquistas econômicas, os avanços sociais, bem como ao
que tange às construções de infraestrutura dos governos trabalhistas, a não ser
para combatê-las e desqualificá-las, porque a intenção é ter vantagem política,
assim como ajudar seus aliados, no caso da imprensa empresarial, os políticos
do PSDB.
Efetivam tal procedimento político e ideológico de
maneira rotineira, ordinária e expurgam de seus quadros aqueles que não se unem
ao pensamento único do Partido da Imprensa, que é o de repercutir, disseminar,
ou seja, propagar aos quatro cantos que não há salvação fora do mercado de
ações, dos jogos bancários, da especulação imobiliária, financeira e da
pasteurização das ideias, geralmente difundidas pelos doutores, mestres e
professores das universidades e dos órgãos de supremacia e de espoliação
internacional, como o BID, o Bird, o FED, a ONU, a OEA, a OTAN, o FMI, a OMC e
a OMS, dentre outros, inclusive os de atuação nacional, a exemplo de Febraban, Fiesp,
Firjan, CNA, CNI, CNC, dentre outros, que, a despeito de suas importâncias para
a sociedade, são entidades, órgãos e instituições de supremacia social e
econômica, de perfis conservadores e que tratam de cuidar do establishment para
manter o status quo intacto perante a grande maioria da população brasileira e
mundial.
Paralelamente, o Partido da Imprensa elege como
adversários aqueles que contestam o sistema do capital como ele o é, ou seja,
concentrador de renda, e exigem que ele se democratize no sentido de ele
diminuir as diferenças entre as classes sociais e com isso efetivar uma
equiparação, uma equanimidade entre os indivíduos que compõem o tecido social
das nações que integram o planeta e são vítimas da geopolítica, que na verdade
é a principal ferramenta do apartheid social e econômico entre os países. Os
inimigos da imprensa burguesa geralmente são os políticos que têm uma visão
soberana em relação ao país que administram e acreditam em idéias e ideais que
qualifiquem os homens como iguais.
São políticos que elaboram e adotam
programas distributivistas. São políticos nacionalistas, como os presidentes
estadunidenses, porém sem ser xenófobos, e que lutam pelo desenvolvimento do
país, a fim de conquistar tecnologias e pesquisas científicas próprias, ter o
controle das diferentes energias, além de acreditar em uma diplomacia não
alinhada aos países hegemônicos, com o objetivo de efetivar uma relação de
igual para igual e não subordinada e servil, como muitos jornalistas do Partido
da Imprensa, a soldo de seus patrões, de forma inadvertida e irresponsável
apregoam e desejam.
A imprensa comercial acusa e sentencia, difama e
calunia, dissimula e desinforma e mente se preciso for e se julgar que
determinado governante não vai ler por sua cartilha, que é a mesma dos grandes
conglomerados e trustes internacionais. Porque, como disse anteriormente, a
imprensa é ponta-de-lança dos interesses do sistema capitalista excludente,
além de ser seu braço ideológico. Ela é a vitrine desse modelo expropriador,
useiro e vezeiro em propiciar o infortúnio e a derrota daqueles que ousaram um
dia colocar em prática e até mesmo somente defender a tese, por exemplo, de um
Brasil forte, independente e soberano.
Caro leitor, o que concorda ou não
comigo, a imprensa é necessária e tem de ter liberdade para informar, mas não
deve e não pode tomar partidos, defender grupos e tentar pautar as instituições
republicanas. Ser jornalista não é sinônimo de ser intelectual, dono e juiz da
verdade, infalível ou senhor do poder. Ser jornalista é ouvir e compreender, se
for possível, o pensamento, as idéias, os ideais, as opiniões, as teses, os
projetos, os programas, os propósitos, as atitudes, as ações e até mesmo as
ideologias dos atores sociais, políticos e econômicos.
