Rodrigo
de Grandis é procurador da República, em São Paulo. Procurador, como define o
nome, procura e, quando acha, denuncia e acusa. Contudo, alguns procuradores e
também juízes se transformam em políticos e, sendo assim, fazem política,
escolhem lado partidário para apoiar e geralmente são conservadores
ideologicamente, ou seja, cidadãos que “surfam” pelo espectro ideológico à
direita.
O
procurador De Grandis deixou, recentemente, dúvidas na sociedade, porque não
pareceu muito cônscio de seus deveres, bem como deve ter sentido e percebido a
mesma coisa o procurador-geral da República e seu xará, Rodrigo Janot, que
acionou a Corregedoria do Ministério Público Federal para apurar a conduta de
De Grandis, porque ele simplesmente, durante dois anos e oito meses, arquivou
em pasta errada a solicitação de investigação do MP da Suíça.
Sendo
assim, o procurador do MPF em São Paulo, Rodrigo de Grandis, paralisou as
investigações sobre os supostos crimes de propinas pagas pela multinacional
francesa Alstom a autoridades e servidores de São Paulo. Um absurdo a desculpa
de De Grandis ou de qualquer servidor do MPF em São Paulo que trabalhe
diretamente com o procurador esquecido e, consequentemente, com fraca memória.
É
evidente que o arquivamento “equivocado” impediu uma investigação mais rápida e
pontual sobre o escândalo das propinas pagas pela Alstom aos tucanos paulistas
e seus aliados. Por sua vez, o MP suíço arquivou o caso na época, por falta de
cooperação do MP chefiado por Rodrigo de Grandis. Os suíços solicitaram à
Justiça brasileira que fossem feitas diligências de busca e apreensão na
residência do ex-diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM),
João Roberto Zaniboni, cidadão suspeito de ter uma conta na Suíça abastecida
com US$ 836 mil (R$ 1,84 milhão), a propina paga pela Alstom.
Esta
é a ponta do iceberg, porque muita gente de diferentes escalões do governo
paulista está envolvida, não somente com a francesa Alstom, mas também com a
alemã Siemens, outra multinacional poderosa, com tentáculos no Metrô de São
Paulo. E o procurador De Grandis a protelar e a praticamente esconder tais
escândalos e tudo fica como está, como se nada tivesse acontecido, pois a
impressão que se tem é que quando se trata de malfeitos de tucanos a impunidade
corre solta e a Constituição é rasgada.
Trata-se,
aparentemente, de um Judiciário e de um MPF do um peso e duas medidas, sendo
que em pleno estado democrático de direito o sentimento de muitos brasileiros é
de que esses poderes republicanos são seletivos ao investigar e punir. Por
isso, resguardam certos nomes da política nacional, bem como protegem partidos
e entidades que se aproximam de suas crenças, ideologias e conceitos
ideológicos e políticos, ao tempo em que combatem, sem trégua, aqueles que
porventura não rezam por suas cartilhas.
Seus
“adversários”, virtuais ou não, são tratados como inimigos a serem derrotados,
em nome de não sei o quê e quem, porque, não restam dúvidas, o papel de
promotores e juízes é tratar das pessoas que cometem malfeitos. Entretanto, o
que se vê e se percebe é que somente pessoas ligadas ao PT ou que participaram,
por exemplo, da constituição de seu caixa dois de campanha é que são
consideradas criminosas. Concomitantemente, os indivíduos que efetivaram e
participaram das arrecadações milionárias do caixa dois do PSDB, do DEM e do
PPS estão livres, leves e soltos.
O
STF inaugurou no Brasil o quarto “P”, dos que sempre devem ser execrados,
punidos e presos. O novo “P” é o P de petista, pois até então a tradição
brasileira rezava pela cartilha dos três pês: puta, preto e pobre. Com isso, a
democracia, às avessas, do Judiciário e do MPF brasileiros está a avançar.
