Por Davis Sena Filho — Palavra Livre
Era uma vez um
promotor. Promotor é aquele sujeito responsável pela defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. O
nome do servidor público muito bem pago pelo contribuinte é Aroldo Costa Filho.
Tal cidadão, equivocadamente e autoritariamente, faz a vez de justiceiro. É
verdade. Ele é conhecido em Ribeirão Preto, cidade de São Paulo, pela sugestiva
alcunha de xerife.
Então nós temos
em nosso meio, para infelicidade da sociedade, mais um sujeito que trabalha no
Ministério Público que age de maneira insana, preconceituosa, violenta, além de
completamente estabanada. O autor da desordem digna de um trapalhão de programa
de tevê é pai de um "pimpolho", que tem uma academia na cidade, que
atende às classes média e alta na chamada Califórnia brasileira.
O fato lamentável,
considerado por muitos como um acinte contra a cidadania, que levou o promotor
trapalhão e autoritário a humilhar um cidadão brasileiro desempregado,
aconteceu em um bar. E se deu assim:
Axel Barbosa,
trabalhador de 22 anos e pai recente de um bebê, saiu da cidade de Serrana (SP)
para fazer exame de admissão para trabalhar em um supermercado, como repositor
de produtos. Negro, pobre e a vestir roupas simples, viajou até Ribeirão Preto,
sem ter tomado o café da manhã. Com fome, e antes de chegar ao local do
emprego, resolveu pedir dinheiro a uma moçoila que saía da academia do filho do
promotor Aroldo Costa Filho.
Axel disse que
pediu dinheiro à mulher, cujo nome é Fabiana, que, segundo ele, respondeu que
tinha quatro reais. O rapaz disse que servia, porque estava com fome. A moça
lhe repassou o dinheiro. Axel agradeceu, retomou seu caminho e dois quilômetros
depois entrou em um bar, quando pediu ao atendente de balcão do comércio um pastel
e refrigerante.
Enquanto isto,
a moça de classe média e frequentadora de academia ligou para os seus iguais,
que também fazem exercícios no local para falar do ocorrido. Entretanto, o
intrépido, valente e voluntarioso promotor Aroldo, um Zorro sem capa e espada, resolveu
interceder para "salvar" dos perigos inomináveis e vorazes o seu
"pimpolho", dono de academia, bem como sua freguesia atlética, dourada
e bem nutrida.
A verdade é que
a coxinha se sentiu incomodada ao ser abordada por um pedinte que estava com
fome. O confundiu com um bandido, certamente por estar mal vestido, ser negro e
pobre. São os coxinhas reacionários e preconceituosos de classe média, que
odeiam o Brasil, o povo brasileiro e tudo aquilo que possa lembrar este País,
mesmo a existir e acontecer coisas boas, como a academia da galerinha sectária
e elitista, bem como o alto salário, a carreira estável, prestigiosa e poderosa
de um promotor de justiça.
Aliás, diga-se
de passagem e sem generalizar, existem a agir e a atuar promotores,
procuradores e juízes totalmente divorciados das causa públicas e distantes dos
interesses e das necessidades do povo brasileiro, como se comprova, irrefragavelmente,
nos casos de procuradores agirem de forma política, tomarem partido, escolherem
lado, demonstrarem suas ideologias e quererem governar no lugar dos políticos
eleitos pelo povo, por intermédio da força das urnas.
Procuradores e
promotores que estão no paraíso, a quererem administrar os executivos, em todas
as esferas de poder, como se eles tivessem a autorização do povo para tanto. A
verdade é que se trata, sobretudo, de servidores que se tornaram seletivos e
somente denunciam e acusam um lado do xadrez da luta política.
Promotores que não
tem conhecimento político, desconhecem os bastidores da política e a
criminalizam, bem como ignoram o processo administrativo e por isto o
judicializam, como forma de engessar ou congelar as ações do Estrado no que diz
respeito à efetivação dos projetos e dos programas direcionados,
principalmente, às classes sociais mais pobres, bem como às obras de
infraestrutura, que geram emprego e renda.
E muitos desses
promotores, procuradores e juízes sabem disso, e fazem política, a se
aproveitar de seus cargos. Inúmeros servidores do MP se acumpliciaram à pauta e
à agenda da imprensa e da oposição de direita liderada pelo PSDB. São fatos
visíveis e notórios. Não há como se enganar, além da cumplicidade e o apoio da
imprensa de negócios privados dos magnatas bilionários, que fazem oposição
canina aos governos trabalhistas desde 1930. É assim que a banda toca no que é
relativo a certos promotores e procuradores políticos. Ponto.
Por sua vez,
continuemos: O batman vestido de promotor, mas sem o capuz, entra no bar, grita
com o trabalhador em busca de emprego, o enquadra e dá ordem para ele se encostar
de frente para a parede, com as mãos para o alto. De repente, ouve-se o barulho
de tiro. Certamente o tiro só pode ter saída da arma do Zorro, sem capa e
espada, mas com um canhão na mão. O jovem por sorte não foi atingido. Por seu
turno, o rapaz de 22 anos foi levado indevidamente à delegacia.
Ao chegar ao
recinto, o trabalhador que estava prestes a se empregar naquele fatídico dia
explicou a situação. Era a palavra dele, um simples cidadão, contra a de um
promotor, que tem fama de xerife e que, segundo testemunhas, tem relações
próximas com policiais, conduta esta que o promotor jamais deveria ter, porque
ele, por intermédio de seu cargo e função, é quem fiscaliza e denuncia as más
ações de policiais que, porventura, aconteçam.