O jornalista é a ponte que une o ator social e a
informação à população, ao povo, apenas isso e nada mais. Se o jornalista quer
pautar a sociedade e as suas instituições ele já tomou partido, e, como o termo
explicita, partidas serão suas opiniões. Portanto, o mais correto é se filiar a
um partido político, conquanto que não seja, todavia, o Partido da Imprensa,
que não disputa voto e, por ser ousado e não se olhar no espelho, quer fazer da
República Federativa do Brasil seu feudo, conforme sua vontade, fato que foi
provado, reiteradamente, em vários episódios da história do Brasil.
A exemplo das questões relativas à luta pela terra
por parte do MST, nos casos concernentes às reivindicações trabalhistas e
salariais dos trabalhadores dos setores público e privado, nas manifestações
referentes às eleições para presidente, governadores e prefeitos e nas questões
relativas às crises políticas que derrubaram presidentes como Getúlio Vargas e
João Goulart, bem como no episódio que influenciou na derrota do candidato
Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 1989, bem como na
tentativa de golpe contra o presidente Lula em 2005, além de a imprensa
empresarial ter perseguido, incessantemente, políticos da envergadura de
Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, Luís Carlos Prestes, Miguel Arraes e
Ulysses Guimarães, este, o comandante da Constituinte, muito menos palatável ao
Partido da Imprensa e aos militares do que Tancredo Neves.
O Partido da Imprensa combate tudo aquilo que possa
dividir as riquezas deste País, no que tange à redistribuição de renda. Quase
todos os programas sociais e econômicos apresentados no Brasil não tiveram o
apoio da imprensa hegemônica. Além do mais, a imprensa combateu e combate
ferozmente as políticas públicas independentes e desenvolvimentistas executadas
por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Luiz Inácio Lula da
Silva e agora, de maneira dura, o governo da presidenta Dilma Rousseff, que foi
criminosamente deposta.
E isto é só o começo. Lembro que o Partido da
Imprensa resolveu recrudescer seus ataques à Dilma quando ele desistiu,
totalmente, de fingir apoio moderadíssimo à governante já nos idos de 2013,
antes das manifestações de junho e das eleições de 2014 vencidas pela política
do PT, para depois, evidentemente, voltar à carga total no que é relativo aos
seus ataques ao Governo Trabalhista, ainda mais quando ficou claro que o candidato
da direita, o tucano Aécio Neves, não reconheceu a vitória de Dilma e fez de
sua derrota uma ferramenta do golpismo para desestabilizar a democracia e as
instituições republicanas.
Para se ter ideia da desfaçatez e do poder de
destruição do Partido da Imprensa, necessário se torna saber quem ele é e com
quem a sociedade está a se meter: Tal consórcio midiático privado se
transformou no estado dentro do estado, porque, dentre outras coisas, vive da
captação do dinheiro público. É tão poderoso e nefasto que combateu a criação da
Petrobras, da Vale do Rio Doce, da CSN e das leis trabalhistas — a CLT. Em
compensação, apoiou as tentativas de golpe em 1932, em 1938 e em 1954/1955,
além de participar dos golpes militares de 1945 (“golpe branco”) e de 1964.
A imprensa alienígena e golpista sempre se aliou
aos partidos conservadores, notadamente com a UDN de Carlos Lacerda, Eduardo
Gomes e Juarez Távora, partido moralista e elitista, que recebia o apoio dos
empresários e de parte da classe média de perfil conservador. Posteriormente, a
UDN mudou a sigla e passou a ser conhecida como Arena no governo militar,
depois PDS para, anos depois, virar PFL que, em 2007, finalmente, passou a se
chamar Democratas — o DEM.