Afinal, os donos da Casa Grande provaram que ainda mandam neste País, pois eles
são o próprio establishment, e gente togada e que se veste de preto, com
absoluta certeza, é parte integrante e, por seu turno, essencial para que o
sistema edificado para aquele que tem o domínio do capital perdure para sempre,
mesmo com os trabalhistas e reformistas, mas jamais revolucionários estejam no
poder há quase 12 anos.
Rodrigo
de Grandis e muitos de seus colegas de perfis conservadores sabem que a luta de
classe existe. Aliás, vou além: esquerdista, socialista, comunista e
trabalhista que acredita que o episódio da derrubada do Muro de Berlin acabou
com as ideologias e, consequentemente, com o fim da luta de classes, incorrem
em grave erro filosófico, ideológico e político. É tudo o que a direita quer e
deseja.
O
mundo apenas mudou seus conceitos, mas os ricos, os exploradores, o sistema de
capitais, o sentimento de colonizador e os procedimentos imperialistas jamais
vão sumir da face da terra enquanto existirem as grandes corporações privadas e
os estados beligerantes, a exemplo dos EUA e da Inglaterra, que vivem da guerra
e fazem da morte o combustível de suas sobrevivências. Os conceitos apenas se
modificaram para confundir a mente e a visão dos incautos, como o gato pardo à
noite confunde o olhar de seus olhos.
Este
foi o grande erro do PT. O partido e muitos de seus principais líderes e
militantes consideraram que ao conquistar o poder seriam aceitos pelo
establishment controlado pelos inquilinos da Casa Grande e proprietários dos
diferentes meios de produção, dos bancos e das indústrias de armas e de
petróleo. Em um primeiro momento, poucos meses de o presidente Lula assumir o
poder em janeiro de 2003, a imprensa de negócios privados tentou compor com os
novos “donos” do poder, e Lula, logo após sua vitória eleitoral, deu uma
entrevista a William Bonner diretamente da bancada do Jornal Nacional.
Lula
cometeu um erro estratégico, porque em hipótese alguma ou em qualquer tempo os
magnatas bilionários da imprensa, da estirpe dos Marinhos, pensariam, com
sinceridade, em apoiar ou pelo menos amenizar suas vocações golpistas e direitistas,
no que tange à esquerda no poder, como provaram no passado quando tal
oligarquia midiática combateu, sem água e trégua, os presidentes trabalhistas
Getúlio Vargas e João Goulart, bem como o governador da mesma corrente
política, Leonel Brizola.
A
luta de classe existe, com outras características, sendo que ainda é preservado
pelos conservadores os ditames da Guerra Fria, que tanto os beneficiaram e os
enriqueceram. A direita tem mais saudade do dinheiro que ganhou quando o mundo
era bipolar do que com os novos tempos, onde todos os gatos são pardos e seus
antigos aliados se transformam em tigres, porque a concorrência econômica e
geopolítica é voraz e feroz, sem tempo para ideologia, que o Cazuza queria ter
uma para viver.
É
ilusão a esquerda pensar que a luta de classe acabou, com o fim da União
Soviética. Todo dia, rotineiramente, as classes dominantes e médias demonstram
que a estratificação da sociedade em diferentes classes é uma realidade
concreta e preservada pelos que freqüentam a parte de cima da pirâmide social.
Os ricos e os médios odeiam a igualdade de oportunidades, as cotas e os
programas sociais. Principalmente os que permitem aos subjugados se tornarem
independentes. É uma questão primordial para quem está por cima e quer manter o
status quo para dominar aquele que não tem nada, inclusive estudo.
A
luta de classe é ideológica, existe e vai sempre existir, só que agora de forma
mais dissimulada. A verdade é que a luta de classe representa o próprio embate
ideológico, o que renega a igualdade entre os homens, para que uma classe
minoritária se beneficie, mantenha seus privilégios, com o propósito de manter
a hegemonia, a ser garantida pelo estado, por intermédio do dinheiro público,
que financia os salários e as condições de trabalho dos policiais.
