domingo, 17 de junho de 2012

O olhar através da janela (O doce e o amargo)


ESPAÇO BICO DE PENABlog Palavra Livre


 Uma janela aberta para o infinito
Constelações de estrelas.
Planetas.
A lua.
E a Via Láctea.

Debruço-me na janela mágica.
A brisa da manhã acaricia meu rosto,
Como mãos de mulher apaixonada.

A quietude desta manhã me comove:
Céu azul...
SOL!
Cheiro de Limoeiro.

Um guri corre ao passar.
Corre descalço, atrás de uma pandorga.
Só vejo as solas dos seus pés — empoeiradas.
E reconheço aquela liberdade...
Somente os meninos a tem.

As copas das árvores balançam com preguiça.
É como se nelas existissem pequenos macacos,
A pular de um lado para outro, de cima para baixo.

Caem folhas.
Meus olhos as acompanham até o chão
Ainda umidecidos pelo orvalho da madrugada.
As folhas caem como a serem ninadas.
Meu coração percebe a simplicidade da vida.

Os sobrados começam a emanar cheiros.
São quase nove horas da manhã.
Cheiro de feijão.
Cheiro de lingüiça frita.
De farofa com ovo.
De carne de panela.
De amor...

A adolescente coloca um laço de fita.
Seus seios desabrocham, ao tempo, como flor.
Sua respiração é descompassada.
Energia a fluir pelos sonhos de menina.
Oro para ela ser amada.

A janela é como filme.
A história sem fim.
A aventura vivida por gerações,
Que são pegas sempre desprevenidas,
Quando da consciência da morte.

Ouço gritos...
Um punguista bate a carteira do homem idoso,
E escapa.
Não da sua miserabilidade, nem da sua vilania...
Ele foge por falta de coragem
De comer o pão amassado pelo diabo.

O velho pragueja.
Sente raiva e medo.
Quer a pena de morte,
Mas não se considera vilão.
Esbraveja contra o ladrão,
Mas é homem acomodado,
E aceita.

Vai para casa e se deita.
Ele não se esquece de suplicar a Deus
Por mais alguns dias de eternidade.

O doce e o amargo.

Davis Sena Filho — BSB, 17/05/1999




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