quinta-feira, 14 de junho de 2012

Agnelo é uma coisa; Perillo é outra coisa; Rollemberg e Cristovam abandonam o governador do DF; e o Gurgel faz oposição ao Governo


 Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre

Cristovam Buarque foi governador do Distrito Federal, e, mesmo no poder, perdeu a reeleição para Joaquim Roriz, em um tempo que teve de enfrentar a virulência do senador cassado, Luiz Estevão, que boicotou seu governo e efetivou o “kit invasão”, dentre outras ilegalidades, a conceder barracas, material de construção, equipamentos como pás e picaretas, além de ceder transporte para que as pessoas invadissem terras públicas do Distrito Federal, em uma clara desobediência às leis, bem como o estabelecimento de uma política sistemática de boicote ao governo do ex-governador Cristovam, que, posteriormente, saiu fisicamente do PT, porque, no fundo, sua alma sempre foi tucana, apesar de estar no PDT, partido da base dos governos dos presidentes Lula e Dilma.

Quando eu trabalhei na Câmara Legislativa do DF, em 1995/1996, testemunhei um episódio lamentável ao tempo que surreal. O então governador Cristovam foi ao Legislativo local quando o deputado distrital Luiz Estevão, em uma distância de uns oito a dez metros começou a gritar para o mandatário, além de ameaçá-lo. Uma estupidez, porque o deputado fez menção de avançar em direção ao governador. Algumas pessoas bloquearam o caminho do político e empresário dono do Grupo OK que, anos depois, seria cassado por ter se envolvido em caso grave de corrupção, juntamente com o juiz Nicolau dos Santos Neto — conhecido como Lalau. Luiz Estevão foi acusado de “desviar” R$ 203 milhões das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo, e até hoje responde a inúmeros processos na Justiça Federal. Solto.

A diretita quer a cabeça de Agnelo, porque sabe que Perillo perdeu a dele há muito tempo

 Cristovam ficou lívido e constrangido com a investida de Luiz Estevão naquele dia, na Câmara. O empresário na época era o maior construtor civil da região Centro-Oeste, a superar, inclusive, o ex-senador Paulo Octávio, que foi vice-governador do governador cassado do DEM, José Roberto Arruda, e que hoje, com o moral baixo e a moral questionada, dedica-se à sua empresa de construção que, ao que parece, atualmente é a maior de Brasília, quiçá do Centro-Oeste brasileiro.

Estevão infernizou, literalmente, o Governo Cristovam, com o apoio da imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), e nunca foi combatido politicamente à altura, porque, em minha opinião, o senador Cristovam Buarque teve medo, foi pusilânime, fraquejou e não tratou de buscar na Justiça, nas polícias e talvez no MPF, no MPDF e na Procuradoria do DF as reparações devidas para proteger o que é público, o que é do público, além do que é ilegal e criminoso, que foram as ações, a conduta e o gangsterismo praticado pelo deputado distrital Luiz Estevão e seus sequazes durante quatro anos, de forma incessante, ao ponto de incomodar, e muito, a sociedade civil brasiliense, que nunca viu o governador ser duro com o Estevão, no sentido de colocá-lo em seu devido lugar.

Depois Cristovam foi ministro da Educação do primeiro Governo Lula. Foi demitido, porque ele considerou que o seu projeto para a educação é o que seria ou deveria ser efetivado pelo presidente mais popular da história do País. No decorrer do pouco tempo que esteve à frente da Pasta, Cristovam não concretizou qualquer projeto ou programa para qualificar ou melhorar o sistema educacional brasileiro. Somente houve retórica e pouca praticidade. Cristovam está para a Educação o que Marina Silva foi para o Meio Ambiente, ou seja, inócuos. Praticamente não se fez nada, porque os dois e, no caso, o Cristovam, consideram-se intelectualizados e ficaram a se envolver com debates intermináveis, além de perder muito tempo com as ONGs, as comunidades universitárias de oposição, que tem agendas completamente antagônicas aos interesses dos governos trabalhistas, que tem pressa para diminuir, e muito, as desigualdades sociais e regionais.

