As respostas ao tempo que as perguntas saíram da boca do ex-governador do Rio de Janeiro e atual deputado federal pelo PR, Anthony Garotinho, como dois diretos de um boxeador no queixo da jornalista Mariana Gross, do RJ TV, da Rede Globo de Televisão.
Acostumados a acuar até presidentes da
República, ainda mais se tais mandatários são considerados inimigos e
contrários aos seus interesses políticos e comerciais, a família Marinho é
useira e vezeira em triturar reputações de políticos, além de intervir,
indevidamente e arrogantemente, no processo político brasileiro, como ocorreu,
de forma mais drástica, no golpe militar de 1964 e na edição mequetrefe do
debate entre Lula e Collor nas eleições presidenciais de 1989, que favoreceu o
“Caçador de Marajás”.
As Organizações(?) Globo e seus diretores,
editorialistas, editores, colunistas e comentaristas são membros de um partido
político de essência conservadora e que atua e age de forma não oficial. Uma
agremiação política midiática que tomou, com a aquiescência dos partidos de
direita, a exemplo do PSDB, DEM e PPS e com a cumplicidade de setores
conservadores do MP e do STF, o lugar da oposição partidária aos governos
trabalhistas do PT.
Esses segmentos formam uma frente
conservadora de atuação política e propagandista poderosa e trabalham,
diuturnamente, para que os candidatos de esquerda e trabalhistas, notadamente
os petistas, sejam derrotados principalmente em eleições presidenciais. Sempre
foi assim. Historicamente.
Para a direita, não controlar o Governo
Federal é como se um homem ficasse sem os braços, porque as pernas a burguesia
as tem para trilhar pelos caminhos de sua influência e poder, a fim de
concretizar sua hegemonia como classe dominante. A conquista do Palácio do
Planalto é o bolo da cereja de todo esse processo político que remonta ao
Brasil Colônia.
A Casa Grande é um vespeiro de pessoas muito
ricas e influentes inconformadas com a ascensão social das classes populares e
tudo o que essa realidade representa, bem como é oposicionista ferrenha da
autonomia e independência do Brasil, principalmente no que diz respeito à
diplomacia internacional emancipadora efetivada por Lula e Dilma Rousseff, no
decorrer de 12 anos. Os Brics, o Mercocul, a Unasul e o fortalecimento das
relações Sul-Sul em termos hemisféricos são realidades que comprovam a
autonomia brasileira conquistada por intermédio dos governos petistas.
Mariana Gross, uma das apresentadoras do RJ
TV estrila, irrita-se e responde a Garotinho, candidato que lidera as pesquisas
ao Governo do Rio, que a Globo não sonega impostos. Mariana, a jornalista
global, toma as dores de seu patrão e, de entrevistadora, transforma-se em
política e trava com o candidato, com passado no trabalhismo e lançado na
política por Leonel Brizola, um bate-boca inconveniente a uma profissional de
imprensa, porque, na verdade, ela é apenas uma empregada, que aluga sua força
de trabalho a empresários para receber salários e benefícios, que ela possa ter
de sua empresa por força de contrato.
Como a Globo sempre faz com os políticos que
não rezam por sua cartilha, Mariana Gross fez perguntas agressivas, pois são
mais acachapantes do que às indagações consideradas duras, mas palatáveis para
políticos experientes e inteligentes, bem como aceitas pelo público, que ora
está curioso para saber de suas propostas e, posteriormente, decidir sobre seu
voto e, por conseguinte, eleger o governador do Rio de Janeiro.
Mariana perguntou a Anthony Garotinho sobre
as acusações de corrupção quando ele foi governador do Estado fluminense. O
candidato do PR respondeu que ele nunca foi condenado e que o MP acusa e a
Justiça pune — o que não é o caso dele, porque “Quem erra paga pelos seus
atos”. E complementou: “Eu não tenho essa condenação”. O político deu a
entender que não seria a Globo que o acusaria e o julgaria.
Entretanto, Garotinho reagiu de bate-pronto e
respondeu à jornalista de forma contundente: “Agora mesmo acusaram a Globo de
estar envolvida em um desvio milionário, com laranjas em paraísos fiscais. Eu
não sei se a Globo é culpada. Eu até acho que é”.
A verdade é que o desvio propalado por
Garotinho não é milionário e, sim, bilionário, de acordo com os valores
calculados pela Receita Federal, bem como a Polícia Federal, o MP e o
Judiciário já tratam desse caso, que ora está parado nos escaninhos do poder
público. Um absurdo.