O
Judiciário brasileiro e o Ministério Público são compostos por juízes e
promotores dedicados e que trabalham em prol da sociedade. Contudo, inúmeros
profissionais desse segmento são completamente desvinculados e dissociados dos
interesses da população, além de serem politicamente conservadores e inseridos
no contexto da luta de classe e também nos valores e princípios da burguesia.
Há
muito tempo afirmo que o STF e o MPF são verdadeiras cidadelas da classe
conservadora e que luta contra a inserção das classes mais pobres no mercado de
consumo e no acesso à escolaridade de boa qualidade e superior. O procurador
Rodrigo de Grandis representa fidedignamente os interesses do establishment,
fato este que ocorre com muitos juízes dos tribunais superiores e com o
ex-procurador da República, Roberto Gurgel, de triste memória.
Rodrigo
de Grandis tem de responder por seus atos e ações. O procurador-geral Janot
quer saber. A Corregedoria do MPF também. A sociedade está à espera. Afinal,
trata-se de valores que superam o R$ 1 bilhão. O procurador De Grandis tem
problema de memória, pois erra de pastas e por isso solicitações do MP da Suíça
ficaram quase três anos arquivadas em alguma gaveta empoeirada da Procuradoria.
Não
é a primeira vez que tal procurador comete erros graves e polêmicos. No
decorrer da Operação Satiagraha, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas duas
vezes e duas vezes foi libertado pelo juiz do STF, Gilmar Mendes, Rodrigo de
Grandis rapidamente pulou do barco e deixou à deriva o delegado e hoje deputado
Protógenes Queiroz, bem como o juiz Fausto de Sanctis, que, sozinhos,
enfrentaram a pressão fortíssima da imprensa de mercado e de Gilmar Mendes,
que, prontamente, concedeu dois hábeas corpus em tempo recorde ao banqueiro.
A
conduta de De Grandis aproximou o procurador do grupo de José Serra e da
imprensa corporativa, pois até hoje os processos e investigações que envolvem o
PSDB não tramitam com a celeridade necessária e muito menos os investigados,
acusados ou denunciados são levados, concretamente, à Justiça. Quem não sabe,
por exemplo, que os escândalos do Banestado, da compra de votos para a
reeleição de FHC, dos mensalões do PSDB e do DEM, da privataria dos tucanos,
que alienaram o patrimônio público brasileiro, da Lista de Furnas e agora os
casos Alstom e Siemens, dentre inúmeros outros escândalos, nunca foram levados
aos tribunais, no que concerne aos envolvidos responder à Justiça e, se
culpados pelos malfeitos, punidos e presos?
O
que não pode acontecer é o MPF e o Judiciário atuarem e agirem de forma
seletiva, ou seja, não republicana. Essas instituições públicas devem satisfação ao povo brasileiro,
porque as carreiras de juízes e promotores são, indubitavelmente, ligadas à
sociedade quase que umbilicalmente, pois são partes integrantes de defesa do
poder público, que representa os cidadãos ao tempo que lhes servem.
O procurador Rodrigo de Grandis pode não ter cometido malfeitos, como a prevaricação ou simplesmente exercer sua função de forma seletiva quanto à tramitação dos processos e às investigações e denúncias. Contudo, ele é investigado pela Corregedoria do MPF. Afinal, procuradores não deveriam ser gatos pardos, principalmente quando se trata do PSDB. É isso aí.
O procurador Rodrigo de Grandis pode não ter cometido malfeitos, como a prevaricação ou simplesmente exercer sua função de forma seletiva quanto à tramitação dos processos e às investigações e denúncias. Contudo, ele é investigado pela Corregedoria do MPF. Afinal, procuradores não deveriam ser gatos pardos, principalmente quando se trata do PSDB. É isso aí.
8 comentários:
Quando o cara arquiva um processo, como o Rodrigo de Grandis, ele é desonesto e conservador de direita. Quando o cara vai fundo num processo e condena os acusados, como o Joaquim Barbosa, ele é desonesto e conservador de direita. Essa é a coerência de Davis Sena Filho. Petistas choramingando em 3, 2, 1...
voce está equivocado Jorge"coxinha"Marcelo. esse"mensalão"sem provas foi julgado pela midia. já esse que tem muitas provas,não está sendo por que a imprensa não quer.afinal,ela está metida até o pecoço!
