divulgação
Abbas deu um xeque mate ao afirmar na ONU que a Palestina é um estado tal qual a Israel. |
Os países ricos têm de ouvir os países emergentes e
a comunidade internacional. A ONU é uma organização multilateral e dessa forma
tem de atuar e agir. Não é mais cabível a existência de uma ONU pós Segunda
Guerra Mundial e ideologicamente ainda nos tempos da Guerra Fria, com apenas
cinco países a controlar seu Conselho de Segurança, porque tem direito de veto.
Israel tem de ser incluído e se incluir na comunidade
internacional como um país de cooperação social e econômica e não como um
enclave militar dos EUA implantado naquela região desde 1967 quando invadiu e
conquistou territórios, resultado da Guerra dos Seis Dias. Israel tem de
respeitar as leis internacionais. E os EUA tem de reconhecer que surgiram,
principalmente na última década, novos protagonistas na comunidade
internacional, a exemplo dos Brics.
Vou à banca de jornal. São 7h da manhã. A rua onde
moro quase não tem movimento de carros. O bar que fica na esquina, em frente à
banca, está recém a abrir. O proprietário e mais um empregado estão a levantar
as portas de enrolar de aço. Aceno com a cabeça para os trabalhadores e saio da
calçada e atravesso a rua até chegar à banca.
O jornaleiro me cumprimenta e afirma que eu estou
sumido. Dou um sorriso e peço dois jornais. Um do Rio e o outro de São Paulo.
Por ser vascaíno e saber que eu sou rubro-negro, o jornaleiro não perde a
oportunidade para “tirar uma onda”, pois o Vasco da Gama está em quarto lugar,
entre os clubes que podem se classificar para a Libertadores, além de ter a
oportunidade de lutar pelo título do Brasileirão. Enquanto isso, o Flamengo
luta para não ficar no fim da tabela.
Contudo, ao tempo que ouço o cordial jornaleiro
passo os olhos nas manchetes principais dos jornais e percebo que seus editores
chefes e editores de editorias de “Mundo” ou “Internacional” não gostaram nada
de saber que o Brasil reconheceu oficialmente a existência da Palestina na ONU,
apesar de eles saberem que a comunidade internacional está propensa a, enfim,
reconhecer a Palestina, inclusive o governo do País onde eles vivem e ganham a
vida — o Brasil.
Foto de How Hwee Young
Presidentes de Índia, Rússia, China, Brasil e África do Sul participam de encontro em Sanya, na China. |
A imprensa burguesa brasileira, de perfil
neoliberal e fundamentalista, no que concerne ao mercado ser hegemônico,
alinha-se instantaneamente e sem titubear à plutocracia mundial e aos interesses
dos países ricos, os mesmos que, por meio da OTAN, ameaçam e invadem
adversários ou inimigos que se recusam a lerem suas cartilhas, que se resumem
na seguinte frase: manda quem pode; obedece quem tem juízo. Ou seja, a
verdadeira diplomacia do porrete.
Os jornalões impressos e os de televisões e de
rádios se unem aos interesses dos EUA, da União Europeia e de Israel. E
contrariam as estratégias diplomáticas brasileiras, que rumam em direção a um
mundo multipolar. Trata-se, realmente, de um sistema midiático de oposição,
nostálgico e mancomunado com o mundo passado, forjado após a II Guerra Mundial
pelos Estados Unidos e os países europeus ricos e ocidentais. Um mundo que
acabou. E a imprensa, míope e antinacionalista, continua a prejudicar os
interesses brasileiros no que diz respeito à ascensão do Brasil no jogo de
xadrez da geopolítica mundial.
Só que o mundo mudou. Países como o Brasil, um dos
principais fundadores do G-20 e que se associou ao Brics (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul), além de ter fortalecido o Mercosul e
incrementado as relações exteriores no âmbito Sul-Sul (hemisfério sul), passou
a exigir mais poder nos fóruns internacionais e a ser tratado de igual para
igual, no que tange às relações econômicas, comerciais e políticas em termos
globais. É exatamente isto que a presidenta Dilma Rousseff afirmou na ONU, em
2011, para o desespero da nossa imprensa provinciana e com complexo de
vira-lata. A imprensa comercial e privada brasileira e seus “especialistas” de
prateleiras não perceberam ou fingem não perceber que a geopolítica mundial
está em um processo relativamente rápido de mudança e principalmente de poder.
