O que a Veja faz agora, ela fez antes e vai, evidentemente, fazer depois, ou seja, o verdadeiro e autêntico jornalismo de esgoto. (DSFº)
Recordar é viver: pesquisador da PUC, Fábio Jammal Makhoul, confirma que Veja, a
revista porcaria, quer dar golpe de estado no Brasil.
PS: clique AQUI e leia depois O Partido da Imprensa
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A OBSESSÃO DA REVISTA VEJA POR LULA |
De Juliana Sada, estudo publicado em 31/8/2010.
O estudo foi divulgado antes de o escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira vir à tona. Como todos sabemos, a Veja, a revista emporcalhada, era sócia do bicheiro, que era seu principal pauteiro para boicotar e derrubar govenos e autoridades constituídos. (DSFº)
Criada em setembro de 1968, a revista Veja é a publicação
semanal brasileira de maior tiragem, teoricamente com cerca de 1,2
milhão de exemplares. Criada por Mino Carta, atualmente diretor de
redação da CartaCapital, e Victor Civita – estadunidense filho
de italianos, fundador do Grupo Abril –, a revista foi por um longo
período paradigma para o jornalismo brasileiro. Por sua redação,
passaram nomes importantes da profissão e, por suas páginas, grandes
personagens da história, dentre seus entrevistados estão Vinícius de
Moraes, Yasser Arafat, Salvador Dalí, Tarsila do Amaral e Sérgio Buarque
de Holanda.
Mas, em anos recentes, a revista tornou-se alvo de intensas críticas.
Na internet, disseminam-se pequenas e grandes iniciativas de informação
e contraponto ao tipo de jornalismo feito por lá. Esse mesmo
Escrevinhador denunciou a entrevista que nunca existiu, mas que a revista publicou e mostrou a história do professor que foi alvo de manipulação pelo veículo, além da peculiar análise do semanário sobre a Bolívia.
O jornalista Fábio Jammal Makhoul decidiu debruçar-se sobre a revista Veja
para formular sua tese de mestrado em Ciência Política para a PUC de
São Paulo. A dissertação analisou a publicação durante o primeiro
mandato de Lula, de janeiro de 2003 a dezembro de 2006. Fábio constatou
que houve, de modo deliberado, uma cobertura tendenciosa com o objetivo
de desestabilizar o governo. Os números são impressionantes: “40,6% da
cobertura de Veja sobre o primeiro governo petista noticiou os
escândalos do Planalto e, consequentemente, Lula e o PT de forma
negativa”. O governo ocupou “54 capas de Veja, das 206 publicadas no período”, destas “32 tratavam de ‘escândalo’, segundo classificação da própria Veja, ou seja, 59,3% do total”.
Segundo Fábio, esse sistemático ataque levou ao surgimento de
inúmeras críticas que “abalaram a própria revista, que se sentiu na
obrigação de reafirmar sua “imparcialidade e independência” a todo o
tempo em 2005 e 2006”.
O Escrevinhador entrevistou Fábio Jammal Makhoul para expor e debater
seu estudo e o papel desempenhado pela revista. Confira a seguir.
Como surgiu a ideia de estudar a revista Veja?
O principal motivo que me levou a pesquisar a revista Veja é jornalístico. A degradação do jornalismo da revista nos últimos anos foi assustadora. Veja
é a maior revista semanal de informação do Brasil, com tiragem superior
a 1,2 milhão de exemplares. Um número muito maior que o das demais
publicações do segmento. Veja é a quarta maior revista de
informação do mundo e seu jornalismo já foi referência para toda mídia
impressa brasileira. Mas, nos últimos anos, o semanário também se
transformou no maior fenômeno de antijornalismo do País.
