Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
Constituição
Brasileira, parágrafo 5º, do artigo 220: "Os meios de comunicação social
não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou
oligopólio". Entendeu, ou quer que eu desenhe?
ILUSTRAÇÃO: BIEN |
Vamos à pergunta
que se recusa a calar: "Por que os magnatas bilionários de todas as mídias
cruzadas, por intermédio de seus caudatários, mentem audaciosamente quanto à
regulação dos meios de comunicação social, quando a verdade é que a regulação
tem por propósito efetivar o marco regulatório, no que tange à economia e não
quanto ao conteúdo do que é veiculado ou publicado nas diferentes mídias?
Respondo: os
magnatas bilionários, na verdade, querem confundir o público, bem como trazer
para seu lado políticos conservadores testas de ferro de seus interesses, além
de parcela importante da classe média, politicamente conservadora, que rejeita
quaisquer mudanças, no que concerne à manutenção do status quo e do monopólio
desse poderoso e influente segmento econômico.
Um setor que, após
a vitória eleitoral do ex-presidente Lula, em 2002, transformou-se em partido
político poderoso e de direita, que se recusa, terminantemente, a se submeter
aos ditames da Constituição e do Estado Democrático de Direito, porque, sem
sombra de dúvida, historicamente nunca respeitou a democracia, por ter um
caráter antinacional, despótico e imperialista.
Dito isto, vamos a
outra questão: O que existe por detrás de tanta reação à democratização dos
meios de comunicação?
Respondo:
Certamente não é a censura à imprensa de negócios privados tão propalada pelos
sequazes do baronato midiático, e muito menos o "medo" de a liberdade
de expressão ser contaminada pelo Estado, até porque a imprensa de mercado, por
meio de seus bate-paus mascarados de jornalistas, nunca foi tão livre como no
período dos trabalhistas no poder, ao ponto de manipular, dissimular e
simplesmente mentir sobre os fatos e as realidades que se apresentam na
economia e na política, inclusive a intervir reiteradamente no processo
eleitoral, e, derrotada, dedicar-se a uma oposição sistemática e feroz, em um
período de 12 anos.
A verdade é que
a máquina midiática empresarial diz o que quer, age como quiser e ainda
se recusa a dar voz a quem foi injuriado, caluniado e difamado, sem ter, muitas
vezes, culpa no cartório. Existem incontáveis casos que comprovam esses maus
procedimentos da imprensa de mercado. E, quando ela "concede" tais
direitos ou é obrigada a dar o direito de resposta, o destaque a quem teve a
imagem desmoralizada ou desconstruída é mínimo, além de completamente diluído
pelas páginas de jornais e revistas, bem como disfarçado nos jornais
televisivos.
Contudo, o que mais
importa para a sociedade brasileira é democratizar definitivamente as mídias em
todos os sentidos, desde a publicidade até o direito de outros segmentos
sociais, empresariais, entidades, associações, instituições e sindicatos terem
acesso à comunicação, bem como o controle de sua programação, a respeitar,
evidentemente, o marco regulatório para os meios de comunicação — chamado por
muitos de Ley dos Medios.
Os magnatas
bilionários de todas as mídias cruzadas tem verdadeiro pavor desse assunto e
reagem ferozmente contra quaisquer regulações, porque a intenção é
"melar" o debate, não divulgá-lo em suas mídias e, quando necessário,
falar de regulação a dar-lhe uma conotação de casuísmo, de despotismo e de
censura, ao que esses bilionários midiáticos e seus empregados de luxo chamam,
cinicamente e hipocritamente, de "imprensa livre".
A mesma
"imprensa livre" que não dá voz aos seus adversários e inimigos, que
tem lado, partido político, cor ideológica e que detesta ouvir as partes
envolvidas em algum caso, porque sempre beneficia alguém de seu interesse, e,
por causa disso, foge do contraditório. A mesma "imprensa livre" que
demite ou "congela" qualquer empregado ou contratado seu, se tal ente
humano pensar diferente ou vacilar quanto à "doutrina" política
determinada pelos diretores, chefes de redação e editores, que, sem sombra de
dúvida, a grande maioria, pois não é justo generalizar, faz o jogo dos patrões,
a assoviar e a chupar cana ao mesmo tempo.