Entretanto, apesar de muitos políticos tucanos terem raízes diferentes das do DEM, é o PSDB, sem sombra de dúvida, o herdeiro da
direitista, reacionária e golpista UDN. Se
duvida, é simples, basta perguntar para o Aécio Neves e seus
correligionários do PSDB, como o José Serra, o Geraldo Alckmin, o Neoliberal I
-- o FHC --, o Carlos Sampaio, o Cássio Cunha Lima, o Aloysio Nunes Ferreira, o
Antonio Anastasia, o Tasso Jereissati, o Álvaro Dias, todos golpistas de proa,
que retiraram as suas já medíocres biografias das lixeiras para jogá-las
diretamente no esgoto da História.
Alguns desses caras pegaram em armas no idos das
décadas de 1960 e 1970 para enfrentar a ditadura, equivocados ou não. Este não
é o mérito da questão. O mérito é como um homem de esquerda se transforma em um
testa de ferro do grande capital e passa a ser o portador de um ódio ideológico
e partidário sem limites, de caráter visceral, como é o caso de José Serra e
principalmente de Aloysio Nunes Ferreira, que era militante ativo da Ação
Libertadora Nacional (ALN), organização guerrilheira comandada por Carlos
Marighella, que foi executado, em São Paulo, dentro de um fusca pelos agentes do
DOPS, em ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, de triste
memória, porque um dos mais violentos e sanguinários torturadores da ditadura civil-militar.
Como a direita histórica brasileira tem no máximo
30% dos votos, tanto que sempre andou a reboque de partidos de centro e de
centro esquerda, o DEM (PFL), por exemplo, aliou-se, em 1989, a Fernando Collor
e a seu minúsculo PRN. Em 1994, teve de se aliar ao PSDB para chegar ao poder,
com seu vice-presidente Marco Maciel, o que foi ratificado nas eleições de
1998. No período Lula, nos anos 2000, a agremiação conservadora continuou como
vagão dos tucanos.
Antes, em 1960, o DEM, que é a UDN, apoiou Jânio
Quadros, que foi eleito presidente pelo pequeno PDC. Todavia, os udenistas não
confiavam em Jânio, considerado um político independente, porque transitava
pelos espaços da direita e da esquerda, o que não agradava os direitistas, que
desde 1930 sonhavam assumir novamente o poder, como nos tempos da República
Café com Leite. Jânio, tal qual o Collor, não “dialogava” com o Congresso.
Como se percebe, o DEM nunca teve força política
para chegar à Presidência da República como partido hegemônico. Enfim, chegou
ao poder em 1964, por meio de um golpe militar que derrubou o presidente
trabalhista João Goulart, eleito constitucionalmente pelo voto direto. Naquele
tempo o vice-presidente era eleito separadamente. Não existia a chapa vinculada.
Todos esses fatos tiveram o apoio do Partido da Imprensa, que é empresarial e
apoia e sempre apoiou políticas econômicas artificiais como o é o
neoliberalismo, que fracassou e hoje até o FMI, guardião desse fracasso, avisa
aos maus navegantes, como ele, que vai modificar seu processo de ajuda, de
coordenação e de fiscalização das políticas públicas, econômicas e financeiras
receitado aos países pobres e em desenvolvimento.
No Brasil, na América Latina, na Ásia e na África
as receitas econômicas e financeiras do Bird e do FMI causaram problemas
sociais tão graves que mesmo os governantes neoliberais dos países dessas
regiões perceberam que não dava para continuar o processo de espoliação desses
povos, sem que seus governos caíssem ou fossem derrubados. Mesmo assim, os
conservadores, os direitistas do mundo empresarial e político, no Brasil
leia-se DEM, Fenaban, Fiesp, agronegócios e, principalmente, Partido da
Imprensa, continuaram a apregoar o que não deu certo, o indefensável e o que
causou dor aos mais pobres, aos mais fracos e aos que não podem se defender.
