ESPAÇO BICO DE PENA — BLOG PALAVRA LIVRE
Tristeza...
Irremediavelmente somos tristes.
E não há espaço para a euforia, alegria —
júbilo.
O regozijo em forma de sonho da felicidade.
O alvo da humanidade tão ilusório como o
horizonte do poente.
Lindo e essencialmente um painel de luzes
intangíveis,
Pois sonho de consumo, a triste felicidade
Vendida pelas propagandas e os sorrisos de
rotina daqueles que sequestram o seu desejo de desejar,
Para que possamos acreditar no amor, no trabalho
e que a vida vale à pena se você comprar e vender sem perder um braço ou a
dignidade.
O coração a bater como mistério de fundo da
alma,
Já desconstruída por insondáveis desejos e
ansiedades — venenos sepulcrais do espírito,
O raciocínio direcionado para canalizar o
pensamento, a fim de pasteurizá-lo como leite misturado à água de todos os
empresários que estupram quaisquer princípios para angariar vintém.
A cocaína dos que acumulam o vício de
acumular vaidades, prepotências, e fazer da vileza a bíblia de sua vida vazia
alicerçada no diabólico desconhecimento que a vida viceja quando temos saúde e
por isto temos prazo de garantia, como o tem os amores que te acompanham por
toda a vida, igualmente os que perdemos, deixaram saudades, bem como os dissabores
que enfrentamos até o último suspiro dos pulmões.
O parar do coração e o pensamento e
raciocínio que nos transformam essencialmente em seres imortais e eternos através da
existência dos nossos filhos e nostalgia dos verdadeiros amigos, que lhes
estenderam a mão em momento de fraqueza moral, penúria material, dor carnal, desajuste
psíquico e sofrimento emocional.
A transformação do homem pela experiência, o
que permite perceber e compreender que chegou a idade pródiga, sem ao menos nunca
ter abraçado um desconhecido que chora nas ruas, mas sabe, empiricamente e
tristemente, o porquê de tal dor que o aflige, porque a condição humana
equivale a todos em vida e nos iguala no justo silêncio do cemitério cujo
espelho reflete todas nossas vilezas, preconceitos, maledicências, ofensas,
traições e egoísmos cuja chibata é a nossa língua matreira e desonesta, porque
somos viciados, dependentes em último grau da nossa oportunista hipocrisia e
desejo incontrolável de nos considerarmos especiais, quando a verdade é que
cedemos o lugar para um idoso no ônibus desgostosos por não podermos continuar
a sentar em nossa confortável miserabilidade humana digna da misericórdia de
Deus e do ódio de nossos semelhantes frágeis mortais que lutam a vida inteira
para serem um pouquinho reconhecidos pela sociedade – mãe dos “santos” ao tempo
que dos bandidos, que a trata como caça, pois predadores de suas almas e do
sofrimento alheio.
Eu, tristemente, sou impuro como a felicidade
que os homens acreditam ter, e por isso tentam em vão transformá-la em poesia
concreta, cujo combustível é a infelicidade intoxicada por sua humana tristeza,
que corre em minhas veias e de todos nós.
O ser nascido nu. Evidentemente despido de
vaidade, preconceito, intolerância e arrogância perante “Seu” Deus
misericordioso em trabalho de parto. O tempo — o senhor da razão e da
inconsciência – o sabedor do segredo da vida em todas as plenitudes e infinitos
números desconhecidos de toda humanidade, porque não sabemos quem somos e
desconhecemos a nossa origem mais profunda e não dimensionamos a nossa
felicidade, porque sabemos o que é dor, a que nos causa tristeza – o amparo e o
anteparo que, na realidade, é o que nos faz seguir em frente mesmo a temer o
que não sabemos, o que nos espera.
Sinto-a como o estranho que mora em meu
espírito e que se recusa a sentar no sofá da sala para dizer quem você
realmente é.
Penso que existência, desconhecimento e
coragem são os combustíveis do medo.
Sabotam a vida e emboscam o teu presente,
Porque o futuro é irremediavelmente a morte.
