Por Davis Sena Filho —
Blog Palavra Livre
Vamos relembrar. As manifestações de junho
tiveram como pavio para explodirem nas ruas em reivindicações de toda ordem,
violência e depredações do patrimônio público e privado, além do enfrentamento
com as polícias, o Movimento Passe Livre (MPL), que defende a adoção da tarifa
zero para o transporte coletivo de concessão pública. Seu bordão principal:
“Por um mundo sem catracas!”
Como se observa, uma pauta e pleito nitidamente
de esquerda e, evidentemente, não reivindicada pelos direitistas mascarados que
oportunistamente tomaram as ruas, de forma anárquica ao tempo que fascista.
Muitas dessas pessoas não sabiam por que estavam a protestar, pois não tinham
pautas e muito menos conhecimento das questões brasileiras.
Os mascarados dos diferentes grupos de
Anonymous e Black Blocs se autodenominaram “apartidários” e “apolíticos”,
palavras estas muito usadas pelos seguidores de Adolf Hitler e Benito Mussolini
— e deu no que deu. Alemães e italianos saíram às ruas para apoiá-los e depois
viram suas cidades serem bombardeadas e ocupadas por forças estrangeiras. Aqui
no Brasil, diversos grupos e partidos de direita, além dos coxinhas
reacionários de classe média, realizaram a Marcha da Família com Deus e pela
Liberdade. E deu no que deu: 21 anos de ditadura militar.
A verdade é que o MPL foi fundado no Fórum
Social Mundial em 2005, em Porto Alegre. O fórum, como todo mundo sabe, reúne
ativistas, militantes, partidos e entidades do campo da esquerda, que discutem
e debatem soluções para que o Brasil e as outras nações se transformem em
sociedades mais justas e democráticas, a ter sempre como meta a melhoria da
qualidade de vida das pessoas.
Os protestos contra o preço alto e o aumento
das tarifas começaram em 2013, na capital gaúcha. Logo depois o movimento se
espalhou pelas principais capitais do País, sendo que em São Paulo o MPL foi
reprimido pela PM paulista controlada pelos políticos do PSDB há 20 anos. A
corporação é reconhecida mundialmente como uma força pública repressora e que
trabalha como se fosse segurança da elite econômica do estado bandeirante, uma
das mais conservadoras e perversas do mundo.
Hoje é véspera do dia 7, mas há cerca de dois
meses os Anonymous e os Black Blocs anunciam, por intermédio da internet, “o
maior protesto da história do Brasil”, como se este País estivesse a começar
agora a sua história, bem como não tivesse ocorrido, no decorrer desses cinco
séculos, guerrilhas, movimentos, protestos e manifestações, a exemplo das
Diretas Já, do Comício da Central e de outras centenas de marchas e
quebra-paus, que sacudiram a sociedade brasileira. É muita presunção.
Os Anonymous e os Black Blocs aproveitaram
uma pauta de esquerda e foram às ruas e passaram a quebrar o que viam pela
frente. Comportam-se como centuriões romanos da classe média coxinha e dos
setores mais conservadores da sociedade brasileira, que, inconformados com a
ascensão social e financeira de milhões de pessoas das classes
desprivilegiadas, acreditam, equivocadamente, que tais mudanças vão
prejudicá-las em seus interesses de classes e categorias tradicionais, que
sempre tiveram acesso às sobras do establishment.
É ridícula a visão desprovida de senso crítico
das classes médias tradicionais e de grupos mascarados que não percebem que o
Brasil mudou e para melhor em todos os sentidos, segmentos, áreas da economia e
da sociedade civil. Quando mascarados vão às ruas, de forma não representativa
e ilegal, pois esconder o rosto é a mesma coisa que não assumir as
consequências e desrespeitar os limites e as leis de um País plural, que se
alicerça no estado democrático de direito.
Mascarados que não representam a si mesmos e
não são representados por ninguém, conforme suas opiniões e decisões, mas que
meteram medo nos coxinhas que rapidinho abandonaram as ruas e foram tratar de
suas vidinhas burguesas, confortáveis, fazer festinhas, happy hour, viagens,
poupanças e realizar estudos, trabalho e afazeres domésticos. Enquanto isso,
os mascarados, três meses após junho, continuam a fazer manifestações
“apartidárias”, “apolíticas” e “pacíficas”, como gosta de afirmar a imprensa de
negócios privados e que hoje morre de medo de ser alvo de violência e de
contestações.
A imprensa
burguesa que detesta ser questionada, contestada e principalmente receber
retaliações dos Black Blocs, que expulsaram os repórteres da CBN e da Globo das
ruas, jogaram literalmente merda na sede da Globo em São Paulo, e, juntamente
com os partidos de esquerda, sindicatos e associações de trabalhadores, além de
setores da academia, reivindicam a efetivação de um marco regulatório das
mídias, bem como a quebra do monopólio e dos oligopólios controlados por meia
dúzia de famílias bilionárias e que são useiras e vezeiras em promover golpes
de estado, conflitos, discórdias e todo tipo de “disse me disse”, que inferniza
a vida republicana brasileira.
Os Anonymous são
grupos de direita e de extrema direita liderados por militares e policiais
aposentados, executivos, comerciantes, empresários, estudantes direitistas,
além da Juventude do PSDB, do DEM e do PPS. São pessoas também ligadas à área
rural, que historicamente remonta o que temos de mais conservador neste País, a
exemplo da UDR, sem me esquecer de citar o Instituto Millenium, que é uma
concentração de neocons, sendo que muitos deles chegam às raias do fascismo.