O Partido da Imprensa, com seus profissionais bem
pagos e com a cabeça feita por Wall Street e pelo Consenso de Washington de
1989, prosseguiram, de forma ridícula, sem ao menos ponderar suas palavras
levianas, pois manipuladoras, a apregoar um modelo econômico verdadeiramente
contrário aos interesses da Nação até que, por intermédio de eleições, os
defensores dessa política econômica burra e nefasta foram afastados do poder,
tanto no Brasil quanto em muitos outros países.
Não se compreende, até hoje, o que leva algumas
elites a fazer gol contra. Mas se compreende que, ao contrário do que afirmam
os gurus do capitalismo de mercado que estabelecem regras somente para os mais
pobres e os mais fracos e dizem se preocupar em assegurar a efetivação de um
estado de bem-estar social, que dignifique a pessoa humana, sabemos que o que
importa à grande imprensa e a direita política do planeta é perpetuar os
privilégios daqueles que fazem parte de sua classe social — os ricos e os muito
ricos.
Há uma espécie de seres humanos que dá pena. Acha
que riqueza é genética, é biologia. Quando na verdade a riqueza é um processo
que envolve milhões, quiçá bilhões de pessoas que a produz. Não é uma questão
biológica. É uma questão econômica e financeira que precisa, deve e pode ser
calculada e equacionada no sentido de distribuí-la. Se dinheiro e bens
materiais fossem parte de nossa biologia nasceriam com a gente e seriam conosco
levados ao caixão. Não consigo entender como alguns jornalistas que se
alimentaram adequadamente, que estudaram em boas escolas, que têm capacidade de
discernir se tornaram tão pusilânimes, cínicos, dissimulados, covardes e
mentirosos. Eles são um contra-senso em toda sua essência e a burrice em toda
sua plenitude. Somente alguns advogados atingem a tanta incongruência.
A imprensa é parcial. Sua voz e seus canais de
comunicação pertencem aos que controlam e dominam o mercado de capitais e os
meios de produção, pelo simples fato de a imprensa ser o próprio, o espelho que
reflete a imagem do sistema. Ela traduz os valores e os princípios do modelo
econômico hegemônico. Ela é o principal e o mais importante tentáculo do
sistema capitalista. Ela é a sua alma e a sua voz. Não há poder pleno sem o
apoio da imprensa, para o bem ou para o mal.
Seja qual for o poder, a imprensa não abre mão de
manter os privilégios do segmento empresarial. Ela até compõe, mas ressalta
seus interesses e resguarda os privilégios. Não há hegemonia de uma classe
social sobre as outras sem o controle dos meios de comunicação. E é este
processo, draconiano, que acontece no Brasil e na América Latina.
O acesso da maioria das populações ao crescimento
social e ao desenvolvimento econômico acontece a conta-gotas, milenarmente. No
caso do Brasil, secularmente. É como acontece em jogos de futebol, quando o
time que está a ganhar passa tocar a bola, à espera de o tempo passar, à espera
de o jogo terminar. Os barões da imprensa, como patrões seculares, querem o fim
do jogo e para isso eles precisam pautar os poderes constituídos e, inclusive,
não raramente, questionar cláusulas pétreas da Constituição, como, por exemplo,
os capítulos voltados ao trabalho e aos meios de comunicação.
Meia dúzia de famílias quer o controle total e
irrestrito dos meios de comunicação. Meia dúzia de famílias brasileiras, ao
representar o grande empresariado nacional e internacional, quer a
flexibilização das leis trabalhistas, constituídas pelo estadista Getúlio
Vargas, que se matou em 1954 para não ser derrubado, mais uma vez, pela UDN,
pelos militares, pelo empresariado e pela imprensa. Getúlio teve de se matar
para adiar o golpe militar por dez anos, o que ocorreu em 1964.