A pérola que não enfeita a concha das águas,
Mas embeleza o colo da mulher e os sorrisos
moldados pelo batom da fêmea que se enfeita para seu contentamento e satisfação
de ser notada para ser cortejada pelo macho, porque o objetivo final é a
procriação e a apropriação da humanidade, que, de dor em dor, luta para subir
no pódio da Felicidade.
A palavra-chave, essência da propaganda para
que o sistema edificado na família continue a vender e a comprar, e,
consequentemente, nos drogar, te chapar de todas as formas para que possamos
aceitar, resignadamente, o nosso destino de bucha de canhão, de escravos que
trabalham décadas, que transformam seus casamentos em sucursais do inferno e as
ruas em frentes de guerras, pois o que interessa é manter intacto o sistema,
que atende a uma minoria, que igualmente sente tristeza, porque ser feliz em um
mundo violento e perverso como esse só matando de forma definitiva o que resta
de dignidade para continuarmos vivos e olharmos sem muito trauma nossa cara no
espelho.
As mulheres que em algum momento pensaram que
me amaram e que tem a Graça e a condescendência de me considerarem pequeno para
entender o amor. Como se tivessem pena da minha incapacidade em compreendê-las,
apesar de meu esforço quase hercúleo de pelo menos agradá-las.
E me deixaram... Mataram meu amor, apesar de
minha cumplicidade com o amor que eu sentia por elas.
Menino solto na amplidão do tempo e
prisioneiro da vida que flerta com a morte, que, em troca, oferece-lhe a
tristeza de sonhar em conquistar a felicidade, o dínamo que faz pulsar e
ensanguenta o coração solitário da
humanidade.
A tristeza tão simplória e frágil e submissa
que troca e cede tudo por ter desejado uma vida inteira ser amada por um
bem-querer, que aceite ser seu, se possível “até que a morte nos separe”.
Engano, engodo... Trapaça promovida pelo
sistema, mas tolerada pelos que se sentem amar, afinal todos sabemos que não é
bem assim, mas somos sozinhos, vítimas da tristeza e amantes da felicidade.
Todos, humanamente, buscamos companhia e o amor, mesmo quando não acreditamos
mais em nada, a não ser quando alguém diz que gostaria muito de sair com você
ou comigo. Não tem jeito. Irremediavelmente ressuscitamos a esperança que corre
em nossa essência apesar da tristeza e da dor que a busca pela felicidade nos
causa.
O que as pessoas querem é doar seu amor e
recebê-lo em forma de sentimento verdadeiro em forma de cumplicidade — o seu e
o meu olhar.
A metafísica, a energia tornada preocupação
em amar. O cuidar, a esperança de sair da vida livre de saber que nem tudo é
dor e abandono, culpa e tristeza.
As flores de minha paixão se transfiguram em
perfumes delicados e suaves.
Cheiros dispersos e incontáveis como as
estrelas tão infinitas como os céus e os ódios e paixões da humanidade perversa
e violenta, mas que, incompreensivelmente, quer amar e ser amada.
Tão voláteis como o suor do meu corpo, as
lágrimas de minhas emoções e sonoras como a minha voz já rouca pelo tempo e
insincera, pois penso nos amores que tive e na poesia em que me enganei, a fim
de exorcizar a solidão — a minha indissociável solidão em relação ao tempo que
compartilhei com a minha razão. Amante fiel de minha tristeza. Leal à morte e
porta-voz dedicada da minha intangível felicidade.
Jamais saberei o que a Felicidade pensa,
porque no fundo toda mulher sabe que o homem tem medo do seu olhar quando
percebe que ela pode ler sua alma e por ele sentir amor.
Triste e torturado pelo tempo, o relógio não
move suas horas libertas para pisar o chão e caminhar pela vida sem fronteiras
e conquistar a felicidade, que não tem hora e nem lugar para se transfigurar em
verbo.
Bem-querer.
Davis Sena Filho
Rio de Janeiro, 4 de março de 2014.
Rio de Janeiro, 4 de março de 2014.
Um comentário:
Sem dúvida um belo, pungente e áspero depoimento/desabafo. Mas, ainda bem que
"nem tudo é dor e abandono, culpa e tristeza".
Como a impermanência é a essência da vida como ela é...faço minhas as palavras do Miguel Sousa Tavares: "E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre".
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