Rollemberg sumiu da CPMI, quer ser governador do DF e abandonou Agnelo

 Fernando Haddad assumiu a Pasta de Cristovam e, dentre muitos projetos concretizados, construiu 214 escolas técnicas e 14 universidades federais, sem esquecermos as muitas extensões, um recorde, que, com o Cristovam, seria impossível. A mesma coisa aconteceu com a Marina Silva em relação ao Carlos Minc, que a substituiu no Ministério do Meio Ambiente e, em apenas dois anos, realizou muito mais do que a tucana verde em seis anos. Quem não acredita, simplesmente entre na blogosfera e pesquise. Está tudo lá.

Rodrigo Rollemberg, senador da República, mediano, e do PSB, começou cedo na política. Porém, seu primeiro mandato foi como suplente de deputado distrital em meados na década de 1990. Suplente do titular, Wasny de Roure, assumiu algumas vezes o mandato. Secretário de Turismo no Governo Cristovam, deputado distrital eleito, em 1998, deputado federal e agora senador, Rodrigo Rollemberg sempre me pareceu dúbio em questões políticas do DF, no que diz respeito às suas alianças e ao seu apoio a governantes considerados de esquerda.

Como membro de um partido de esquerda, o PSB, aliado histórico do PT e do PCdoB, Rodrigo tem se esmerado em fazer oposição àqueles que ele apoia. Sempre quando acontece alguma crise com algum politico do qual ele é aliado, o “socialista” ameaça desembarcar do barco.  É que ele tem feito, reiteradamente, com o governador do DF, Agnelo Queiroz. Rodrigo e Cristovam são aliados e não compartilham de forma compromissada com o programa de governo do PT e de seus aliados, como o PCdoB, em âmbitos federal, estadual e municipal. E sabem por quê? Porque Rodrigo Rollemberg é, antes de tudo, um social democrata e não um socialista ou até mesmo trabalhista. Se ele ingressasse no PSDB, não me surpreenderia. Só não entra porque não tem cabimento, sentido, além do mais ocupa espaço no PSB como cacique e por isso é o principal político do seu partido no DF. Contudo, sua alma política, ideológica é social democrata, jamais socialista. Além disso, os tucanos não estão em um bom momento, e pelo andar da carruagem vão perder ainda muitas eleições.

Dissidente do PT, Cristovam faz oposição ao Governo

 Rodrigo é filho legitimo das burguesias brasiliense e sergipana, o que não é nada de mais e nem o diminui perante as pessoas que ideologicamente pensam como eu. Todavia, nunca foi confiável para importantes segmentos da esquerda do PT, do PCdoB, além dos trabalhistas históricos, que, apesar das tentativas de desconstrução da direita política e de seus porta-vozes na imprensa golpista e nas universidades, nunca abandonaram seus princípios ideológicos e programáticos.

Além do mais, o que é o mais importante — ressalto —, o senador do PSB é candidatíssimo a governador do Distrito Federal, e ter Agnelo Queiroz fora do seu caminho vai lhe dar um espaço enorme no campo da esquerda brasiliense e assim facilitar sua ascensão política e concretizar o seu maior sonho, que é o de ser governador. Por isso e por causa disso, Rodrigo Rollemberg e o seu aliado Cristovam Buarque (político de alma tucana que fez seu ninho na árvore do PDT) abandonaram o governador Agnelo e até agora se eximiram de defendê-lo na CPMI do Cachoeira-Demóstenes-Veja-Globo (este é o nome adequado para a CPMI). E tudo isso porque Rodrigo quer ser governador, e Cristovam quer combater o PT de Lula, que o demitiu e com isso conseguiu ter um adversário político inimigo, rancoroso e ressentido, que se aliou aos tucanos no plenário do Senado e se tornou, tal qual o tucano Álvaro Dias, porta-voz da oposição, “fonte” dos jornalistas da mídia de direita e traidor de sua própria consciência política, se algum dia ele teve uma.