Os Brics vão ter uma população estimada em 3,14
bilhões de habitantes até 2020 (40% da população mundial), e são donos de
mercados internos poderosos e gigantescos, com suas economias em plena
expansão. Os cinco países emergentes são considerados como solução para que o mundo
rico (Estados Unidos, União Europeia e Japão) possa sair da crise mundial
iniciada em 2008, a partir da falência do banco estadunidense Lehman Brothers,
peça-chave do efeito dominó que derreteu o neoliberalismo defendido pelos
economistas liberais, à la Roberto
Campos, e os “gênios” da imprensa e que tanta dor causou aos povos mais pobres
e que humilhou países industrializados como o Brasil e a Argentina.
O Brasil, por exemplo, pagou sua dívida externa e
atualmente é um dos sócios do FMI, instituição que hoje determina o que
Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda, Itália devem fazer no que é relativo às suas
contas públicas, à diminuição dos investimentos, aos cortes orçamentários e às
modificações ou “reformas” nos tratados sociais, como as leis trabalhistas e o
acesso aos sistemas de educação e de saúde. Como se percebe, há um evidente
retrocesso social, que causa protestos e violência na orgulhosa Europa
Ocidental
A ONU é um clube de cinco: EUA, Inglaterra, França, China e Rússia. O Brasil é vencedor da II Guerra Mundial, é o País mais poderoso da América Latina, além de ser a sexta economia do mundo. E daí? |
As receitas econômicas do FMI são uma lástima, um desassossego para os povos, o que me leva a lembrar do Brasil dos anos 80 e 90 quando os banqueiros e os governos dos países desenvolvidos aplicaram no Brasil, com a conveniência da imprensa burguesa e de governantes brasileiros aliados dos interesses colonialistas, um processo de recessão que sufocava o crescimento da nossa economia e afligia o nosso País e o povo brasileiro com os mais duros cortes no orçamento da União, para que pudéssemos pagar a dívida externa e seus juros indecentes que vinham embutidos. Agora, os europeus estão a sentir na carne o que é ter de se subordinar aos ditames draconianos do FMI.
Ou seja, países europeus milenares e que se
consideravam independentes foram simplesmente relegados a uma realidade de
colônias, pois se tornaram subordinados, a receber migalhas. A verdade é que o
neocolonialismo não se dá mais somente pela invasão de territórios, por meio da
força das armas. O controle das riquezas dos países mais fracos militarmente e
economicamente acontece já há algum tempo pelo estrangulamento das economias
nacionais, por intermédio de empresas bancárias multinacionais, que são, na
verdade, os financiadores, diretos ou indiretos, do tráfico de armas e de
drogas, além de serem os fomentadores de guerras de fundo colonialista e, portanto,
de exploração da riqueza alheia. Os grandes bancos são os maiores responsáveis
pela lavagem de dinheiro em termos mundiais. Esse dinheiro escuso ou sujo tem
também origem na corrupção governamental e empresarial, bem como na sonegação
de impostos daqueles que são ricos ou muito ricos.
Voltemos ao Brics. O PIB somado dos cinco países
emergentes, em 2010, foi da ordem de US$ 11 trilhões, o que representa 18% da
economia mundial. Se considerarmos o PIB pela paridade de poder de compra, esse
índice se torna ainda maior, pois atinge os US$ 19 trilhões, ou 25% da economia
mundial. A ser assim, a década de 2020 pode marcar a consolidação do
fortalecimento de países emergentes como potências econômicas e políticas, em
um mundo cada vez mais multipolar.