De 2005 para
cá, a revista se perdeu completamente em reportagens baseadas em ilações
e xingamentos, que ignoraram as regras mais básicas do jornalismo e
rasgaram todos os códigos de ética da profissão. Virou um verdadeiro
pasquim, com matérias que se revelaram fantasiosas e recheadas de
ataques e manipulações da informação. Isso não quer dizer que o PT e o
governo Lula sejam os bonzinhos da história e nem as vítimas da grande
imprensa.
Pelo contrário, houve erros gravíssimos na administração
federal, que precisavam ser apurados e divulgados pela mídia.
Entretanto, o jornalismo da grande imprensa conseguiu ser mais antiético
que os próprios políticos que eram acusados, com erros grosseiros que
comprometeram a imagem desses veículos, principalmente a da revista Veja, que foi a mais engajada na tentativa frustrada de derrubar o presidente da República em 2005 e 2006.
Muito se fala sobre cobertura parcial da Veja. Por meio de sua pesquisa, foi possível constatar a veracidade dessas observações?
Sim, e nem precisava de uma pesquisa acadêmica ou mais aprofundada. Basta uma leitura simples da revista para constatar que Veja
tem um lado quando o assunto é política. Hoje temos uma bipolarização
partidária no Brasil, com PT e PSDB monopolizando a disputa eleitoral. E
a revista Veja está claramente do lado do PSDB e completamente
contra o PT. Se você pesquisar a revista desde o início dos anos de
1980 vai constatar que o Partido dos Trabalhadores e o próprio Lula
nunca tiveram um tratamento positivo nas páginas de Veja.
Essa
história de imparcialidade da imprensa não existe. Os veículos de
comunicação são empresas e têm seus interesses e preferências políticas.
O jornal O Estado de S.Paulo, por exemplo, sempre foi
conservador e nunca escondeu isso. Assumir uma posição ideológica ou
política não é ruim. É até saudável e democrático, os grandes jornais da
Europa e dos Estados Unidos fazem isso. Pelo menos, o leitor sabe
claramente qual é a orientação editorial da publicação.
O problema é
quando se abandona o jornalismo para se transformar num panfleto
político-partidário. E foi o que aconteceu com Veja de 2005
para cá. Nos dois primeiros anos do primeiro mandato de Lula, o
semanário ainda fez jornalismo, mas, ao apostar que poderia derrubar o
presidente da República em 2005, perdeu a aposta e a credibilidade.
Com o
escândalo do “mensalão”, Veja captou o antilulismo e o
antipetismo da chamada classe média que lê a revista e iniciou sua
campanha pelo impeachment do presidente. Só que a questão política
serviu para que Veja se sentisse à vontade para cometer os abusos que quisesse. Uma coisa é a crítica política que se viu no Estadão e em O Globo, por exemplo. Outra coisa é partir para o xingamento, como fez Veja.
Você poderia citar capas e matérias que seguramente continham distorções, inverdades, ataques ou parcialidade?
Há muitos exemplos, principalmente em 2005 e 2006. Uma das capas que
mais me chamou a atenção foi a da edição de 16 de março de 2005. A
revista tentou fabricar uma crise para os petistas, com uma reportagem
que prometia ser “bombástica”. A manchete da capa era: “Tentáculos das
Farc no Brasil”. Em letras menores, a revista diz que “espiões da Abin
gravaram representantes da narcoguerrilha colombiana anunciando doação
de 5 milhões de dólares para candidatos petistas na campanha de 2002”.
A
capa é chamativa, cheia de dólares ao fundo e uma foto do militante
petista que teria recebido dinheiro das Farc. Embora a revista tenha
considerado a reportagem forte o suficiente para ser a capa da edição,
no corpo da matéria há três ressalvas de que o semanário não tinha como
comprovar as acusações. O tema foi repercutido por um mês até sumir das
páginas de Veja. O Ministério Público e o Congresso Nacional
investigaram e não acharam nada e a revista sequer se desmentiu o
publicou o final da história. Capa parecida foi a de 2 de novembro de
2005, que dizia que a campanha de Lula recebeu dólares de Cuba. A
matéria é toda fantasiosa e com denúncias em off que nunca se
confirmaram.