Os Black Blocs se
consideram anarquistas; mas, apesar de terem jogado merda na Globo, quebrarem
bancos e sedes de instituições públicas e lojas de automóveis caríssimos, que
simbolicamente representam poder econômico e status, muito de seus
comportamentos tem conotação e coloração fascista, à direita do que pregam, com
ações violentas e protegidas pelos rostos cobertos por máscaras negras.
Mascarados são um
acinte à democracia, porque as máscaras permitem encobrir crimes, o que
facilita, inclusive, a tentativa de golpes por parte daqueles que, em nome de
um Brasil melhor, querem, na verdade, destituir quem está no poder eleito
legitimamente, bem como, se possível, desmoralizar a autoridade e desconstruir
as instituições republicanas e principalmente o que foi conquistado pelo povo
brasileiro nos últimos 11 anos.
Para se ter uma
ideia da incongruência e desfaçatez desses movimentos “apartidários” e
“apolíticos”, bem como “pacíficos” para a imprensa cínica e alienígena, em
nenhum momento vi os inúmeros grupos Anonymous pedirem pela reforma agrária,
defenderem os médicos cubanos e programas sociais da importância do Bolsa
Família. Também não reivindicaram a quebra do monopólio nas comunicações ou
exigiram para que o mensalão tucano e os escândalos de mais de R$ 600 milhões
do PSDB denunciados pela Siemens e a sonegação de mais R$ 600 milhões da Rede
Globo fossem duramente investigados e os seus autores punidos.
Nem pensar. Os
Anonymous, os Black Blocs, em menor intensidade, e os coxinhas mequetrefes
alienados e reacionários se preocuparam com a seguinte pauta: 1) Não à PEC 37;
2) Saída imediata de Renan Calheiros da Presidência do Congresso Nacional; 3)
Investigação dos investimentos da Copa do Mundo; 4) Corrupção como crime
hediondo; e 5) O fim do fórum privilegiado.
Como se observa,
as lideranças dos mascarados reivindicam questões constitucionais e jurídicas,
que não passam pelo crivo do Poder Executivo, pois são temas ligados ao
Legislativo e ao Judiciário. Não tem nada a ver com saúde, educação e
segurança, porque o movimento de extrema direita é político e visa enfraquecer
o governo trabalhista da presidenta Dilma Rousseff, bem como colocar a faca no
pescoço do Congresso e do Judiciário. As reivindicações são políticas e
constitucionais e essa gente do Anoymous distorce os fatos e deturpa a
realidade. Afinal quem usa máscara só pode tergiversar e mentir.
Amanhã vai ser o
Dia 7 de Setembro, data da Independência do Brasil. Os mascarados dos Black
Blocs e dos Anonymous vão às ruas. Os primeiros se consideram anarquistas e sem
lideranças e partidos. Os segundos pregam também a mesma coisa. Os Anonymous
são fascistas quando não nazistas e pensam em golpe de estado. Os Black Blocs
se promovem, pois querem aparecer como força política, apesar de serem
“apartidários”. Eles querem fazer parte do panorama político e social
brasileiro de máscaras!
Os Black Blocs se
vestem de preto e se dizem anarquistas, mas na verdade são anarco-fascistas,
pois são autoritários e querem ganhar a vez no grito e na violência pura e
simples. Os anarquistas respeitam o indivíduo, o outro e prezam pela vida; e,
sem sombra de dúvida, esses caras não respeitam ninguém. Viva o Brasil! É isso aí.
5 comentários:
Começou em Sampa - onde Lula e Maluf ajudaram a eleger o petista Haddad.
Culminou em Brasília, com foguinho - mas fogo - no Palácio.
O que trincou a cara até do henrique, já que nem vc acertou uma de imediato. Demorou para entender, e na verdade, discute as cinzas.
O Congresso popular democratico sumiu.
Agora este movimento é perda de tempo, Flamenguista.
Anônimo.
Escreves com requinte e conhecimento. Passei alguns meses sem entender direito esses movimento e procurei me inteirar pela internet. Mas o seu texto é o mais explicativo e por isto te agradeço. Gente seu pauta, de máscara, sem liderança e solta no ar não pode dar em boa coisa. É como estouro de manada. Artigo fundamental para entender esse fenômeno social. Parabéns!
Mais uma vez quero parabenizá-lo pelo texto lúcido e veemente. Trata-se de uma perfeita análise dos acontecimentos atuais.
Escrevo esse comentário no início da tarde de 7 de setembro, após assistir o noticiário sobre a pretensa "Maior Manifestação da História do Brasil" e verifico que a montanha pariu um rato. Ocorreram pequenas escaramuças nas capitais. Ficou parecido com uma reedição da Batalha de Itararé.
Forte abraço,
Marcos Quintanilha
Aplausos!!!Faço minhas todas as palavras e considerações lucidíssimas deste seu post oportuno, expondo com realismo e conhecimento, o que está por trás destas "máscaras" desrespeitosas e alienadas, quase sempre.Estão devidamente desmascarados. Eles, os block e/ou anonymous, já causam-me náusea e intolerância, pois não consigo ver essência, inteligência, consciência ou rumo.
Marcos Lúcio
Esses marginais coxinhas que se atodenominam black blocs se dizem anticapitalistas e, por esta razão, quebram bancos e lojas - a maioria destas, diga-se, pertencentes a cidadãos que, como nós, trabalham cinco meses por ano para pagar tributos aos governos federal, estadual e municipal (e os outros sete, para pagar contas). Mas filmam tudo com seus iPhones e iPads e depois divulgam no Facebook - que é uma empresa privada com ações em Wall Street e na Nasdaq! Hipócritas!
Mas vamos à pergunta que não quer calar: qual foi a contribuição dos black block para os debates políticos, econômicos e sociais no Brasil e nos demais países onde atuam?
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