Uma janela aberta
para o infinito
Constelações de
estrelas.
Planetas.
A lua.
E a Via Láctea.
Debruço-me na janela
mágica.
A brisa da manhã
acaricia meu rosto,
Como mãos de mulher
apaixonada.
A quietude desta
manhã me comove:
Céu azul...
SOL!
Cheiro de Limoeiro.
Um guri corre ao
passar.
Corre descalço, atrás
de uma pandorga.
Só vejo as solas dos
seus pés — empoeiradas.
E reconheço aquela
liberdade...
Somente os meninos a
tem.
As copas das árvores
balançam com preguiça.
É como se nelas
existissem pequenos macacos,
A pular de um lado
para outro, de cima para baixo.
Caem folhas.
Meus olhos as
acompanham até o chão
Ainda umidecidos pelo
orvalho da madrugada.
As folhas caem como a
serem ninadas.
Meu coração percebe a
simplicidade da vida.
Os sobrados começam a
emanar cheiros.
São quase nove horas
da manhã.
Cheiro de feijão.
Cheiro de lingüiça
frita.
De farofa com ovo.
De carne de panela.
De amor...
A adolescente coloca
um laço de fita.
Seus seios
desabrocham, ao tempo, como flor.
Sua respiração é
descompassada.
Energia a fluir pelos
sonhos de menina.
Oro para ela ser
amada.
A janela é como
filme.
A história sem fim.
A aventura vivida por
gerações,
Que são pegas sempre
desprevenidas,
Quando da consciência
da morte.
Ouço gritos...
Um punguista bate a
carteira do homem idoso,
E escapa.
Não da sua
miserabilidade, nem da sua vilania...
Ele foge por falta de
coragem
De comer o pão
amassado pelo diabo.
O velho pragueja.
Sente raiva e medo.
Quer a pena de morte,
Mas não se considera
vilão.
Esbraveja contra o
ladrão,
Mas é homem
acomodado,
E aceita.
Vai para casa e se
deita.
Ele não se esquece de
suplicar a Deus
Por mais alguns dias
de eternidade.
O doce e o amargo.
Davis Sena Filho — BSB,
17/05/1999
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