Uma das partes da sua dissertação se intitula “O discurso político das capas”. Você poderia explicitar qual é este discurso?
Nos quatro anos do primeiro mandato de Lula, o governo e o PT foram os principais temas da capa de Veja,
ocupando mais de um quarto das manchetes do período. Com 49 capas
negativas, a revista lançou mão de uma estratégia discursiva que visava
claramente dar a Lula o mesmo destino de Collor: o impeachment. Sem
sucesso neste intento, o semanário passou a trabalhar para evitar a
reeleição do petista. A revista não foi nada sutil em sua estratégia,
pelo contrário, foi arrogante, agressiva, preconceituosa.
O preconceito,
aliás, foi uma das modalizações discursivas contra o governo mais
utilizadas pela publicação, principalmente na capa. Desde o primeiro ano
do mandato, em 2003, a revista procurou tematizar sobre a ética no PT. O
enunciador sempre deixou claro que ela não passava de discurso para
chegar ao poder, mas, assim que os escândalos começaram, Veja
tratou de provar que o PT era pior que os demais partidos neste quesito.
Entre os muitos preconceitos despejados pelo enunciador na capa está a
associação entre o PT e bandidos; de traficantes a assassinos.
A suposta
falta de escolaridade e de atenção dos petistas com a educação também
foram bastante exploradas, sendo que o enunciador não se intimidou para
fazer alusão ao animal burro em diversas ocasiões. O esquerdismo do PT
também foi apresentado negativamente e de forma preconceituosa. Veja
mostrou aos leitores que a máquina pública foi tomada pelos petistas,
que aparelharam o Estado como fizeram os soviéticos. Aliás,
autoritarismo foi outro tema explorado, que procurou mostrar um PT
stalinista e ditador.
A corrupção, entretanto, foi o tema mais explorado
nas capas que retrataram o PT e o governo Lula. Com uma série de
escândalos em pauta, a revista usou uma das estratégias mais
controversas e criticáveis: a comparação entre Lula e Collor.
Comparações são sempre complicadas, mas o enunciador de Veja, posicionado e ideológico, relacionou os dois presidentes de forma simplista e forçada. Com esta modalização discursiva, Veja
pôde finalmente trabalhar pelo impeachment de um Lula sem moral, sem
ética, corrupto, chefe de quadrilha, despreparado e que fez um primeiro
mandato pífio, segundo as capas do semanário. Assim, a revista ousou
também decretar o fim do PT. Errou em todas as apostas.
Para justificar
suas derrotas, Veja encontrou uma explicação baseada e mais
preconceitos. Na edição de 16 de agosto de 2006, quando as pesquisas
apontavam vitória fácil de Lula na disputa pela reeleição, Veja
veiculou uma capa com a foto de uma jovem negra segurando o título de
eleitor. A manchete era: “Ela pode decidir a eleição”. O subtítulo
explica quem é ela: “nordestina, 27 anos, educação média, 450 reais por
mês, Gilmara Cerqueira retrata o eleitor que será o fiel da balança em
outubro”. Ou seja, ela é o retrato do Brasil e não dos leitores da
revista, que são das classes A e B. Para esses, que o enunciador de Veja aposta que sabem votar, resta a resignação, já que os negros, pobres, analfabetos e nordestinos vão decidir as eleições.
Na introdução do seu trabalho, você apresenta a revista Veja como protagonista de escândalos. Ao que você se refere ao chamar a Veja de protagonista?
Podemos dizer que praticamente toda a chamada grande imprensa
aproveitou os erros e desmandos do PT na primeira gestão do Lula para
denegrir a imagem do partido e impedir a reeleição do presidente. Mas a
revista Veja foi protagonista porque foi a mais enfática na
campanha contra os petista e a que mais cometeu erros do ponto de vista
jornalístico. Além disso, suas reportagens serviram tanto para iniciar
um escândalo como para mantê-lo na pauta da mídia. Em muitos momentos,
principalmente durante o escândalo “mensalão”, as reportagens de Veja alimentaram os jornais diários e a própria TV.