Mariana Gross, surpreendida pelas palavras de
Garotinho, o interrompeu e tomou as dores de seus patrões: “Candidato, a Globo
não sonegou nada. Eu deixo claro para o senhor”. Como assim cara pálida, a
Globo não comete malfeitos? Como assim? A jornalista é advogada dos Marinho?
Ela faz parte da cúpula da empresa? Tem autonomia e poder para tratar das
finanças e dos negócios da Globo, e por isso a apresentadora do RJ TV saiu em
defesa da empresa onde ela é empregada?
A nova “advogada” rapidamente mudou de
assunto e perguntou sobre a redução do IPVA. Todavia, a Globo não se dá
facilmente por vencida, e Mariana voltou à tona, e perguntou se as pessoas
poderiam confiar no candidato, se Garotinho quando governador aumentou o IPVA e
agora diz que vai reduzi-lo.
O ex-governador afirmou que fez autocrítica e
que considera a redução do IPVA uma questão importante para a população do Rio
de Janeiro. E emendou: “Quantas coisas na vida a gente faz autocrítica? Por
exemplo: a Globo apoiou a ditadura. Depois passou um tempo, né? Fez autocrítica
e reconheceu que não devia ter apoiado a ditadura”.
Considero emblemáticas as respostas de
Garotinho às perguntas de Mariana Gross. É muito difícil e raro um político
entrar em um estúdio da Globo e questioná-la duramente, ao ponto de a
jornalista se submeter aos seus interesses, bem como de seus patrões ao fazer,
no papel de entrevistadora, contraponto político a um candidato a cargo
executivo, sem, no entanto, não ser a função dela.
Mariana Gross não é uma das donas da Globo, e,
portanto, não responde pelos processos que a empresa onde ela trabalha está a
resolver na Receita e na Justiça. A jornalista não é advogada da Globo.
Portanto, suas respostas a um candidato, seja ele qual for, independente de
partidos e cores ideológicas, o são indevidas, impróprias e arrogantes.
O PT está no poder e até hoje não efetivou o
marco regulatório para os meios de comunicação, conforme está previsto pela
Constituição de 1988. O PT deveria fazer uma autocrítica e, se vencer as
eleições presidenciais, torna-se imperativo fazer duas coisas: a primeira é a
reforma política; e a segunda é a efetivação do marco regulatório para as
mídias também conhecida como Lei dos Meios.
Garotinho é um político ideologicamente e
politicamente dúbio, mas é popular. Move-se à direita e à esquerda, mas se
considera trabalhista e se diz admirador de Leonel Brizola. Transita em certos
segmentos evangélicos, mas é rejeitado por parte importante e poderosa desse
mesmo segmento religioso.
Conviveu com o político trabalhista
histórico, que governou o Rio de Janeiro duas vezes e o Rio Grande do Sul.
Tempos depois rompeu com Brizola e trocou de partidos de acordo com seus
interesses políticos mais urgentes. Realmente, um pragmatismo que fez muitos de
seus eleitores e aliados que se consideram trabalhistas se afastarem de seu
círculo político.
Contudo, a atuação de Garotinho nos estúdios
da Globo demonstra que a megaempresa, que luta incessantemente para pautar a
vida brasileira, pode ser, sim, combatida, inclusive dentro de seus domínios e
com a força da lei, como, por exemplo, a Lei Eleitoral, que propiciou a um
político adversário da família Marinho a dar respostas contundentes à jornalista
do RJ TV, um jornal visto por milhões de cariocas e fluminenses. A Globo e os
Marinho conhecem o Leonel Brizola, que manda lembranças. É isso aí.
3 comentários:
Excelente Davis. Colocou a jornalista em seu devido lugar e mais uma vez, incansavelmente, mostra como a imprensa da Casa Grande atua nos bastidores e também às claras. Parabéns pelo texto e por seu aniversário.
Só uma ressalva: Brizola não era mau caráter como Garotinho. De resto, muito bom o texto.
Muito bom texto. Otto, concordo contigo, mas o Davis não comparou Garotinho com Brizola. Apenas fez uma explanação sobre sua origem política e, para o nosso deleite e felicidade, acabou com essa jornalista puxa saco de patrão. A Globo merece a gente que tem como serviçais. Abraço.
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