Entretanto, os países ricos que dominam o Conselho
de Segurança da ONU insistem em não reconhecer a influência do Brics, por
intermédio de entraves, para que seus interesses sejam preservados a qualquer
custo, como, por exemplo, o não reconhecimento do estado palestino, enquanto,
contraditoriamente, Israel foi reconhecido em 1948. Um verdadeiro disparate,
que causa guerra e todo o tipo de sofrimento e humilhações absurdos.
Segundo acadêmicos e instituições de pesquisa, os
chamados Brics vão ser peças-chave dessa nova ordem mundial. Em 2020, com 3,14
bilhões de habitantes (40% da população da Terra, segundo projeções da ONU),
eles devem chegar mais perto das economias do G-7, após terem crescido a taxas
muito superiores às de nações ricas. Esses são os fatos, e é por causa dessas
realidades que os Brics reivindicam influência nas decisões mundiais em fóruns
como a ONU, a OMC, o FMI e a OMS.
Enquanto isso, a presidenta Dilma Rousseff se
tornou, em setembro de 2011, a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da
ONU. Mulher brasileira. Em seu discurso, Rousseff deu apoio aos palestinos. A
presidenta afirmou ainda que “já passou da hora de o mundo reconhecer a
existência da Palestina”. Mas, “para variar”, jornalões como o Estado de São Paulo fizeram oposição aos
interesses do Brasil e às estratégias diplomáticas não alinhadas às potências
estabelecidas pelo Itamaraty. Para os nossos escribas e barões de imprensa, o
“Governo ignora o desconforto que o apoio explícito pode criar entre norte-americanos
e israelenses”. É sempre assim. Não tem jeito. Ser para sempre subalterna e ter
complexo de vira-lata é realmente a vocação e o destino de grande parte de
nossa “elite”.
Para os comentarias, os colunistas e os
“especialistas” de prateleira da mídia de negócios privados, o Brasil tem de
ser eternamente vagão e jamais ser a locomotiva. Eles realmente sentem honra e
orgulho por serem colonizados. Acontece que o Brasil é uma locomotiva, pois,
atualmente, é a sexta economia do mundo, e que, em menos de dez anos, deverá
ser a quinta, segundo estimativas do Banco Central e de bancos internacionais
como o Bird, o BID e o FMI.
O Brasil é um país poderoso, a ponto de o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emprestar mais do que o
Banco Mundial (Bird). E a imprensa, antinacional e com complexo de vira-lata,
rema contra a maré mundial, no sentido de que os Brics e especificamente o
Brasil vão também mandar no mundo, tais quais os países ricos, agora nem tão
ricos, porque os EUA tem hoje 46 milhões de pobres, e enfrenta atualmente uma
crise sem precedentes, maior até que a de 1929. O quadro de crise vai demorar
muito para ser revertido, como deixou, bem claro, o presidente Barack Obama, em
convenção do Partido Democrata acontecida há poucos dias.
Os países ricos tem de ouvir os países emergentes e
a comunidade internacional. A ONU é uma organização multilateral e dessa forma
tem de atuar e agir. Não é mais cabível a existência de uma ONU pós Segunda
Guerra Mundial e ideologicamente ainda no tempo da Guerra Fria, com apenas
cinco países a controlar seu Conselho de Segurança, porque tem direito de veto.
Os Brics, por exemplo, vão se tornar mais ricos, pois vão ter em um futuro não
muito longe um PIB maior do que o dos EUA e do bloco econômico europeu — a
União Europeia.
