segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O desagravo a Lewandowski

Blog Palavra Livre



Por Luis Nassif 

Do grande magistrado se espera a sabedoria, não a erudição desenfreada e vazia dos que cultivam citações fora do contexto. Espera-se a simplicidade, não a empáfia dos pobres de espírito. Espera-se a responsabilidade dos que sabem estar tratando com o destino de pessoas; não a insensibilidade dos vazios ou o orgasmo dos carrascos.
O grande magistrado faz-se ao longo de sua história, e não por meio de um grande momento, da bala de prata, do discurso rebuscado e irresponsável que acomete os vaidosos quando expostos aos holofotes da mídia. Espera-se a coragem verdadeira dos que enfrentam a turba, o linchamento, os ataques ao caráter; e não a coragem enganadora dos berros, dos gritos de quem quer se fazer notar pelo escândalo.

A coragem do grande magistrado se manifesta quando exposto ao clamor da turba, quando não perde a calma ao enfrentar o populacho; e não quando cede ao jogo de cena que fabrica linchamentos e compromete a isenção

O ministro Ricardo Lewandowski fala alemão desde criança, filho de suíços que é. Jamais alguém assistiu embates ridículos de erudição, como esse desafio vazio de Spy x Spy, Barbosa x Gilmar, para saber quem domina mais o alemão. Não pretende chocar, como Marco Aurélio Mello, mas tem a coragem de investir contra a maioria, apenas para seguir sua consciência.

Com seu ar prudente, está longe da esperteza de praia de Luiz Fux, do ar melífluo de Ayres Britto, da falsa solenidade de Celso de Mello ou do ar de presidente de Diretório Acadêmico de Toffoli.

O ministro aplicou penas severas, sim, tão severas quanto as de qualquer juiz não afetado pelas pressões externas da turba. Mas não cedeu um milímetro em suas convicções. Nem quando foi cercado pelos colegas, ao tentar demonstrar o erro de interpretação na “teoria do domínio do fatos”.

Se um dia esse Supremo for dignificado, será pelo ministro simples, cordato, sensível que tentou trazer a noção de humanidade e de justiça a um grupo embriagado pelas luzes de neon da cobertura jornalística.

Clique aqui para assinar o Manifesto de Desagravo a Lewandowski, preparado pelo Blog da Cidadania.
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Leia a transcrição de trecho do discurso de Lewandowski, que absolve o ex-ministro José Dirceu pelo crime de corrupção ativa. Abaixo, assista ao vídeo do julgamento, quando o revisor é contestado pelos ministros Carlos Ayres Britto, Celso de Mello e Gilmar Mendes, que reinterpretam  Claus Roxin.

“Senhor presidente, eu trago o depoimento insuspeito do próprio Claus Roxin, que foi fazer uma conferência inaugural na já famosa Universidade de Lucerna na Suíça, aliás, tive a honra e o privilégio de proferir uma palestra agora em maio, tanto na Universidade de Berna quanto na de Lucerna, a convite do governo suíço, é um lugar onde se cultiva um pensamento crítico do direito, mas Claus Roxin, 40 anos depois de ter idealizado essa teoria, no ano de 1963, ele vai lá na Universidade de Lucerna, na aula inaugural porque essa universidade é recém-criada, e diz o seguinte. Começou a manifestar preocupação com o alcance indevido que alguns juristas e certas cortes de justiça, em especial o Supremo Tribunal Federal alemão, estariam dando a sua teoria, especialmente ao estendê-la a delitos econômicos ambientais, sem atentar que os pressupostos essenciais de sua aplicação que ele mesmo havia estabelecido, dentre os quais a fungibilidade dos membros da organização delituosa [...] nesse caso não há fungibilidade porque os réus são nominados, identificados, eles têm nome, RG, endereço, não há uma razão, a meu ver, para se aplicar a teoria do domínio do fato. Não há porque nós não estarmos em uma situação excepcional, nós não estamos em guerra, felizmente. Então senhor presidente, eu termino dizendo que não há provas e que essa teoria do domínio do fato nem mesmo se chamássemos Roxin poderia ser aplicada ao caso presente.”

Um comentário:

Marcos Lúcio disse...

Prezado Davis...tentei postar assinando o manifesto mas não consegui. Aparece a mensagem 500 internal server error. Então faço aqui.

Onde houver lucidez, ética , senso de oportunidade histórica, como neste caso do nobilíssimo Ministro, só nos resta admirar, e, merecidamente, parabenizar, além de apoiar ampla, geral e irrestritamente, "marrelógico".
Abraço
Marcos Lúcio