Venezuela: rica, populosa, membro da Opep e com um mercado em expansão |
Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
“A integração da Venezuela ao Mercosul é questão de segurança
da América do Sul, comercial e não
ideológica”. A Venezuela, potência petrolífera, deveria, urgentemente, agora,
ter seu ingresso ao bloco econômico aprovado, porque respeita o jogo
democrático, fato este que, inquestionavelmente, não aconteceu com o Paraguai,
cujos líderes golpistas representam uma elite latifundiária, atrasada, reacionária,
que atende aos interesses dos Estados Unidos, que querem o enfraquecimento do
Mercosul, da Unasul, bem como implantar bases militares na tríplice fronteira
entre o Brasil, o Paraguai e a Argentina, em uma estratégia geopolítica
perigosa à independência dos países do continente e à autodeterminação de seus
povos.
Dito isto, percebo,
por meio da televisão, que Federico Franco, atual presidente do Paraguai, mal
assumiu o poder por intermédio de um golpe (“parlamentar”) de estado e, de
maneira arrogante e autoritária, falou grosso, sem, no entanto, avaliar seu
tamanho no que tange à economia paraguaia, e seu apoio político no que é
relativo à sua influência junto aos líderes sul-americanos reunidos na Unasul e
especificamente aos que compõem o Mercosul. Federico Franco — o político
conservador golpista e testa de ferro do grande empresariado, inclusive dos
brasileiros fazendeiros donos de latifúndios chamados brasiguaios e que comemoraram
o golpe contra Fernando Lugo — em vez de anunciar seu programa de governo e as
ações para pelo menos amenizar as necessidades do povo paraguaio simplesmente
atacou o presidente da Venezuela, o bolivariano Hugo Chávez.
O golpista arrogante
e ideologicamente preconceituoso e provinciano mandou às favas a legalidade
constitucional de seu país e do continente sul-americano e não satisfeito com sua
desfaçatez afirmou que o Paraguai é contra o ingresso da Venezuela no Mercosul.
Ou seja, sua preocupação se resumiu a dar o recado, talvez da CIA ou do Departamento
de Estado dos EUA. Sua prioridade, pelo o que se observa, é barrar o sexto
maior exportador de petróleo de mundo, além de ser o país que tem as maiores
reservas de petróleo comprovadas do planeta estimadas em 297 milhões de barris.
Além disso, o país
bolivariano é originalmente o principal responsável pela criação da Organização
dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A Venezuela, que tem quase 30 milhões
de habitantes, até hoje não conseguiu seu ingresso total no Mercosul, e o
empecilho sempre foi o Paraguai, inclusive no governo de presidente deposto
Fernando Lugo, que, para agradar a direita, sempre bloqueou a entrada de um
país tão rico como a Venezuela no Mercosul. Não dá, realmente, para compreender
a parcimônia do Governo e da diplomacia do Brasil quanto a esse processo. Um
absurdo. O Paraguai não é, no momento, confiável tanto quanto o Chile, a
Colômbia e os governantes que se aliam aos interesses geopolíticos dos EUA e da
burguesia latino americana.
Cristina, Dilma e Mujica anunciaram punição ao Paraguai. Golpe é go |
Os presidentes do Brasil, da Argentina e do Uruguai anunciaram ontem, em
Buenos Aires, que o Paraguai está suspenso das reuniões e decisões de cúpulas
do Mercosul e da Unasul. Nunca, em 21 anos de existência do bloco econômico, um
país tinha sido punido. Contudo, o Paraguai não vai sofrer sanções econômicas
quando deveria. Não é de bom alvitre protelar punições a quem comete crimes constitucionais
e se conduz inconstitucionalmente. A América Latina é useira e vezeira em
cometer grandes equívocos de ordem constitucional, que, indubitavelmente,
atrasaram seu desenvolvimento político, social e econômico.
