Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre
O juiz
do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, não deu à Polícia Federal a
ordem para prender os réus envolvidos e condenados por causa do “mensalão”, que
ainda está para ser comprovado, porque, como afirma a imprensa de direita e de
oposição aos governos trabalhistas, o magistrado resolveu cumprir os trâmites
legais de tal processo. Nada disso.
A
verdade é que Joaquim Barbosa, homem de personalidade agressiva e ditatorial,
percebeu que não poderia cair no canto de cisne do procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, que, maliciosamente e sem nenhuma preocupação com a
ética e o respeito devido aos outros juízes do STF, esperou que eles entrassem
em recesso para apresentar os pedidos de prisão dos réus e com isso evitar a
votação em plenário sobre o caso.
Gurgel
procedeu de maneira antiética para aumentar as chances de prisão imediata dos
réus. Tal procurador não exerce sua função de estado como chefe da PGR para
defender os interesses da sociedade brasileira, independente de questões
políticas, ideológicas, governamentais e empresariais. Sua atuação é
nitidamente e claramente política e ideológica, e ele assim procede com desenvoltura.
O procurador faz, de fato, política — e partidária.
Joaquim
Barbosa e Roberto Gurgel formam uma dupla que, para inúmeros juristas,
advogados e professores universitários de Direito não observam o Código Penal,
a Constituição, o regimento interno do STF e da PGR. Por isso, os
questionamentos sobre suas atuações e decisões sobre o caso “mensalão” — que
está ainda para ser comprovado.
Joaquim
Barbosa não quis assumir, sozinho, a decisão de mandar pessoas para a cadeia,
sem, no entanto, não observar os trâmites legais, como o direito dos réus de recorrerem
das decisões do julgamento pelo motivo de o processo ainda não ter sido
transitado em julgado. Sendo assim, não comporta a prisão de qualquer cidadão
brasileiro, porque seus direitos são garantidos pela Constituição, bem como o
Código Penal não deixa dúvida sobre essa questão.
Entretanto,
a imprensa de negócios privados pressionou para que, mesmo no recesso,
acontecessem as prisões, principalmente dos dirigentes do PT. Os barões da
imprensa golpista, que não tem compromisso algum com o Brasil e seu povo,
distorceram a realidade e ignoraram, solenemente, a Lei, que não permite,
repito, que alguém seja preso sem ter o direito de recorrer, se o seu caso não
tenha sido ainda transitado em julgado, com exceção, por exemplo, dos crimes de
sangue.
Além
disso, a oposição partidária de direita, a exemplo do PSDB, DEM e PPS, repercutiu
mais uma vez, no Congresso, os desejos da imprensa corporativa e de mercado,
que apostava na prisão imediata dos réus do “mensalão”. Ou seja, a imprensa
comercial e privada e os partidos de direita, como sempre, apostaram na
ilegalidade, apesar de em seus discursos e opiniões distorcerem a verdade,
escamotearem suas intenções e manipularem os fatos, com o objetivo de trazerem
para si parcela da população mais incauta, ressentida e de perfil conservador,
como, por exemplo, grande parte da classe média cooptada pelos valores e os
princípios de uma “elite” econômica entreguista e herdeira da escravidão.
O
tiro do procurador-geral Roberto Gurgel saiu pela culatra, não porque o senhor
J. Barbosa não quisesse concordar com os pedidos de prisão do condestável
procurador. O presidente do Supremo recuou porque não teria como ele
desrespeitar o estado democrático de direito, mesmo a ter o apoio de uma
imprensa de caráter fascista, de passado e presente golpista e de uma direita
partidária hidrofóbica, oportunista e que tem a perfeita compreensão que não
vai sentar novamente na cadeira da Presidência da República, por intermédio do
voto popular.
O
problema dessa gente reacionária e perigosa é que quando esteve no poder não
considerou os interesses do povo e, consequentemente, nem emprego criou para os
brasileiros, que atualmente experimentam o que nunca tiveram: a satisfação de
vivenciar o pleno emprego, o acesso ao consumo por terem poder de compra, além
das inúmeras oportunidades de estudo, bem como a facilidade de acesso a
empréstimos e com isso realizarem sonhos como o da casa própria, da compra de
automóvel e da linha branca doméstica e até mesmo viajar de avião.
A
verdade é que o Judiciário quer governar o Brasil. E os barões da imprensa
também. Porém, as funções de juízes e procuradores não são talhadas para tanto.
Eles são funcionários públicos importantes, de alta hierarquia, mas não aptos o
suficiente para governarem o País, até porque são nomeados e por isso não podem
assumir o papel daqueles que se submeteram ao sufrágio universal.
O
ano de 2012 já se tornou inesquecível. É o ano em que a direita, por intermédio
da PGR e da imprensa alienígena, criminalizou o PT, o único partido orgânico
deste País e talvez o maior partido trabalhista do mundo ocidental. É o ano
também em que a direita, por meio do STF, judicializou a política, como forma
de diminuir o espaço do Congresso e do Palácio do Planalto cujas autoridades
são eleitas pelo povo brasileiro, e, por seu turno, homens e mulheres
autenticados com o carimbo do povo para legislar e governar.
Trabalhista no poder deixa a direita com dor de barriga, os cabelos em pé e a pensar em golpe. |
O
Judiciário (STF, PGR e STJ) é um Poder da República essencialmente técnico.
Togados que usam capas pretas têm de se ater aos autos dos processos e não
fazer política partidária e ideológica. Se tal juiz ou procurador tem vocação
política, que se submeta às eleições e ao voto popular. As tribunas adequadas à
política são os plenários da Câmara e do Senado, além das cadeiras dos governantes
eleitos pelos brasileiros.