Rodrigo Rollemberg deveria, se ainda não o fez, retirar seus secretários de estado do Governo do DF. E Cristovam deveria procurar analisar sua conduta política, que, para mim, é péssima. Os dois são aliados e sumiram da Comissão que investiga o bicheiro Cachoeira e sua trupe do DEM e do PSDB. Agnelo Queiroz se saiu bem em seu depoimento acontecido ontem na Comissão. Abriu seus sigilos fiscal, bancário e telefônico. “Quem não deve, não teme” — afirmou. Gostei de ouvir a frase. A imprensa golpista e imperialista não gostou. E sabe por que, caro leitor? Porque essa mídia reacionária que está aí não deu destaque à ação do Agnelo em suas manchetes de hoje.

Preferiu destacar a ação do procurador-geral e engavetador-mor, Roberto Gurgel, que entrou com três aberturas de inquérito, uma contra o governador Marconi Perillo (GO) e duas contra Agnelo Queiroz, sendo que uma delas é referente a Agnelo no tempo em que ele era um dos diretores da Anvisa. Logo o Gurgel, aquele que sentou por três anos nos inquéritos da Polícia Federal, que apontam os malfeitos do senador Demóstenes, do Perillo, de deputados e outras autoridades, a maioria do estado de Goiás e de partidos de direita como o PSDB e o DEM. Gurgel deveria depor. O senador Fernando Collor entrou com seis representações contra ele e sua mulher, a procuradora Cláudia Sampaio. Como se vê, Gurgel está onde sempre quis estar, no embate político, que também é jurídico.

Gurgel continua a criar notícias para a imprensa golpista. Ele vai às falas?

 Roberto Gurgel é o Gilmar Mendes da PGR. Quem vai chamar o Gurgel às falas? Esta é a pergunta que não quer calar. É nítido que esse procurador faz oposição política, porque sabe que a CPMI do Cachoeira-Veja-Globo vai abrir a caixa de Pandora do DEM e do PSDB em ano de eleição. É por isso que ele age de uma forma nada republicana, apesar de ser o chefe de uma instituição totalmente e simbolicamente republicana. Gurgel é o Brindeiro do FHC, o presidente neoliberal que vendeu o Brasil e até hoje diz, na maior cara de pau, que estava correto e que o País avançou com a venda, a alienação do patrimônio público do povo brasileiro. A luta vai ser dura para os atores políticos que executam um programa de governo de ordem trabalhista e aprovado por mais de 80% dos brasileiros. Se não fosse a imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), os tucanos e gente como o Gurgel, o Gilmar etc. estariam derrotados há muito tempo. Ou alguém acha que o procurador e o juiz não atuam como políticos, e de direita? É isso aí.

3 comentários:

Alexandre Camargo disse...

Davis, muito bom e elucidativo. A oposição da imprensa e de autoridades como o Gurgel e o Gilmar contra o Governo é uma das coisas mais descabidas que eu vi na vida. A imprensa manipula de tal forma que acho que no fim das contas o Perillo sai como santo, o Agnelo é preso e os jornalistas da Veja e da Época, que é da Globo, como heróis da direita. Um grande abraço.
PS: Tenho lido você também no Portal do Blog da Dilma.

Anônimo disse...

Davis você vem escrevendo otimos textos. A respeito da democratização da educação e da saude gostaria que voce comentasse um pouco como isso pode ocorrer com qualidade, ja que a Medida Provisória assinada por Dilma recentemente decepcionou muito, com congelamento de salarios de professores e redução em 50% do salario dos medicos federais. Esperamos que ela possa voltar atrás, já que as perspectivas são as piores possiveis se isso se mantiver.

Anônimo disse...

Agnelo nomeou e mantém secretários de Estado recomendados por Rollemberg? Estranha atitude. Cristovão amarelou para Luiz Estevão e ainda foi demitido? Pois este não deveria nem ser contratado. Quem o contratou?
Na verdade, meu caro, não há virgens em Brasília, pois até Collor - veja você - questiona um engavetador geral e sua (dele) digníssima esposa.
Melhor é ver o Mengo.
Abraços anônimos
Assinado:
Anônimo