ESSE TAL DE JORGE MARCELO DEVE TER PROBLEMA MENTAL. O CARA LÊ UM TEXTO FORMIDÁVEL COMO ESSE E NÃO APRENDE NADA E O PIOR; DISTORCE O O QUE ESTÁ ESCRITO, NÃO SEI SE É BURRICE OU MÁ FÉ. O ARTICULISTA DAVIS SENA FILHO É UM DOS MAIORES PENSADORES DA NOSSA IMPRENSA, QUERENDO OU NÃO OS CONTRAS.
Segundo o procurador da República Rodrigo de Grandis, responsável pelas investigações sobre os negócios da Alstom no Brasil, houve uma “falha administrativa”: o pedido da Suíça foi arquivado numa pasta errada e isso só foi descoberto em 24/out/2013.
Eis aí um novo tipo de 'arquivamento'! Desde 2011, quando autoridades da Suíça pediram investigações sobre o cartel tucano!
A gaveta do grandis é maior que a gaveta do gurgelZINHO - aquele ex-stfZINHO.
Foi uma Grandis gaveta para um Grandis arquivamento.
Para os amestrados - totalmente alienados e desprovidos de conhecimento - isso chama-se 'arquivamento'.!?!?!?!?!?!!?
A Maria Cândida está pletora de razão...inclusive quanto ao problema mental do comentarista obsessivo(deve ter problema, também, de toque-TOC, repetindo as mesmas tranqueiras) que tem, sim, claramente, muito de burrice(com um pouco mais de inteligência, ESTA pessoa não perderia o tempo aqui, neste blogue contrário ao reacionarismo escancarado dela) e ,mais ainda , de má-fé, ou seja, é perversa. Ou será que ela está teclando diretamente de uma clínica psiquiátrica? (com todo respeito). Pela quantidade de observações/críticas feitas por inúmeros leitores, quanto ao "estranhíssimo no ninho", o diagnóstico da Cândida está correto. Não pode todo mundo estar errado e somente elezinho certo.
Quanto ao brilhante sr. Davis, considero este um dos seus mais assertivos e iluminados textos.Infelizmente não tenho tempo para comentar outros tantos recheados de excelências. Realmente ele é um grande pensador favorecido por uma inteligência excepcional e possuidor de um riquíssimo capital cultural, evidentemente. Parabéns e aplausos sinceros para o nobre e corajoso blogueiro.
Marcos Lúcio
Olá pessoal, para além do estilo primoroso de escrita,o Davis tem uma sensibilidade educativa,que vai além da disseminação de informações,muitas vezes desconexas,apesar de reflexões que possam estar subtendidas.Para mim,que sou ateu,materialista histórico,dialético e libertário,para além das informações e reflexões,sinto -as carregadas de dimensões pedagógicas,por isso,educativas.Gostei da forma de expressar as questões,problematizá-las e sugerir pistas,indagações.É isso aí,...se não,parece. Zé
Em solenidade na UNIRIO nos idos de 2001 ou 2002 um desembargador ex- presidente do TJRJ declarou que no judiciário pode sempre ocorrer o caso de que, sendo levado ao conhecimento do juiz titular de que a parte segue orientação política à esquerda a decisão de condená-la começa a ser preparada.Deu um exemplo de caso concreto de uma ação no estado do Pará, na qual um homem foi condenado sem provas. Na mesma universidade um professor de direito penal ocupante de alto cargo na república fez comentário semelhante em aula.Podemos acrescentar, sem medo de errar, os fatos aí estão para provar, que a hipótese serve para qualquer instância do judiciário, principalmente a última.Quanto à última(instância), lembremos das gravações do "banqueiro" Oportunist apresentadas nas televisões em que dizia para comparsa que não o preocupava a última instância mas as primeiras
Falou e disse, Cuervolist.Mandou muito bem!
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