Para isso, os barões da imprensa contratam
jornalistas de confiança. Os jornais criticam os cargos de confiança no âmbito
governamental, mas não criticam seus cargos de confiança, pagos a soldos altos,
para que certos profissionais façam o papel de defensores do status quo, do
establishment, razão pela qual talvez tenhamos uma das elites mais cruéis e
alienadas do mundo, totalmente divorciada dos interesses do povo brasileiro, há
mais de cinco séculos. Tudo o que é feito em prol do povo, os homens e as
mulheres de imprensa, os que ocupam cargos de mando, chamam de populismo. Mas
tiveram a insensatez e a ignorância política em defender o neoliberalismo, que
fracassou de forma inapelável e retumbante.
Até mesmo jornalistas considerados experientes como
o Renato Machado e a Renata Vasconcellos, quando eram editores-chefes do “Bom
Dia Brasil” da TV Globo, saudaram, da forma mais imprudente e capciosa
possível, o golpe sofrido, em abril de 2002, pelo presidente constitucional da
Venezuela, Hugo Chávez, que foi absurdamente sequestrado, com o apoio da CIA do
governo de George Walker Bush, o presidente dos Estados Unidos que se
antodenominava o senhor da guerra.
Meu comentário não visa constranger a Renata, que
continua a fazer seu papel no Jornal Nacional, e o Renato Machado, até porque
não o conheço. Citei apenas um fato real, de conhecimento público, notório e
que ficou na memória e na retina de muitos brasileiros, porque a saudação ao
golpe foi incrivelmente surreal, um despropósito. Renato Machado, como a
Renata, tem um perfil político
conservador igual a tantos e outros jornalistas, apenas, talvez até
automaticamente, comemorou a queda e o sequestro, mesmo através da violência,
de um homem como Chávez constituído presidente, pois eleito pela vontade do
povo. Machado simplesmente reflete o desprezo do Partido da Imprensa em relação
aos interesses da sociedade, em relação às determinações e aos desejos da
sociedade civil. Não há nenhuma surpresa. O Partido da Imprensa age assim,
mostra-se assim, só que, muitas vezes, inversamente ao Machado e a Vasconcelos,
apresenta-se de forma dissimulada.
Renato Machado no dia seguinte à sua comemoração em
referência ao golpe contra o presidente venezuelano apareceu visivelmente
constrangido. Acho que ele não tinha dimensionado sua atitude. Sua imagem,
pálida e retraída, como se tivesse levado um grande susto ou uma bronca deveria
ser gravada pelas pessoas alheias ao jornal matutino da TV Globo, com a
finalidade de ser levada às escolas de comunicação para servir de exemplo aos
futuros jornalistas como NÃO se deve proceder ou conduzir sua profissão. Foi
realmente lamentável. Mas não foi uma surpresa.
O Partido da Imprensa trabalha assim. Saímos da
ditadura militar para a ditadura da imprensa e do pensamento único. Igualmente
os meios de comunicação hegemônicos apoiaram o golpe de estado em Honduras, sem
vacilar, inclusive criticaram, com veemência, por intermédio de suas manchetes,
de seus colunistas e comentaristas, a decisão do Governo brasileiro de receber
em sua embaixada o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. Empresários e
militares hondurenhos efetivaram o golpe, com apoio do governo dos Estados
Unidos.
Depois apoiaram o golpe no Paraguai e a queda do
presidente eleito Fernando Lugo. O Paraguai pagou caro. Está fora das decisões
do Mercosul e da Unasul até que sejam efetivadas novas eleições no país
guarani. O Partido da Imprensa aqui no Brasil ficou entusiasmado. Desconfio que
até hoje os próceres da imprensa e seus empregados de confiança estão a brindar
o golpe de estado. Devem sonhar, sobretudo, com o ano de 1964. Saudosamente...
Só que agora o golpe de estado criminoso voltou a acontecer... E no Brasil! A
sétima economia do mundo e País industrializado e poderoso, com um mercado
gigantesco, que atrai os olhares de aves de rapina dos países desenvolvidos,
porque o maior bem do Brasil é, sem dúvida, seu poderoso e rico mercado
interno, com milhões de pessoas ávidas por consumir.