Então, como o Brasil, único País da América Latina vencedor
da II Guerra Mundial (este fato não pode ser jamais esquecido) e integrante do
G-20, do Brics e do Mercosul, além de ser a sexta maior economia do mundo, não
vai ser ouvido e respeitado? Não vai também decidir? Como é que o Brasil, a
segunda maior economia das Américas, não tem o direito de assumir um assento na
ONU? Não há como impedir ou atender essas reivindicações e direitos por tempo
indeterminado, bem como não tem mais sentido a Autoridade Nacional Palestina
(ANP) não ser também reconhecida como estado palestino. Somente a imprensa
comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) onde atuam os empresários
mais atrasados do País para ficar contra o que é justo e o que é de direito de
todos os povos: viver em paz, livre e com autonomia. Realmente…
Reuters
Reuters
Bibi Netanyahu: Israel como enclave dos EUA e o não reconhecimento da Palestina. |
Mahmoud Abbas, presidente da ANP, é um homem de
valor, inteligente e corajoso. Ele colocou em xeque, no ano passado, a política
externa do presidente dos EUA, Barack Obama, e de seu parceiro, o premiê de
Israel, Binyamin Netanyahu, que insiste em não reconhecer o estado palestino, a
fazer ameaças, como se os povos de todo o
planeta dependessem de Israel e de suas vontades e desejos.
O pequeno país do Oriente Médio é um pitbull e não se enquadra no direito
internacional, bem como contraria, inegavelmente, os princípios fundamentados
na Declaração Universal dos Direitos Humanos, além de, sistematicamente,
desobedecer todas as resoluções da ONU e de outros órgãos internacionais, no
que tange a respeitar as fronteiras da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.
Israel tem de ser incluído e se incluir na
comunidade internacional como um país de cooperação social e econômica e não
como um enclave militar dos EUA implantado naquela região desde 1967 quando
invadiu e conquistou territórios, resultado da Guerra dos Seis Dias. Israel tem
de respeitar as leis internacionais. E os EUA tem de reconhecer que surgiram,
principalmente na última década, novos protagonistas na comunidade
internacional, a exemplo dos Brics.
Assunto e problemas tão complexos como o conflito
entre Israel e Palestina não podem ficar à mercê das questões geopolíticas dos
EUA e de governantes israelenses, que se recusam a cederem em um primeiro
momento para também negociarem e serem atendidos em suas reivindicações e
direitos. O “diálogo” entre as duas nações envolvidas no conflito, com a
supervisão dos estadunidenses, não deu certo e não vingou. Pelo contrário,
fracassou. É um círculo vicioso, no qual as partes fingem que conversam e os
EUA fingem que supervisionam, mas que na verdade apoiam, irredutivelmente, os
israelenses. Países como o Brasil, de tradição diplomática reconhecida no
mundo, deveria ser ouvido e ter a oportunidade de tentar efetivar a paz entre
os povos e governos antagônicos, mas tão próximos, como comprova a própria
Bíblia. Israel é muito importante e deve ser inserido em um contexto de paz no
que diz respeito a todos os povos deste planeta.
As conversações entre os palestinos e os israelenses fracassaram, desde sempre. Assuntos complexos e que envolvem também a comunidade internacional não podem ficar à mercê daqueles que estão em conflito, e muito menos sob a mediação de um país como os Estados Unidos, que estão sempre em guerra e a fazer valer seus interesses geopolíticos e de controle sobre as diferentes energias, principalmente o petróleo e o gás. Quem tem de decidir essa questão é a ONU, com a fiscalização dos países protagonistas. E um deles é o Brasil, queira a nossa imprensa nativa ou não.
Mais cedo ou mais tarde, a Palestina vai ser um
estado independente, como o é o estado de Israel desde 1948. Se Israel foi
reconhecido, nada mais justo que a Palestina ser reconhecida. Afinal, as coisas
boas não podem ser para apenas um lado. De qualquer forma, o presidente Abbas
deixou, em setembro de 2011, a cúpula da ONU e de Israel em uma sinuca de bico,
porque a grande maioria dos países apoiou a criação de um estado palestino.
Além disso, se os países ricos quiserem sair da crise em que se atolaram
necessário será a ajuda dos países emergentes, que tem mercados internos
gigantescos. A resumir: os ricos vão ter de dialogar, pois todos nós sabemos
que eles não vivem sozinhos no mundo. Quanto à imprensa, deixa pra lá...
Um comentário:
O Brasil tem um destino importante na comunidade internacional. O mundo mudou e não há mais espaço pra poucos em prejuízo da maioria dos países. A crise mostra isso. O tempo confirmará a importância do Brasil e de outros emergentes.
Postar um comentário