Você afirma que “ao todo, Veja publicou 206 edições
entre 1° de janeiro de 2003 e o dia 31 de dezembro de 2006. Neste
período, a revista produziu 621 reportagens sobre o primeiro governo do
PT. Dessas, 252 trataram dos escândalos.” Isso quer dizer que, na média,
havia três matérias sobre o governo por edição e sempre uma sobre algum
escândalo?
Sim, e mesmo quando a matéria não era sobre escândalos, o enfoque que
era dado ao Lula e ao PT era negativo. No meu trabalho deixo claro que o
Partido dos Trabalhadores, uma vez no poder, cometeu uma série de
irregularidades que deveria sim ser apurada e noticiada. Mas a forma com
que a grande imprensa fez a cobertura, principalmente a Veja,
visava apenas derrubar o PT do poder e não denunciar as mazelas do nosso
sistemas político e eleitoral brasileiro, que estão no cerne do
“mensalão” e de vários outros escândalos e que continuaram intactos.
Muitos desses problemas que geram toda sorte de abuso de poder são
antigos e foram mostrados por diversos autores. Talvez o melhor lugar
para se buscar conhecimento sobre o funcionamento da política seja na
obra de Nicolau Maquiavel. Não é à toa que sua bibliografia é chamada de
realismo político. Lá se encontra a pura realidade sobre a política.
Para divagar um pouco, me arrisco a fazer um paralelo entre Maquiavel e o
governo Lula.
O PT sempre empunhou a bandeira da ética e bradou que é
possível ter “pureza” dentro do jogo político e eleitoral brasileiro.
Mas, para chegar ao poder, teve de lançar mão das mesmas práticas que
condenava em outros partidos, assim como fez para governar o país. Um
jornalismo investigativo sério e isento poderia constatar isso e
denunciar de forma séria e isenta. Assim, o PT mostraria o realismo
político, que desnudaria os problemas que assolam nossos sistemas
político e eleitoral.
Uma cobertura sóbria, que não fosse tendenciosa ao
ponto de mostrar que o governo do PSDB sim foi puro, poderia causar uma
indignação suficiente para que o Brasil finalmente fizesse uma reforma
que melhorasse efetivamente os nossos sistemas político e eleitoral. Mas, ao fazer uma cobertura parcial e tendenciosa, o jornalismo chamou
mais a atenção do que os escândalos que noticiava, não contribuindo em
nada com o País.
ANO
|
MATÉRIAS SOBRE O GOVERNO
|
ESCÂNDALOS
|
PERCENTUAL
|
2003
|
109
|
2
|
1,8
|
2004
|
112
|
23
|
20,5
|
2005
|
198
|
122
|
61,6
|
2006
|
202
|
105
|
52
|
TOTAL
|
621
|
252
|
40,6
|
Fonte: Site da revista Veja
As capas analisadas, de 2003 a 2006, seguiram sempre o mesmo
tom ao tratar do PT? É possível delimitar períodos de maiores ofensivas
ou recuos?
Veja só se manteve recuada nos ataques no primeiro ano do mandato de
Lula, 2003. Em 2004, começou sua ofensiva, embora de forma meio tímida.
Mas em 2005 e 2006, Lula e o PT foram os principais temas da capa. Em
2005, das 52 edições, Lula e o PT aparecem de forma negativa em 24
capas, sendo 18 delas classificadas pela própria Veja no tema escândalo. Ou seja, quase a metade das edições abordaram o presidente negativamente. Em 2006, último ano de governo, Veja
publicou 15 capas sobre Lula e o PT, todas desfavoráveis em pleno ano
eleitoral.
