Luis Nassif, lido no Sul
21
Em 2008 dei início à
primeira batalha de um blog contra uma grande publicação no
Brasil.
Foi O caso de Veja,
uma série de reportagens denunciando o jornalismo da revista Veja. Nela,
selecionei um conjunto de escândalos inverossímeis, publicados pela revista.
Eram matérias que se destacavam pela absoluta falta de discernimento e pela
divulgação de fatos sem pé nem cabeça.
A partir dos “grampos” em
Carlinhos Cachoeira foi possível identificar as matérias que montavam em
parceria com a revista. A maior parte delas tinha sido abordada na série, porque
estavam justamente entre as mais ostensivamente falsas.
Com o auxílio de
leitores, aí vai o mapeamento das matérias:
Do grampo da PF divulgado
pela revista Veja este fim de semana.
Cachoeira: Jairo,
põe um trem na sua cabeça. Esse cara aí não vai fazer favor pra você nunca
isoladamente, sabe? A gente tem que trabalhar com ele em grupo. Porque os
grandes furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles fomos nós que
demos (…).
Cachoeira: Eu
fiquei puto porque ontem ele xingou o Dadá tudo pro Cláudio, entendeu? E você
dando fita pra ele, entendeu? (…)
Cachoeira: Agora,
vamos trabalhar em conjunto porque só entre nós, esse estouro aí que aconteceu
foi a gente. Foi a gente. Quer dizer: mais um. O Jairo, conta quantos foram.
Limpando esse Brasil, rapaz, fazendo um bem do caralho pro Brasil, essa
corrupção aí. Quantos já foram, rapaz. E tudo via
Policarpo.
Graças ao grampo, é
possível mapear alguns dos “furos” mencionados pelo bicheiro na conversa entre o
bicheiro Carlinhos Cachoeira com o PM-araponga Jairo Martins, um ex-agente da
Abin, que se vangloria de merecer um Prêmio Esso por sua colaboração com
Veja em Brasília. Martins está preso, junto com seu superior na quadrilha
de Cachoeira, o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá,
fonte contumaz de jornalistas – com os quais mantém relações de agente duplo,
levando e trazendo informações do submundo da
arapongagem.
O primeiro registro da
associação entre Veja e Cachoeira está numa reportagem de 2004, que
desmoralizou uma CPI em que o bicheiro era investigado. Em janeiro daquele ano,
Cachoeira foi a fonte da revista Época, concorrente de Veja, na
matéria que mostrou Waldomiro Diniz, sub de José Dirceu, pedindo propina ao
bicheiro quando era dirigente do governo do Rio (2002). Depois disso, Cachoeira
virou assinante de Veja.
As digitais do bicheiro e
seus associados, incluindo o senador Demóstenes Torres, estão nos principais
furos da sucursal de Brasília ao longo do governo Lula: os dólares de Cuba, o
dinheiro das Farc para o PT, a corrupção nos Correios, o espião de Renan
Calheiros, o grampo sem áudio, o “grupo de inteligência” do PT
etc.
O que essas matérias têm
em comum:
1. A origem das
denúncias é sempre nebulosa: “um agente da Abin”, “uma pessoa bem informada”,
“um espião”, “um emissário próximo”.
2. As matérias
sempre se apoiam em fitas, DVDs ou cópias de relatórios secretos – que nem
sempre são apresentados aos leitores, se é que existem.
3. As matérias
atingem adversários políticos ou concorrentes nos negócios de Cachoeira e
Demóstenes Torres (o PT, Lula, o grupo que dominava os Correios, o delegado
Paulo Lacerda, Renan Calheiros, a campanha de Dilma
Rousseff).
4. Nenhuma das
denúncias divulgadas com estardalhaço se comprovou (única exceção para o pedido
de propina de R$3 mil no caso dos Correios).
5. Assim mesmo,
todas tiveram ampla repercussão no resto da imprensa.
Confira aqui a Cachoeira
dos furos da Veja em associação com Demóstenes, arapongas e capangas do
bicheiro preso
1. O caso do bicheiro vítima de
extorsão
Revista Veja
Edição 1.878 de 3 de novembro de 2004
Trecho da
matéria: Na
semana passada, o deputado federal André Luiz, do PMDB do Rio de Janeiro, não
tinha amigos nem aliados, pelo menos em público. Seu isolamento deveu-se à
denúncia publicada por VEJA segundo a qual o
deputado tentou extorquir 4 milhões de reais do empresário de jogos Carlos
Cachoeira. As negociações da extorsão, todas gravadas por emissários de
Cachoeira, sugerem que André Luiz agia em nome de um grupo de
deputados.
