João Mendes: "Os negros e os índios tem de ser resgatados pela Nação" |
O prefeito Eduardo Paes
sancionou, no dia 14 de maio, no Palácio da Cidade, o Projeto de Lei nº 1.081, de
autoria do vereador João Mendes de Jesus (PRB), que trata de cotas para negros
e índios em concurso público em âmbito municipal. O projeto agora é Lei e já
está em vigor desde o dia de sua sanção.
Davis Sena Filho — O quê
significa a aprovação das cotas para negros e índios no âmbito do município do
Rio de Janeiro?
João Mendes de Jesus — Antes
de tudo, a vitória dos sensatos e democratas, dos que querem uma cidade, um
Estado e um País para todos cariocas, fluminenses e brasileiros, e não apenas
restrito a uns poucos privilegiados, que controlam os meios de produção e integram a nossa elite econômica. Afinal, o Rio de Janeira é a cidade mais
conhecida do Brasil, e tudo o que acontece de bom ou de ruim na cidade
repercute em termos nacionais e internacionais.
DSF — Como surgiu a ideia de
elaborar o projeto de lei nº 1.081 sancionado pelo prefeito Eduardo Paes?
JMJ — Por meio da história
das políticas afirmativas no Brasil e no exterior inclusive em outras áreas de
atividade humana, como as universidades e o próprio Governo do Estado do Rio,
que também aprovou cotas para concursos no serviço público. O problema maior
são alguns representantes das elites brasileiras, que através de seus
porta-vozes na imprensa corporativa e em setores que militam no campo
partidário de direita e do Direito se insurgem contra à luta pela igualdade de
oportunidades entre as pessoas e ficam a fazer campanhas panfletárias, que
distorcem a verdade e de fundo preconceituoso e intolerante. Contudo, a sólida
democracia brasileira não permite que tais grupos ou pessoas tenham suas teses
elitistas e sectárias vitoriosas apesar de eles terem toda liberdade para
expressá-las.
DSF — Setores conservadores
da sociedade afirmam que as cotas também são preconceito e privilegiam os
negros e os índios?
JMJ — Quero deixar claro: as
cotas não são eternas e não queremos que isto aconteça. O prazo de duração das
cotas é de dez anos e pode ser renovado se for necessário. Porém, queremos
tempo o suficiente para que possamos igualar as condições dos negros e índios
no que concerne à igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades.
Além disso, as cotas são destinadas a 20% daqueles grupos sociais que,
historicamente, não tiveram, por parte do Estado, acesso às condições para
terem uma vida de melhor qualidade. E, evidentemente, que os índios, que foram
quase exterminados, e os negros, que vieram para o Brasil na condição de
escravos, são os grupos étnicos que estão em desvantagem em relação aos brancos e à
maioria dos imigrantes que vieram para o Brasil no fim do século 19 e início do
século 20, como os japoneses, os poloneses, os italianos, os alemães, que,
inclusive, receberam terras, o que, injustamente, não aconteceu com os negros,
por exemplo, que tiveram de ocupar os morros, a periferia, enfim, as favelas. O
meu projeto que virou lei é justo.
DSF — O vereador considera
que as cotas resolvem tudo?
JMJ — Esta pergunta me dá a
oportunidade de dizer aos que são contra que as cotas não resolvem tudo, mas
ajudam no que diz respeito à cidade do Rio de Janeiro, que é internacional e
por isso muito importante para o Brasil ainda mais quando um projeto de
política afirmativa é aprovado, o que pode levar outras cidades a seguir os
passos do Rio no que é relativo às cotas para negros e índios em concurso
público em âmbito municipal. Estou muito feliz e agradecido aos vereadores, ao
prefeito, ao Movimento Negro do Rio, que compreenderam o propósito social das cotas e
aprovaram o meu projeto.
Davis enquanto não tivermos uma educação como nossos hermanos Argentinos temos que ter cotas mas um dia chegaremos onde todos terão vagas no ensino publico de boa qualidade
ResponderExcluirConcordo com o vereador. Não se pode ignorar 300 anos de escravidão, por exemplo. É preciso corrigir tanta injustiça, tanta concentração de renda, tanta gente privada do direito à educação durante séculos. O mercado jamais vai corrigir isso. Pelo contrário, vai deixar que milhões morram em vida.
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