Nos quatro anos do primeiro mandato de Lula, o governo e o PT
foram os principais temas da capa de Veja, ocupando mais de um
quarto das manchetes do período. Foram 49 capas negativas, sendo 39 só
em 2005 e 2006. Comparativamente à atuação de governos passados, o
tratamento da imprensa e de Veja à gestão Lula foi muito
desigual. Durante a era tucana, por exemplo, as denúncias contra o
governo federal não tiveram muito destaque.
Em 1997, o presidente
Fernando Henrique Cardoso foi acusado de comprar votos para a aprovação
da emenda que permitiu sua reeleição, havia denúncias sobre as
privatizações e corrupção em vários órgãos ligados ao governo federal,
como a Sudam e a Sudene. Naquele ano, apenas uma capa foi feita sobre as
acusações, com a foto de Sérgio Motta, então ministro-chefe da Casa
Civil, e a chamada da capa era: “Reeleição”.
Já em 2005, com Lula na
presidência, forma dezoito capas sequenciais durante quatro meses de
puro bombardeio. Veja chegou a defender o fim do PT e que isso
seria benéfico para a política brasileira, já que até na oposição sua
atuação foi prejudicial para o país. Veja nunca havia defendido
o fim de nenhum partido e nem usado tantos adjetivos negativos como
usou para falar sobre os petistas.
Em 2006, em pleno período eleitoral, a
revista veiculou cinco capas negativas para o governo, entre 23 de
agosto e 25 de outubro. Isto quer dizer que as capas de metade das
edições de Veja que circularam enquanto as eleições se definiam
eram ruins para Lula. Enquanto isso, Geraldo Alckmin (PSDB), seu
principal adversário, não apareceu negativamente em nenhuma capa de Veja
neste período. Pelo contrário, neste período o candidato do PSDB era
mostrado de maneira positiva. Só no período do segundo turno das
eleições, Lula foi alvo de quatro reportagens de Veja e em
todas elas ele aparece de forma negativa. Já Geraldo Alckmin aparece em
duas matérias neste período. Ambas com abordagens positivas para o
tucano.
As manchetes veiculadas nas capas estavam de acordo com a
reportagem produzida ou havia discrepâncias com o intuito de chamar a
atenção do leitor?
As manchetes eram mais sensacionalistas, mas as reportagens também
seguiam a mesma linha. Ainda assim, é possível perceber muitas
discrepâncias, como aquela capa das Farc que eu já citei. Na capa, Veja
afirma que o PT recebeu dinheiro das Farc e na matéria há três
ressalvas de que o repórter não conseguiu nenhuma prova. Outra capa que
chama a atenção é aquela que eu também citei sobre a nordestina, negra e
pobre que iria decidir a eleição em favor de Lula. O subtítulo diz que
Gilmara Cerqueira tinha 27 anos. Mas na foto é possível observar a data
de seu nascimento no título de eleitor e pode-se ver que ela tinha 30
anos na época e não 27 como rebaixou Veja para enquadrá-la ao
perfil do eleitor médio. Ou seja, vale até mentir a idade da moça para
montar um perfil da qual ela não se enquadra totalmente.
Além das capas, você analisou também os editorais da Veja.
Foi possível encontrar correspondência entre a posição oficial da
revista e o conteúdo por ela produzido, que em tese é independente?
As críticas que a revista Veja recebeu durante o primeiro
governo Lula, principalmente nos dois últimos anos, abalaram a própria
revista, que se sentiu na obrigação de reafirmar sua “imparcialidade e
independência” a todo o tempo em 2005 e 2006. Durante a crise do
“mensalão”, Veja usou a maior parte dos editoriais de junho a
dezembro de 2005 para justificar a matéria da semana anterior e
ratificar seu compromisso com um jornalismo sério. Logo no primeiro
editorial do início da crise do mensalão, em 1º de junho de 2005, Veja
garante que “não escolhe suas reportagens investigativas com base em
preferências partidárias ou ideológicas”. E o curioso é que todos os
editoriais das edições seguintes eram para justificar suas reportagens,
sempre reafirmando uma imparcialidade que não se via nas reportagens.