Nota: A fonte da
matéria são “emissários de Cachoeira”, o “empresário de jogos”, que Veja
transformou de investigado em vítima na mesma CPI.
2. O caso do dinheiro das
Farc
Capítulo 1 – Revista
Veja Edição 1896 de 16 de março de 2005
Trecho da matéria:
Um agente da Abin, infiltrado na reunião, ouviu tudo, fez um informe a seus
chefes (…). Sob a condição de não reproduzi-los nas páginas da revista,
VEJA teve acesso a seis documentos da pasta que trata das relações entre
as Farc e petistas simpatizantes do movimento.
Capítulo 2 – Revista
Veja Edição 1.899 de 6 de abril de 2005
Trecho da matéria:
Na semana passada, a comissão do Congresso encarregada de fiscalizar o setor de
inteligência do governo resolveu entrar no caso Farc-PT. Na quinta-feira
passada, a comissão do Congresso decidiu convocar o coronel e o espião. Os
membros da comissão também querem ouvir José Milton Campana, que hoje ocupa o
cargo de diretor adjunto da Abin e, na época, se envolveu com a investigação dos
supostos laços financeiros entre as Farc e o PT.
O senador Demostenes
Torres, do PFL de Goiás, teme que a discussão sobre o regimento sirva só
para adiar os depoimentos. “Para ouvir a versão do governo e tentar dar o caso
por encerrado, ninguém precisou de regimento”, diz ele.
3. O
caso Maurício Marinho
Capítulo 1 – Revista
Veja Edição 1.905 de 18 de maio de 2005
Trecho da matéria:
Há um mês, dois empresários estiveram no prédio central dos Correios, em
Brasília. Queriam saber o que deveriam fazer para entrar no seleto grupo de
empresas que fornecem equipamentos de informática à estatal. Foram à sala de
Maurício Marinho, 52 anos, funcionário dos Correios há 28, que desde o fim do
ano passado chefia o departamento de contratação e administração de material da
empresa. Marinho foi objetivo na resposta à indagação dos empresários. Disse
que, para entrar no rol de fornecedores da estatal, era preciso pagar propina.
“Um acerto”, na linguagem do servidor. Os empresários, sem que Marinho soubesse,
filmaram a conversa. A fita, à qual VEJA teve acesso, tem 1 hora e 54
minutos de duração.
Nota: As
investigações da PF e de uma CPI mostraram que o vídeo foi entregue à revista
pelo PM-araponga Jairo Martins, que “armou o cenário” da conversa com Marinho a
mando de concorrentes nas licitações dos Correios.
4. O
caso dos dólares de Cuba
Revista Veja
Edição 1.929 de 2 de novembro de 2005
Trecho da matéria:
[Vladimir]) Poleto [principal fonte da reportagem], até hoje, é um
amigo muito próximo do irmão de [Ralf] Barquete, Ruy Barquete, que
trabalha na Procomp, uma grande fornecedora de terminais de loteriapara a Caixa
Econômica Federal. Até a viúva de Barquete, Sueli Ribas Santos, já comentou
o assunto. Foi em um período em que se encontrava magoada com o PT por entender
que seu falecido marido estava sendo crucificado. A viúva
desabafou:
“Eles pegavam dinheiro
até de Cuba!”
Nota: A empresa de
Barquete venceu a concorrência da Caixa Econômica Federal para explorar
terminais de jogos em 2004, atravessando um acordo que estava sendo negociado
entre a norte-americana Gtech (antiga concessionária) e Carlinhos Cachoeira, com
suposta intermediação de Waldomiro Diniz. O banqueiro teria deixado de faturar
R$30 milhões em cinco anos.
A armação era para pegar
Antônio Palloci, padrinho de Barquete. Pegou Dirceu.
Clique
aqui para ver os detalhes da relação Cachoeira-Gtech, na matéria do
Correio Braziliense de 26 de setembro de 2005.