Resumo da
ópera: o jovem trabalhador e pai de família ficou dois dias preso por não ter
feito nada. Não cometeu quaisquer crimes. O primeiro delegado que recebeu a
queixa do promotor se recusou a prender o cidadão, porque considerou
inconsistentes as acusações. Todavia, o promotor-coxinha não se deu por
vencido. Ele encontrou um segundo delegado, que encarcerou o trabalhador por
dois desditosos dias.
Injustiça
absurda! E por quê? Porque quem deveria ser preso e afastado por abuso de poder
em pleno exercício do cargo e função é exatamente o promotor, um misto de
batman com zorro, que agora está a gozar suas férias no exterior, a vestir uma
camisa com a bandeira dos Estados Unidos no peito, como um verdadeiro,
autêntico, legítimo e genuíno coxinha de classe média alta, de pensamento e
valores colonizados e que chegou ao paraíso, a gozar do status quo que o poder
público lhe concedeu, ou seja, o povo.
Só falta agora
o promotor-pistoleiro ir à cidade de Orlando, abraçar o Mickey para bancar o
Pateta. No paraíso dos coxinhas brazucas, certamente, ele está a ser simpático,
a dar uma de cosmopolita, sendo que não passa de um provinciano, com performance
elitista, que no Brasil persegue pobres e desempregados, a dar tiro,
estupidamente, com o risco de matar ou ferir àquele que ele considerou ser um
bandido.
Segundo as
testemunhas presentes no bar, o promotor-xerife à moda texana tremia muito
enquanto empunhava sua arma. A tremedeira talvez seja devido a não o
trabalhador ser um possível bandido, mas, sobretudo, por ser pobre, mal vestido
e, quiçá, negro. Conheço os coxinhas. Sei de seus medos, rejeições e
superficialidades. Questão de DNA. Enfim, preconceitos.
Contudo, o tiro
é realidade factual que, espertamente e malandramente, não foi citado e muito
menos registrado no boletim de ocorrências da delegacia. O tiro foi um fato
grave, e a conduta do promotor é terrivelmente violenta. E se fosse o filho
dele? Como o delegado e o promotor que prenderam o trabalhador se comportariam?
Qual é o problema mental dessa gente? Que juízo de valor é este? Do Mussolini?
O que não fariam com o rapaz se ele estivesse na periferia ou no morro?
Durma-se com um barulho desses?
Aroldo Costa
Filho, o promotor imprudente e desatinado, deveria ser severamente punido por
sua instituição. Não é a primeira autoridade e nem vai ser a última a cometer
desatinos, covardias e autoritarismo, a se valer de um cargo conquistado em
concurso público. Como pode uma pessoa que não era nada, em termos de
autoridade, passar em um concurso e depois se prevalecer para oprimir os
cidadãos deste País?
O tal de
Aroldo, porque é assim que ele deve ser considerado, não tem este direito. O
promotor não pode esbofetear a sociedade. Pelo contrário, este servidor público
tem o dever de protegê-la de quem não respeita a Lei e a cidadania. A mesma cidadania
que paga seus altos salários e concede-lhe autoridade. Por sua vez, não
autoriza-lhe o direito à violência contra o cidadão, que não cometeu crimes ou
ilegalidades e, portanto, não infringiu a Lei.
O justiceiro
das causas filiais e "coxinhais" está a se deleitar nos Estados Unidos
— o país que os coxinhas amam, mas sem abrir mão de ganhar dinheiro, evidentemente
e espertamente, no Brasil. Enquanto isto o trabalhador humilhado e violado em
seus direitos está desempregado. Ele foi preso e indubitavelmente prejudicado
por um promotor completamente descompromissado sobre o que é justo e republicano.
O zorro-promotor
nem sabe o que é isto ou do que se trata. Apenas fez um concurso público, e
pronto. Pelo menos neste caso. O que você acha, camarada? Eu acho que os
cidadãos que prezam a cidadania e o Estado de Direito gostariam muito de ver o
tiro do batman Aroldo Costa Filho sair pela culatra, mesmo a gozar a vida nos
"States", como gostam de dizer, provincianamente, os coxinhas
colonizados e com complexo de vira-lata. É isso aí.
5 comentários:
Xerife foi ótima.
Belo texto escrita por alguém que sabe o que é cidadania. Sem comentários para esse arrogante xerife do velho Oeste!
Isso não é promotor é um canalha maldito que devia estar preso, igualzinho ao outro que prendeu a zeladora por causa dum chocolate.
Não passa de um bandido que fez concurso público e usa o posto para ocultar seus crimes. É o pior tipo de criminoso. Já disse em outro lugar: enquanto o preenchimento dos cargos do Judiciário depender apenas da decoreba de leis e manuais jurídicos, sem uma ampla formação nas ciências humanas, continuaremos reféns de incompetentes, desequilibrados e do pior tipo, os facciosos dados a perseguições políticas, todos sem a necessária estatura moral e humana para as funções elevadas que exercem.
A imprescindível reforma política deve incluir radical reformulação do sistema judicial, com profundo corte nas regalias indevidas, que criam uma casta justamente onde deveria haver a defesa da igualdade sociopolítica de cidadãs e cidadãos.
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