Despidos de
quaisquer dores de consciência, pois muitos deles são piores que seus patrões,
os quais, inadvertidamente e ousadamente, consideram "seus" colegas,
o que se torna uma piada de mau gosto, além de arrogância e a completa falta de
discernimento de sua condição de empregado, que, sumariamente, não tem o
direito de pensar, mas, obviamente, repetir como um papagaio de pirata tudo o
que é determinado pelo establishment da empresa, mesmo se tiver de cometer
crimes como o fez certo repórter da revista Veja — a Última Flor do Fáscio —,
que invadiu o quarto de hotel do ex-ministro José Dirceu, para logo ser
denunciado à policia pela gerência do estabelecimento comercial.
Ou, lembremos, dos
diretores de Época — o pasquim que ninguém lê —, e de Veja — o libelo de
caráter fascista —, que se aliaram ao bicheiro Carlinhos Cachoeira e ao senador
cassado, Demóstenes Torres — o ex-varão de plutarco da mídia corporativa —, com
o objetivo sórdido de desestabilizar o Governo Trabalhista e também o Governo
do Distrito Federal. Esses fatos estão nos "anais" dessa própria
imprensa alienígena, que luta, desesperadamente, para manter o oligopólio de
mídias cruzadas, que está na mão de meia dúzia de famílias, que, na verdade,
dependem de uma só: as Organizações(?) Globo, da família Marinho, porque é ela
que monopoliza os eventos esportivos, grandes e pequenos, os artísticos e
culturais, os programas jornalísticos e de auditórios, as novelas, bem como o
segmento fonográfico e do show business, seja qual for, a exemplo do Rock in
Rio, além de estar fortemente presente no rádio e na internet.
Todavia, apesar
desses eventos serem controlados com mão de ferro pelos irmãos Marinho, a
galinha dos ovos de ouro tem nome, e atende por Bonificação de Volume, o
famigerado BV, que concentra as gigantescas verbas publicitárias em apenas um
grupo empresarial, por intermédio da venda casada de comerciais. É notória essa
vampiresca realidade que favorece, indubitavelmente, a efetivação de chantagens
aos anunciantes governamentais e privados, que se veem "obrigados" a
anunciar na empresa monopolista e cartelizada, até porque a "Vênus
Platinada" faz dura oposição a quem não atende seus interesses, bem como
os anunciantes também a temem politicamente e comercialmente, além de saberem
que a megaempresa de comunicação é a que tem a maior audiência.
A resumir: é o fim
da picada! Trata-se, na verdade, de um capitalismo selvagem e sem regras, em um
mundo privado, livre de um marco regulatório e disposto a enfrentar a sociedade
civil, o Governo Federal, o Congresso, além de órgãos que deveriam cuidar desse
importante assunto, com coragem, responsabilidade, a cumprir seu trabalho e
obrigação, a exemplo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da
Secretaria de Direito Econômico (SDE), ambos órgãos estratégicos do Ministério
da Justiça, que ora atuam com corpo mole, ouvidos de mercador e olhos fechados
para tal ignomínia, que é o abuso de poder perpetrado pelo gigantesco
oligopólio dos irmãos Marinho.
Desconheço a
tamanha dificuldade de o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e de sua
chefe direta, a presidenta Dilma Rousseff, além do ex-presidente Lula, quando
esteve no poder, em obedecer a Constituição, no que é relativo ao combate aos
monopólios e oligopólios, além de se efetivar urgentemente um marco
regulatório para o setor econômico midiático. Reconheço, entretanto, que Lula
já há algum tempo tem batido nesta tecla, inclusive tem questionado duramente o
cartel midiático em público.
Também considero de
bom alvitre a posse de Ricardo Berzoini no cargo de ministro das Comunicações.
O petista sempre foi favorável à Ley dos Medios, e, diferentemente de seu
antecessor, Paulo Bernardo, Berzoini sempre tocou no assunto do marco
regulatório, além de ser um parlamentar combativo e que sempre fez assertivas
sobre quaisquer assuntos sem tergiversar. Vamos ver para crer. Afinal, mexer
com o status quo não é fácil e tem de ter coragem, fato que não deveria faltar
aos políticos, principalmente os de esquerda, eleitos pelo povo e pelo povo tem
de lutar ou fazer o que tem de ser feito, ou seja, obedecer a Lei. Ponto.
Estados Unidos,
França, Inglaterra, Suécia, Espanha, dentre muitos outros países, possuem
marcos regulatórias para o setor da economia dos meios de comunicação social.