Recordo que em 2009 depuseram o presidente trabalhista de Honduras
Manuel Zelaya, e agora a América do Sul está a enfrentar o golpe paraguaio. Uma
lástima. Golpe é crime! Crime praticado pela direita que a todo custo quer
perpetuar seus privilégios e cujos interesses são repercutidos, sistematicamente
como um direito legal, pelo sistema midiático burguês, comercial e privado,
que, incessantemente, busca apoio da população, notadamente a parte da classe
média conservadora e despolitizada, que abraça os ideais e os princípios de uma
burguesia poderosa e cruel, que se recusa a distribuir renda e riqueza e luta,
historicamente, para impedir a independência do Brasil e a autonomia de seu
povo. Pior que o colonizador é o colonizado subserviente, que boicota o País,
além de ser possuidor de um gigantesco complexo de vira-lata, que o leva,
inclusive, a ser traidor, como ocorreu no triste ano de 1964.
Tenho observado, portanto, que a integração plena da Venezuela ao
Mercosul se transformou em um processo ideológico, quando na verdade a
integração econômica daquele importante país do norte da América do Sul é uma
questão que diz respeito, e muito, à sobrevivência do próprio bloco, que
precisa de sangue novo e de oxigênio para se concretizar como força econômica e
política da América do Sul perante as maiores economias do mundo, que se aproveitam
de sua riqueza para impor seus interesses, que, geralmente, são antagônicos aos
dos países do continente sul-americano.
As Comissões de Constituição e Justiça
e de Cidadania, da Câmara dos Deputados e do Senado, causam preocupação, porque
alguns de seus membros politizaram e continuam a politizar o ingresso da
Venezuela no Mercosul. Além do mais, a imprensa brasileira, porta-voz dos
interesses dos EUA, diuturnamente defende a desaprovação da Venezuela como sócia
de tão importante bloco econômico para a América do Sul. Sem sombra de dúvida que esse processo
draconiano, insensato e autoritário causa prejuízos ao bom andamento dos
trâmites burocráticos para a integração venezuelana, bem como leva confusão à
sociedade brasileira, o que faz com que importantes setores dela se indisponham
com o Mercosul, que precisa ser sempre fortalecido e não enfraquecido, ainda
mais com a crise europeia e norte-americana que não tem data para terminar.
Espera-se que os membros do Mercosul e
da Unasul sejam sensatos e não façam da Venezuela um alvo para seus interesses
políticos, sejam eles de âmbito mundial ou regional. É salutar que entendamos
que o Brasil e o Mercosul são muito maiores que os interesses políticos
mesquinhos, de paróquia, provincianos e egoístas de certa “elite” política e
empresarial, principalmente os barões da imprensa, que por causa de seus
desarranjos ideológicos preferem a exclusão de um país economicamente poderoso
e geopoliticamente estratégico como a Venezuela. Temos que ser práticos e
cosmopolitas voltados à defesa dos interesses do povo brasileiro e sul-americano,
que espera dos governantes, que determinam e definem a composição dos membros
do Mercosul, bom senso, senso crítico o suficiente para impedir que grupos
econômicos, midiáticos e políticos excluem a Venezuela de um bloco econômico
tão importante para os povos da América do Sul, e por que não, Latina.
Percebo que muitos se alinharam aos interesses
estadunidenses, que oferecia a moribunda Alca como opção para a associação dos
países sul-americanos, no que tange à construção de um bloco econômico de livre
comércio. Acontece que as regras da Alca não coadunavam com as nossas
necessidades e interesses, além de sabermos que os Estados Unidos, como a maior
economia do mundo, controlaria ainda mais os mercados e dominaria os diálogos
realizados em fóruns apropriados, no que concerne à defesa de seus interesses,
como acontece, por exemplo, na Organização Mundial do Comércio — a OMC, órgão
que sempre defendeu os interesses dos países ricos, como sempre o fizeram o FMI
e o Bird.
