Blog Palavra Livre
Por Luis Nassif
Do grande magistrado se espera a sabedoria, não a erudição
desenfreada e vazia dos que cultivam citações fora do contexto.
Espera-se a simplicidade, não a empáfia dos pobres de espírito.
Espera-se a responsabilidade dos que sabem estar tratando com o destino
de pessoas; não a insensibilidade dos vazios ou o orgasmo dos carrascos.
O grande magistrado faz-se ao longo de sua história, e não por meio
de um grande momento, da bala de prata, do discurso rebuscado e
irresponsável que acomete os vaidosos quando expostos aos holofotes da
mídia. Espera-se a coragem verdadeira dos que enfrentam a turba, o
linchamento, os ataques ao caráter; e não a coragem enganadora dos
berros, dos gritos de quem quer se fazer notar pelo escândalo.
A coragem do grande magistrado se manifesta quando exposto ao clamor
da turba, quando não perde a calma ao enfrentar o populacho; e não
quando cede ao jogo de cena que fabrica linchamentos e compromete a
isenção.
O ministro Ricardo Lewandowski fala alemão desde criança, filho de
suíços que é. Jamais alguém assistiu embates ridículos de erudição, como
esse desafio vazio de Spy x Spy, Barbosa x Gilmar, para saber quem
domina mais o alemão. Não pretende chocar, como Marco Aurélio Mello, mas
tem a coragem de investir contra a maioria, apenas para seguir sua
consciência.
Com seu ar prudente, está longe da esperteza de praia de Luiz Fux, do
ar melífluo de Ayres Britto, da falsa solenidade de Celso de Mello ou
do ar de presidente de Diretório Acadêmico de Toffoli.
O ministro aplicou penas severas, sim, tão severas quanto as de
qualquer juiz não afetado pelas pressões externas da turba. Mas não
cedeu um milímetro em suas convicções. Nem quando foi cercado pelos
colegas, ao tentar demonstrar o erro de interpretação na “teoria do
domínio do fatos”.
Se um dia esse Supremo for dignificado, será pelo ministro simples,
cordato, sensível que tentou trazer a noção de humanidade e de justiça a
um grupo embriagado pelas luzes de neon da cobertura jornalística.
Clique aqui para assinar o Manifesto de Desagravo a Lewandowski, preparado pelo Blog da Cidadania.
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Leia a transcrição de trecho do discurso de Lewandowski, que absolve o
ex-ministro José Dirceu pelo crime de corrupção ativa. Abaixo, assista
ao vídeo do julgamento, quando o revisor é contestado pelos ministros
Carlos Ayres Britto, Celso de Mello e Gilmar Mendes, que reinterpretam Claus Roxin.
“Senhor presidente, eu trago o depoimento insuspeito do próprio Claus
Roxin, que foi fazer uma conferência inaugural na já famosa
Universidade de Lucerna na Suíça, aliás, tive a honra e o privilégio de
proferir uma palestra agora em maio, tanto na Universidade de Berna
quanto na de Lucerna, a convite do governo suíço, é um lugar onde se
cultiva um pensamento crítico do direito, mas Claus Roxin, 40 anos
depois de ter idealizado essa teoria, no ano de 1963, ele vai lá na
Universidade de Lucerna, na aula inaugural porque essa universidade é
recém-criada, e diz o seguinte. Começou a manifestar preocupação com o
alcance indevido que alguns juristas e certas cortes de justiça, em
especial o Supremo Tribunal Federal alemão, estariam dando a sua teoria,
especialmente ao estendê-la a delitos econômicos ambientais, sem
atentar que os pressupostos essenciais de sua aplicação que ele mesmo
havia estabelecido, dentre os quais a fungibilidade dos membros da
organização delituosa [...] nesse caso não há fungibilidade porque os
réus são nominados, identificados, eles têm nome, RG, endereço, não há
uma razão, a meu ver, para se aplicar a teoria do domínio do fato. Não
há porque nós não estarmos em uma situação excepcional, nós não estamos
em guerra, felizmente. Então senhor presidente, eu termino dizendo que
não há provas e que essa teoria do domínio do fato nem mesmo se
chamássemos Roxin poderia ser aplicada ao caso presente.”
Um comentário:
Prezado Davis...tentei postar assinando o manifesto mas não consegui. Aparece a mensagem 500 internal server error. Então faço aqui.
Onde houver lucidez, ética , senso de oportunidade histórica, como neste caso do nobilíssimo Ministro, só nos resta admirar, e, merecidamente, parabenizar, além de apoiar ampla, geral e irrestritamente, "marrelógico".
Abraço
Marcos Lúcio
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