É um
absurdo como o senhor juiz Celso de Mello se comportou. Deslumbrado, mostrou-se
autoritário e pronunciou palavras açodadas no julgamento do “mensalão” quando
ameaçou o presidente da Câmara, o deputado Marcos Maia, de colocá-lo na cadeia.
O
condestável vai “prender” o presidente da Câmara dos Deputados, que é,
constitucionalmente, a terceira autoridade do País a assumir a Presidência da
República na ausência da presidenta e do vice-presidente. Surreal. Absurdo
cometido por esse juiz midiático, que foi chamado às falas pelo doutor Saulo
Ramos, ex-ministro da Justiça, que o indicou para o Supremo.
Saulo
o chamou de “Juiz de m...”. O motivo para o impropério foi porque ele se
irritou quando seu ex-pupilo confessou a ele que votou contra o presidente José
Sarney porque a votação já estava decidida em favor do ex-presidente. Depois do
episódio, Saulo rompeu com o atual decano do STF.
Celso
de Mello é um juiz midiático e que cede às pressões da imprensa de mercado, bem
como é alinhado aos interesses desse sistema privado de comunicação. A verdade
é que a maioria dos juízes que compõem o Supremo é conservadora, e a minha
opinião é que muitos deles traíram o Governo.
A
maioria dos juízes nomeados por FHC — o Neoliberal — e por outros ex-presidentes
não cometeram, recorrentemente, atos e ações contra os Governos e o Congresso,
no que é relativo a ações políticas, de caráteres legais, e aos programas governamentais. Pelo contrário, garantiram
a independência dos Três Poderes, bem como protegeram e reafirmaram o papel das
autoridades eleitas, que atualmente sofrem com a judicialização e a criminalização
do processo político, partidário e eleitoral, além de serem alvos de uma campanha
infame e sistemática da imprensa de mercado e de direita, detentora de um
canhão midiático moedor de almas e reputações e que insiste em pautar a República
e, por conseguinte, manter seus interesses econômicos e políticos intactos. Não
é nada fácil enfrentar os porta-vozes da Casa Grande.
Os
petistas José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares vão para a prisão. São
pessoas que enfrentaram a ditadura militar e jamais fugiriam do País para não
serem presos. Gurgel sempre soube disso. Todavia, é necessário não somente leva-los
à prisão, mas, sobretudo, humilhá-los. É a vingança da direita contra aqueles
que ousaram ocupar um espaço até então destinado aos inquilinos da Casa Grande:
o Palácio do Planalto.
SEM COMENTÁRIOS. E PRECISA? |
Dirceu,
Genoíno e Delúbio não são, indubitavelmente, as pessoas de Cacciola, Dantas,
Abdelmassih, dentre outros, como quer fazer crer, de forma mentirosa, a
imprensa direitista. Eles são parte de um projeto de poder e de governo, pois
são políticos e militantes do campo da esquerda. Ponto. Esta realidade tem de
ser relevada e ponderada.
As
questões colocadas na mesa são outras. São realidades diferentes e que não
podem ser misturadas em um mesmo caldeirão como o fizeram os barões da imprensa
golpista, a PGR do Gurgel e os juízes do
STF, a exemplo de Joaquim Barbosa, Celso de Mello, Cezar Peluso, Ayres Britto,
Gilmar Mendes, Luiz Fux e Marco Aurélio de Mello. Autoridades do Judiciário
que, indelevelmente, pecaram contra o Código Penal, a Constituição e,
evidentemente, contra a cidadania. Sobretudo contra o estado democrático de
direito.
Surreal
é a política na América Latina e especificamente no Brasil. Evidenciam-se os
interesses das classes dominantes e de seus representantes da Casa Grande, que
ora controlam o Judiciário e a PGR. Eles tomaram o lugar dos políticos da
oposição de direita, que estão desmoralizados e neste momento fragorosamente
derrotados para o desgosto e o inconformismo dos colunistas, editorialistas e “especialistas”
de prateleiras da velha imprensa.
É a
direita que se reinventa, até porque nem mesmo as mídias conservadoras estavam
a fazer frente aos governantes trabalhistas (vide a vitória de Fernando Haddad
em São Paulo) e por isso se aliaram ao Judiciário, que faz oposição ao Governo
e luta para legislar no lugar do Congresso. É a direita em toda sua expressão e
perversidade. A direita ainda donatária de setores influentes de poder, mas que
não tem origem no voto e por isso irremediavelmente antidemocrática quando quer
tomar o lugar daqueles que foram eleitos.
Roberto
Gurgel e Joaquim Barbosa são “espertos” e da pesada. Gurgel quis dar uma
martelada no cravo e outra na ferradura. Só que Joaquim ficou com um olho no peixe
e o outro no gato. Contudo, a meu ver, eles não estão nem aí para a
Constituição Federal, porque o que eles prezam mesmo é o “domínio do fato”. É
isso aí.
5 comentários:
É TUDO O QUE EU QUERIA LER E FALAR. OBRIGADA!
Parabéns pelo excelente texto, faço questão de reproduzir no meu blog com sua devida permissão.Poucos jornalistas nesse país tem a coragem de escrever um texto tão esclarecedor.Tentei fazer um comentário lá no portal do 247, porem não conseguir, pois a página toda hora apaga automaticamente e volta ao zero. Um abraço!
Mais um texto irrepreensível. Parabéns!
Prezado Jurandi, fique à vontade quanto ao texto e obrigado por sua gentiliza e atenção.
Obrigado, MM. Um abraço e tudo de bom.
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