O Governo e os parlamentares representam
o povo brasileiro e por isso não devem, a meu ver, ficar à mercê do que a
imprensa comercial e privada tem publicado sobre o governo venezuelano, até
porque, ao contrário do que muitos pensam, a sequência de ações e atos
políticos perpetrados pelo presidente Hugo Chávez têm proporcionado, na
verdade, a percepção mundial de que o Mercosul é um bloco de grande
envergadura, que chama a atenção da comunidade internacional, além de projetar
os países sócios em uma escala nunca antes experimentadas por eles.
O Mercosul deu certo, se tornou, apesar dos editoriais da imprensa
corporativa, fórum apropriado para onde devem ir as demandas de todos os países
da América do Sul em um futuro próximo e não apenas de quatro sócios, sendo que
um deles, o Paraguai, em vez de fortalecer o bloco, rema contra a maré por
intermédio de um golpe “parlamentar” de estado, além de ser contra o ingresso
da Venezuela como associada ao Mercosul.
Chávez negocia o ingresso da Venezuela no Mercosul, apesar do Paraguai. |
Além disso, os governos terminam, por mais que demorem no poder. Mas os
países são eternos e a Venezuela é importante demais para ficar fora do
Mercosul, porque alguns governantes, parlamentares e a imprensa de negócios
assim desejam, porque tem interesses contrários ao fortalecimento do Mercosul,
além de se deixarem levar por escaramuças ideológicas, ultrapassadas, que,
absolutamente, não têm primazia em relação à completa integração dos quatro
países membros do bloco junto à Venezuela.
Há de se deixar claro, e ressalto este
fato, que a Venezuela saiu do bloco Andino para aderir ao Mercosul, porque sabe
que não há como a América do Sul negociar de igual para igual com os Estados Unidos
ou com a Comunidade Europeia, China ou Japão sem antes concretizar a união dos
sul-americanos, que tem por objetivo democratizar as relações comerciais e favorecer
o respeito mútuo entre os países desenvolvidos, os poucos desenvolvidos e os
emergentes, como o Brasil e a Argentina, bem como a Venezuela, que tem crescido
quase nove por cento ao ano, além de, praticamente, eliminar o analfabetismo,
principalmente entre as crianças e os jovens.
O relatório do deputado Paulo Maluf
(PP/SP) sobre o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) nº 387/07, que ratifica a
adesão da Venezuela ao Mercosul, foi aprovado
pela CCJC da Câmara dos Deputados, em 2007. O parecer do relator foi favorável
à associação do país ao bloco. Contudo, cinco anos depois a Venezuela ainda não
ingressou plenamente no Mercosul por causa de entraves burocráticos,
campanhas contrárias veiculadas pela
imprensa oligarca e pela conduta dúbia e
nada confiável do Paraguai. Com o golpe de estado no país guarani, os países
membros do Mercosul tem uma oportunidade política de ouro para aceitar o
ingresso da Venezuela no Mercosul, que vai ficar ainda mais fortalecido, bem
como vai favorecer a união mais rápida de outros países da América do Sul. Golpista
tem de ser punido e não falar alto e grosso contra país que respeita o jogo
democrático, que é o caso da Venezuela, apesar da imprensa burguesa mentir e
replicar o contrário.
Os países não podem ficar a perder tempo com filigranas políticas
inúteis, fúteis e muitas vezes levianas. O ingresso da Venezuela é
irreversível. Somente uma questão de tempo. Os governos vão efetivar um acordo,
que tem por finalidade apenas de ganhar tempo, no sentido de serem analisados
os procedimentos para a integração venezuelana ao bloco. De qualquer forma, o
Brasil tem de se posicionar a favor. Questões ideológicas, filosóficas e
políticas não estão acima dos interesses maiores que a adesão de um país
importante como a Venezuela ao bloco sul-americano pode proporcionar. É
ridículo o que certos setores da vida brasileira estão a apregoar, sem nenhum
fundamento racional para que a Venezuela não integre o Mercosul. Não há paz
social se a economia vai mal. Nossos males, praticamente, tem origem de fundo
econômico. Então, basta haver vontade política. A integração das economias
sul-americanas e, por que não, latinoamericanas é o futuro sem volta, porque se
se integrar fosse uma ação ruim, os europeus não se uniriam e nem os Estados
Unidos não fariam pressão e boicotes para que o Mercosul e a Unasul não dessem
certo.