Porém, o Brasil, vergonhosamente e provincianamente,
tem uma "elite" bananeira e de índole e caráter escravagista, que envergonha
de morte à totalidade da sociedade e nos obriga a ficar em uma condição de
"Los macaquitos". Contudo, o golpe espúrio, sórdido, infame e
efetivado por canalhas e cafajestes de toda ordem evidenciou e reiterou que os
verdadeiros cucarachas são os integrantes da casa grande -- os ricos que vivem
a pensar que dinheiro compra civilização e inteligência. Nossa!...
Como são baixos esses golpistas, além de portadores
da cara, da alma e do espírito do Amigo da Onça, vulgo michel temer (o nome de
tal traidor é sempre escrito em minúsculo por se tratar de um pigmeu moral,
político e citadino), que, como um fantoche, está a "liderar" um
governo que cai de poder, pois ocupado por bandidos que respondem por crimes na
Justiça. Se temer cair, seu lugar de destino tem de ser a cadeia. Um golpe de
estado como este em país civilizado seus autores, certamente, seriam presos.
Dentre os muitos erros perpetrados pelos militares,
um dos maiores foi a censura aos meios de comunicação. E por quê? Porque hoje,
no regime democrático, a imprensa se recusa a ser regulamentada como acontece
com outros setores da sociedade e, por que não, do mercado. Ela usa como
argumento que criar, por exemplo, o Conselho Federal de Jornalismo é tentar
censurar a imprensa, o que não é verdade. Criar o Conselho é regulamentar os
meios de comunicação, que não podem deixar de ser fiscalizados, como o são os
juízes, os médicos, os advogados, os professores, os arquitetos e engenheiros,
os economistas, os contadores, os políticos etc. etc., por intermédio de seus
órgãos de classe profissional.
Para evitar a criação do Conselho Federal de
Jornalismo e de uma política que funcione como marco regulatório para os meios
de comunicação, o Partido da Imprensa usa como argumento, há muito tempo surrado,
que tentar regulamentar a imprensa é censurá-la, como ocorreu na ditadura
militar. A verdade é que os barões da imprensa e seus jornalistas de confiança
não querem a democratização dos meios de comunicação, porque não querem
responder, como os outros profissionais, pelos seus erros, muitas vezes
exemplificados em calúnias, difamações, omissões, distorções e manipulações das
informações noticiosas, além da clara intromissão no processo político
brasileiro, ao tomar partido de determinado candidato, geralmente de perfil
conservador e elitista.
Além disso, extinguiram a Lei de Imprensa, sem, no
entanto, criarem instrumentos que a regulamente, como, por exemplo, a Ley dos
Medios aprovada na Argentina e nos países desenvolvidos. Absurdo dos absurdos é
deixar a imprensa de mercado, uma mídia de passado golpista e mercantil sem um
marco regulatório. A presidenta Dilma não pode e não deve deixar de
regulamentar e criar regras para o setor dos meios de comunicação de perfil
empresarial e comprometido com os interesses geopolíticos dos Estados Unidos e
com o grande empresariado nacional e internacional.
Presidentes trabalhistas como o Lula e a Dilma
jamais deveriam vacilar quanto à elaboração e aprovação de uma Ley dos Medios
para o Brasil e o seu povo trabalhador. Trata-se de uma séria imprudência.
Lembremo-nos de Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e do presidente
Lula, todos perseguidos pela imprensa privada, de forma dura e desumana. Dilma
sabe disso e também pagou por tal omissão e negligência. A mandatária
injustamente afastada por um golpe bananeiro, mas violento, fez carreira
política no berço do trabalhismo brasileiro, que é o Estado do Rio Grande do
Sul, e viu o presidente Lula comer o pão que o diabo amassou durante oito anos.