5. O caso Francisco
Escórcio
Revista Veja
Edição 2.029 de 10 de outubro de 2007
Chamada no alto, à
esquerda: Renan agora espiona os adversários
Na semana passada,
Demóstenes Torres e Marconi Perillo foram procurados por amigos em comum e
avisados da trama dos arapongas de Renan. Os senadores se reuniram na
segunda-feira no gabinete do presidente do Tribunal de Contas de Goiás, onde
chegaram a discutir a possibilidade de procurar a polícia para tentar flagrar os
arapongas em ação. “Essa história é muito grave e, se confirmada, vai ser alvo
de uma nova representação do meu partido contra o senador Renan Calheiros”,
disse o tucano Marconi Perillo. “Se alguém quiser saber os meus itinerários,
basta me perguntar. Tenho todos os comprovantes de voos e os respectivos
pagamentos.” Demóstenes Torres disse que vai solicitar uma reunião
extraordinária das lideranças do DEM para decidir quais as providências que
serão tomadas contra Calheiros. “É intolerável sob qualquer critério que o
presidente utilize a estrutura funcional do Congresso para cometer crimes”,
afirma Demóstenes.
Pedro Abrão, por sua vez,
confirma que os senadores usam seu hangar, que conhece os personagens citados,
mas que não participou de nenhuma reunião. O empresário, que já pesou mais de
120 quilos, fez uma cirurgia de redução de estômago e está bem magrinho, como
disse Escórcio. Renan Calheiros não quis falar.Com reportagem de Alexandre
Oltramari (que viria a ser assessor de Marconi
Perillo).
Nota: Demóstenes é
a única fonte que confirma a versão em que teria sido
vítima.
6. O caso do grampo sem
áudio
Capítulo 1 – Revista
Veja, Edição 2022, 22 de agosto de 2007
Capítulo 2 – Revista
Veja Edição 2073 de 13 de agosto de 2008
Capítulo 3 – Revista
Veja Edição 2.076 de 3 de setembro 2008
Chamada acima do
logotipo: “Poder paralelo”
Trecho da
matéria: O
diálogo entre o senador e o ministro foi repassado à revista por um servidor da
própria Abin sob a condição de se manter anônimo.
Trecho da matéria:
O senador Demóstenes Torres também protestou: “Essa gravação mostra que
há um monstro, um grupo de bandoleiros atuando dentro do governo. É um escândalo
que coloca em risco a harmonia entre os poderes”. O parlamentar informou que vai
cobrar uma posição institucional do presidente do Congresso, Garibaldi Alves,
sobre o episódio, além de solicitar a convocação imediata da Comissão de
Controle das Atividades de Inteligência do Congresso para analisar o caso. “O
governo precisa mostrar que não tem nada a ver e nem é conivente com esse crime
contra a democracia.”
Nota: O grampo sem
áudio jamais foi exibido ou encontrado, mas a repercussão da matéria levou à
demissão do delegado Paulo Lacerda da chefia da Abin.
7. O caso do “grupo de inteligência” do
PT
Capítulo 1 – Revista
Veja Edição 2.167 de 2 de junho de 2010
Trecho da matéria:
Não se sabe, mas as fontes de VEJA que presenciaram os eventos mais de
perto contam que, a certa altura…
Nota: A “fonte”
não citada é o ex-sargento Idalberto Matias, o Dadá, funcionário de Carlinhos
Cachoeira, apresentado a Luiz Lanzetta como especialista em
varreduras.
Capítulo 2 – Revista
Veja Edição de julho de 2010
Trecho de entrevista com
o ex-delegado Onézimo de Souza, que sustentou (e depois voltou atrás) a história
de que queriam contratá-lo para grampear Serra:
“O senhor foi apontado
como chefe de um grupo contratado para espionar adversários e petistas
rivais?”
Fui convidado numa
reunião da qual participaram o Lanzetta, o Amaury (Ribeiro), o Benedito (de
Oliveira, responsável pela parte financeira) e outro colega meu, mas o negócio
não se concretizou.
Nota: O outro
colega do delegado-araponga, que Veja não menciona em nenhuma das
reportagens sobre o caso, é o ex-sargento Idalberto Matias, o Dadá, capanga de
Cachoeira e contato do bicheiro com a revista Veja (o outro contato é
Jairo Martins, o policial associado a Policarpo Junior)
Clique
aqui e confira na entrevista da Folha de S.Paulo com Luiz
Lanzetta:
Leia também: Esqueçam
Policarpo, o chefe é Roberto Civita
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