Lembro-lhes que até mesmo a Fiesp e a
CNI são favoráveis à integração da Venezuela ao Mercosul. Os empresários dessa
Federação, os mais poderosos do País, sabem que o mercado venezuelano é forte e
tem muito ainda o que crescer. Afinal, a Venezuela tem uma taxa de crescimento
de quase nove por cento ao ano, tem cerca de 30 milhões de habitantes, é membro
fundador da Opep, por ser grande produtora de petróleo, tem vastos recursos
naturais e está presente em setores como turismo, silvicultura, pesca,
agricultura e pecuária, desenvolve, de forma acelerada, a indústria
manufatureira, que fabrica e oferta produtos como petróleo e seus derivados,
aço, alumínio, fertilizantes, cimento, pneus, veículos a motor, alimentos
processados, bebidas, têxteis, roupas, calçados e artigos de plástico e de
madeira.
Além de tudo isso, a Venezuela tem uma
enorme capacidade para promover o crescimento do setor de energia elétrica,
pois é um país com muitos rios e por isso precisa compor parcerias para
edificar novas hidrelétricas. Não podemos esquecer também a questão da infraestrutura,
que tem como eixo central as rodovias, as ferrovias, os portos e os aeroportos.
As possibilidades de negócios nesses setores são imensas e mesmo com essa
realidade setores brasileiros e sul-americanos reacionários e ideologicamente
de direita ficam a perder tempo com questiúnculas ultrapassadas, que remontam à
Guerra Fria e que não tem mais lugar quando se trata do fortalecimento do
continente da América do Sul perante os interesses de países ricos, nada
confiáveis e com perfil colonizador, imperialista e bélico, como provaram no
decorrer de suas histórias.
A Venezuela tem de integrar o Mercosul.
Não somente a Venezuela, bem como todos os países da América do Sul. Nossos povos
merecem ter acesso a uma vida de melhor qualidade. Nossos povos são sofridos,
mas queremos que, através do tempo, essas realidades cruéis sejam superadas,
para que possamos, em futuro próximo, sermos um continente desenvolvido, onde
todos possam ter oportunidades de crescer e viver bem, até porque não
aguentamos mais ver tanta burrice e insensatez por parte de alguns setores que
são contrários ao desenvolvimento social e econômico da América do Sul e por
isso fazem pressão e boicotam o que, para nós, homens e mulheres sensatos, é o
correto, o justo, o democrático e o mais sábio. O governante do Paraguai tem de
ser punido e entender que a América do Sul mudou. É isso aí.
3 comentários:
Acaba de entrar! Foi aprovado hoje o ingresso da Venezuela no Mercosul! Viva!!!
Saludos
F.Prieto
O relatório do deputado Paulo Maluf (PP/SP) sobre o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) nº 387/07, que ratifica a adesão da Venezuela ao Mercosul, foi aprovado pela CCJC da Câmara dos Deputados, em 2007
Xupa Marta, Erundina e o PT.
Maluf na cabeça
Ô cara, Maluf era o relator, que é escolhido pelos partidos ou pelos membros de uma comissão. Poderia ser outro relator, e se outro fosse de esquerda o relatório também seria aprovado. Maluf é de direita e mesmo assim aprovou, como relator e não como adversário de Marta ou Erundina ou do PT. Não analise política de forma ingênua, simplória e sem fundamento. Não é um Fla X Flu. Você lê um texto informativo e analítico desse e não aproveita nada, e aí retira do texto uma citação a Maluf e que você nem saberia se não fosse meu texto. Quanta bobagem. A grande imprensa se conduz dessa forma, igual a você. Acho que agora você entendeu por que eu questiono a imprensa. Ela faz como você e você acredita nela. Entendeu? Seja mais sábio e aproveite meus textos para a compreensão dos bastidores da política.
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