Não é necessário ser um especialista em “assuntos
de imprensa” para perceber que a mídia comercial e privada é um desastre em
relação aos interesses da sociedade. Ditatorial, raivosa, vaidosa e mentirosa,
não mede consequências para fazer do processo político brasileiro uma novela de
má qualidade textual, cujo objetivo é somente a manchete, chamariz comercial
para a imprensa vender e ganhar muito dinheiro, mesmo se for com o linchamento
moral de terceiros, muitos deles, depois comprovado, sem culpa no cartório. Sua
atuação é incompetente, porque, sistematicamente, não tem ouvido nenhuma das
partes implicadas ou envolvidas em quaisquer fatos, mas sim ouvido a si mesma,
por meio de suas deduções e de seu raciocínio ardiloso, intelectualmente
desonesto, que visam confundir o público e assim garantir seus
interesses.
Por tudo isso, o Partido da Imprensa é contra
qualquer criação de órgão que possa acompanhar seus passos, como o Conselho
Federal de Jornalismo e o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Além
do mais, lembro mais uma vez, os barões da imprensa se recusaram a participar
da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro de
2009, que estabelece novo modelo para o setor, que atualmente é um monopólio de
meia dúzia de famílias, que combatem a independência do Brasil, os avanços
sociais do povo brasileiro, bem como sua total emancipação. Instrução e
conhecimento significa liberdade. E liberdade é uma palavra que o status quo
odeia.
O documento elaborado no decorrer do evento,
ressalto novamente, até hoje está à espera para ser efetivado pelos poderes
constituídos para depois se transformar em lei. Os empresários, proprietários
da imprensa e das mídias comerciais, não querem debater e negociar nada. Lutam,
diuturnamente, para que as coisas fiquem como estão, o que não será mais
possível se Dilma Rousseff superar no Senado o golpe bananeiro que a derrubou
do poder.
Além do mais, se Lula ou outro candidato do PT
vencer as eleições de 2018, certamente que alguma coisa vai ter mudar no setor
dos meios de comunicação, porque, aí sim, deixar como as coisas estão seria
realmente uma imprudência que beira à burrice, porque já está mais do que
comprovado que a parafernália montada pelos coronéis das mídias, além de manter
a sociedade brasileira presa a correntes, também serve para depor presidentes
trabalhistas, como ocorreu também com Getúlio Vargas e João Goulart.
A arrogância e a prepotência de meia dúzia de
famílias que controlam os meios de comunicação no Brasil não favorecem a
democratização da imprensa, o que impede que ela, de fato, trabalhe em
benefício do desenvolvimento social do povo brasileiro, em vez de ficar a
distorcer realidades ou criar fatos, muitos deles sem fundamento, mas, contudo,
propositais, pois a finalidade é confundir a sociedade e, consequentemente,
proteger ou concretizar seus interesses e do grande empresariado, geralmente
financeiros e econômicos. Essas atitudes, sobremaneira, prejudicam as
atividades daqueles que são incumbidos pelo povo para administrar os três
poderes.
A imprensa quer falar pelo povo e representá-lo,
mas não disputa eleições e não concorre a cargos públicos. Ela não tem voto. A
imprensa é tão arrogante e ignorante que confunde opinião pública com opinião
publicada. A imprensa publica e opina, por meio de matérias combinadas, de
editoriais, de articulistas e de colunistas. Por isso, sua opinião é publicada.
Ela paga a profissionais para publicar suas opiniões sobre determinado assunto.
Por sua vez, a opinião pública é feita, é realizada
e é concretizada por intermédio do voto. Portanto, o voto é a opinião pública.
Palavra e opinião de jornalista ou de quaisquer outras pessoas que atuam em
outros segmentos é opinião publicada. Não confunda! Então, vamos ver se a
imprensa e o leitor entenderam: 1) jornalista = opinião publicada, que, por
sinal, tem valor. 2) povo = opinião pública = o voto, que, por sinal, tem muito
mais valor, porque tem poder de decisão. Ponto. É isso aí.
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