São paises capitalistas, desenvolvidos, admirados profundamente pelas
"elites" deste País e também pela classe média coxinha, mentalmente
colonizadas, provincianas e portadoras de um estratosférico complexo de
vira-lata. Então se trata de retumbante farsa, fraude, hipocrisia e
mentira a veiculação de notícias por parte dos magnatas bilionários da mídia
contrários ao combate aos oligopólios, de acordo com os ditames da
Constituição.
Não se pode levar a
sério essa gente manipuladora e mentirosa. Não é definitivamente democrático
apenas uma empresa familiar dominar o mercado publicitário e de propaganda em
um País que tem 210 milhões de habitantes, geograficamente gigantesco, ser
considerado a sétima maior economia do mundo e, mesmo assim, ficar à mercê de
uma família autoritária, parceira da ditadura militar, que se recusa,
casuisticamente, a compreender que o Brasil é outro País, poderoso e fundador
de blocos econômicos como o Mercosul, o G-20 e os Brics.
O Governo
Trabalhista tem de afirmar às famílias midiáticas que o Brasil não é a
continuação dos quintais das mansões delas, pois o tempo da Casa Grande tem de
terminar, para que a sociedade brasileira possa ser emancipada definitivamente,
tanto no que concerne à independência financeira e política, mas também no que
é referente à democratização das mídias, de tal forma que elas fiquem ao
alcance de todos, o que significa permitir a diversidade de pensamento e o
combate à censura praticada pelos magnatas bilionários de imprensa e de seus
feitores, que sempre fazem a vez de seus patrões autoritários. A imprensa quer
falar sozinha. Ponto. A verdade é que ela não se preocupa com liberdade de
expressão, porque a liberdade de expressão que vale é somente a dela. Não se
enganem os ingênuos, os apressados e os cúmplices...
Enfim, urge a
inclusão midiática e também digital para o segmento dos meios de comunicação. O
Brasil tem de abrir um maior número de empresas, bem como a Bonificação de
Volume (BV) tem de ser extinta. Para quem não sabe, a BV é o lucro das agências
publicitárias. Como as Organizações(?) Globo são um monopólio, a agência não
tem para onde correr. Se atrasar as faturas para a Globo, perde o direito à BV,
um instrumento, ora veja, criado pela própria Globo, que, draconianamente,
deixa tal agência sem dinheiro, como se fosse uma grande lição — "para
aprender!", diriam os lorpas e os pascácios de Nelson Rodrigues.
E se o cliente da
agência dá um calote ou simplesmente atrasa o pagamento? Problema de tal
empresa. O empresário ou publicitário dono da agência rapidamente, e muito
assustado, opta por recorrer aos bancos, porque na cabeça dele é melhor dever
ao banqueiro do que dever à Globo, que, se retaliar de maneira séria, é capaz
de o publicitário ter de fechar as portas de sua agência, porque a falência
virá a galope. Por isso a luta dos magnatas bilionários para manter as coisas
como estão. É muito poder em jogo.
Realmente, o
Governo tem de ordenar e reorganizar esse segmento que, de tão poderoso, apoia
até golpe de estado e interfere em eleições presidenciais. Mas, compreendo que
mexer nesse vespeiro tem de ter coragem e determinação. Por seu turno,
governantes são eleitos até para sacrificar a vida, se ele não for um
pusilânime ou covarde. Estadistas não são relapsos com a governança e com os
interesses do povo. Regular as mídias é dever do Estado, proteção à democracia
e o fim do controle da BV, ou seja, do mercado publicitário por apenas uma
empresa. A Ley dos Medios tem de ser efetivada, a Constituição respeitada, e é
para já. É isso aí.
3 comentários:
Vamos regular o blog do Davis Sena Filho. Que tal?
Acho compatível com o que ele prega. Vamos apenas comentar sobre os textos infindáveis, monocórdidos, mais do mesmo - quando não está defendendo bandidos condenados que comem quentinhas na Papuda- e que graças ao bom senso do mesmo não é impresso - seria muita lenha queimada à toa - daqui a uma semana.
Vamos assistir ao festival de loas, galanteios, bravatas, ofensas. Por uma semana - olha só, uma regulação semanal, igual a Veja ou até, se antes disto, ele assumir que Dilma já começou a reforma.
Pena que na assaltada Petrobras.
babalu
Os dois acima recebem uma aula de graça sobre regulação das mídias e o controle da BV e não aprendem nada por serem reaças e de ideias curtas. Não conseguem enxergar o óbvio, mas jamais deixam de ler o culto e corajoso jornalista. Este texto é muito informativo e ler o Davi Sena Filho é um aprendizado. Vamos ser menos medíocres.
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