Você discute o paradigma da imparcialidade e neutralidade no
qual é baseado o discurso dos meios de comunicação entretanto você
apresenta argumentos sobre a inviabilidade destes paradigmas se
concretizarem. A partir da sua pesquisa, é possível concluir se a
parcialidade da revista Veja é fruto de uma política deliberada ou consequência da inviabilidade de se fazer um jornalismo imparcial?
É fruto de uma política deliberada. É claro que é quase impossível
fazer um jornalismo totalmente isento. Mas você pode pelo menos buscar a
isenção, ouvindo os dois lados, dando o mesmo peso para as diferentes
versões e não utilizando adjetivos, por exemplo. Veja nem
tentou ser imparcial, pelo contrário. Ela tinha uma estratégia
discursiva e a seguiu até o fim com um objetivo bem claro: derrubar Lula
da presidência.
Ao se contrapor ao governo Lula e ao PT, a revista Veja apresentava qual projeto para o Brasil apoiava ou qual setor o representava?
A primeira edição após a reeleição de Lula, publicada em 8 de
novembro de 2006, é a que mostra mais claramente a posição da revista. A
matéria de capa defende que é preciso deixar para trás a “visão
tacanha” de que a miséria pode ser superada pelo “princípio bolchevique”
de tirar dos ricos e dar aos pobres. Para Veja, a miséria só
será superada pela produção de riqueza e para isso “o gênio humano não
concebeu nada mais eficiente do que o velho e bom capitalismo, com seus
mercados livres, empreendedores ambiciosos e empresas inovadoras”.
Veja
aconselha Lula a “aposentar para sempre a ideia de palanque de que o
Brasil é como um sobrado – em que só há andar de cima e andar de baixo
e, portanto, o único trabalho é fazer com que todos passem a habitar o
pedaço de cima. Isso é uma interpretação tão tosca da sociedade
brasileira que, na sua estupidez simplificadora, neutraliza o papel
crucial e dinamizador exercido pela classe média”.
Veja diz que falta ao
presidente maior clareza sobre como promover de maneira mais vigorosa
as condições para que a iniciativa privada produza mais conhecimento
tecnológico de ponta, inove mais e multiplique seus índices de
produtividade. E acrescenta: “Para fazer o país avançar, produzir
riqueza e gerar justiça, o presidente Lula tem muitos desafios para
superar – e um deles começa em casa.
O Partido dos Trabalhadores, que se
transformou numa usina de escândalos, divulgou uma nota oficial
cobrando que no novo mandato Lula faça um “governo de esquerda”. Ninguém
sabe exatamente o que isso quer dizer, mas é certo que significa mandar
às favas o equilíbrio fiscal e o controle da inflação em troca de um
crescimento econômico tão duradouro quanto um voo de galinha”. Essa é a
primeira vez na cobertura do governo Lula que Veja assume com
todas as letras que fala em nome das classes mais abastadas e que
defende uma política e um projeto de Estado mais à direita do que
voltados para o social.
Sua intenção é proteger o capital como fica
claro neste texto. Para a revista, é preciso esquecer a ideia de que “o
único trabalho é fazer com que todos passem a habitar o pedaço de cima”.
Ou seja, não interessa colocar os mais pobres no mesmo patamar dos
ricos é preciso “promover de maneira mais vigorosa as condições para que
a iniciativa privada produza mais conhecimento tecnológico de ponta,
inove mais e multiplique seus índices de produtividade”.
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Um comentário:
Ótima entrevista, Davis,. Muito esclarecedora. E o seu artigo O Partido da Imprensa é uma aula sobre oe meios de comunicação deste país.
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