Por Davis Sena Filho — Blog da Dilma
“Getúlio Vargas foi derrubado em 1945 e morto em
1954 porque era nacionalista e tinha um projeto de autodeterminação para o
País. Fatos estes que não interessam e nunca interessaram aos EUA e à nossa
burguesia herdeira do sistema de escravidão”.
No dia 24 de agosto de 2011 acordei às 6h30 e
logo pensei no notável brasileiro que foi o gaúcho de São Borja, Getúlio
Dornelles Vargas, que fundou, solidamente, as bases do Brasil moderno. Lembrei
que o Senado homenageou, em 2004, o grande estadista, em uma sessão especial, da
qual participei por meio de convite, pelo transcurso dos 50 anos de sua morte.
O Senado, instituição republicana por onde
passaram vultos importantes de nossa história, entre eles o general gaúcho,
Pinheiro Machado, e o doutor das letras, o baiano Rui Barbosa, sempre relembrou
e homenageou as pessoas que ajudaram a pensar e a construir este País. É
tradição, e, a meu ver, assim continuará, pois se trata de uma Casa augusta,
enraizada na história do Brasil, além de ser um fórum político muito importante
de deliberações e decisões.
Pensei em Getúlio e em sua obra. Refleti sobre
seu imenso legado, e, conseqüentemente, em seus opositores, ferozes e injustos,
desrespeitosos e ousados, mas, principalmente, oportunistas quando não
mentirosos. Sobretudo, maledicentes e contrários ao desenvolvimento social e
econômico que a população brasileira estava a experimentar pela primeira vez em
sua história.
O Brasil, até então, era um País de herança
escrava, atrasado. Cerca de 70% da população, em 1930, vivia no campo. Para
ilustrar ou dimensionar o que foi Getúlio Vargas recorro ao saudoso professor,
fundador da Universidade de Brasília (UnB) e criador do CIEP, senador Darcy
Ribeiro, que disse a seguinte frase: “Quando você pensa que coisas elementares
para qualquer País como os ministérios da Educação, da Saúde e do Trabalho não
existiam no Brasil antes de 1930; quando você pensa que não havia jornada de
oito horas de trabalho, não havia direito a férias, a sindicato, à greve, e
constata que quem introduziu isso tudo foi Getúlio, mesmo reconhecendo seus
defeitos não se pode esquecer sua importância histórica”.
A constatação do mineiro Darcy Ribeiro
personifica e sedimenta a vida política, o ideário do estadista gaúcho,
herdeiro de Júlio de Castilhos e, filosoficamente, positivista. Não há como, de
forma imparcial, divorciar Getúlio Vargas do desenvolvimento do Brasil, e, por
conseguinte, da inserção de nosso País no rol dos países que são considerados
civilizados.
Getúlio civilizou a sociedade brasileira, porque
garantiu os direitos civis e permitiu que o cidadão brasileiro se tornasse
independente, por intermédio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), da
instituição do salário mínimo, da organização dos sindicatos, do direito à greve,
do acesso das massas à educação, da criação da Previdência Social e da Justiça
do Trabalho.
Além disso, Getúlio reorganizou o estado
nacional ao instituir o concurso público, para depois centralizá-lo e com isso
obrigar os estados a ser, de fato, federados. Naquela época os governadores
eram chamados de presidentes e as oligarquias rurais e urbanas controlavam os
governos estaduais, administravam o dinheiro público sem dar satisfação a um
poder central, que hoje tem instrumentos como a Receita Federal, a Polícia
Federal, o Ministério Público e as Procuradorias, que combatem o desvio de
recursos e apontam aqueles que são os responsáveis pela corrupção e por
diversas modalidades de crimes financeiros e fiscais. A punição é com a
Justiça, não se pode confundir.
Por tudo isso, não é correto, historicamente,
negar o valor e a importância de um homem, raro, como Getúlio Vargas. Ele,
juntamente com homens do quilate de Oswaldo Aranha, Lindolfo Collor, Francisco
Campos, Gustavo Capanema, Pedro Ernesto, Juarez Távora, Tancredo Neves, Assis
Brasil, Juracy Magalhães, Alberto Pasqualini, João Goulart e, posteriormente,
Leonel Brizola, entre muitos outros, revolucionaram o nosso País, que até então
era rural, voltado à agricultura e à pecuária.
Essa brilhante geração de políticos realmente
pensou o Brasil e o construiu, solidificando-o para o futuro, mesmo quando este
mesmo futuro não foi tão bom para os brasileiros — vide os homens que vieram a
governar este País após a morte de Getúlio Vargas e depois da queda de João
Goulart, no ano de 1964. Em vez de darem continuidade à sua monumental obra,
tentaram desconstruí-la, aos poucos, de governo a governo.
Ao contrário dos Estados Unidos, cujos presidentes, em
sua maioria, deram continuidade à obra social e econômica de Franklin Delano
Roosevelt, os ditadores do período militar e os presidentes José Sarney,
Fernando Collor e o tucano Fernando Henrique Cardoso — conhecido também como
FHC — anunciaram o fim da Era Vargas.
FHC, o neoliberal, com sua vaidade de
“aristocrata” ou de cafeicultor paulista quatrocentão, além da vocação para
intelectual sociológico, colocou em prática sua característica principal como
mandatário: nenhuma praticidade e vontade para fazer do povo brasileiro um povo
orgulhoso e satisfeito com o seu País. Vendeu empresas públicas lucrativas e
organizadas, que foram base do nosso desenvolvimento. Estatais, como a Vale do
Rio Doce (obra de Getúlio, para variar) e a Telebras, hoje mutilada e dividida
entre os estrangeiros em várias partes, foram alienadas do patrimônio público
brasileiro e vendidas a preços tão baixos que hoje soam como piada. De mau
gosto, é claro.
Em vez de ter papel social, a Telebras dividida
pela iniciativa privada estrangeira se transformou apenas em prestadora de
serviços de telefonia dos mais caros do mundo, bem como é campeã de reclamações
no Procon. Realmente, as telefônicas privadas dão nos nervos, porque quando
algo ou alguém somente visa o lucro, não há como priorizar a sociedade e nem
respeitar seus direitos fundamentais, garantidos pela Constituição e pelo
Código do Consumidor. Portanto, considero que as agências reguladoras e o
governo têm de ser duros com os maus empresários e cobrar, sem tergiversar, o
que é definido pelos contratos.
As empresas de telefonia se recusam a investir
nos rincões do Brasil e até hoje não disseminaram o sistema de banda larga,
porque não têm competência para realizar tal projeto, além de considerá-lo caro
para seus cofres abarrotados de dinheiro, valores monetários que,
evidentemente, vão para fora em forma de remessa de lucro e com isso ajudar a
gringada a amenizar o colapso financeiro, econômico, social e moral pelo qual
estão a passar, por causa do derretimento do fracassado e desumano
neoliberalismo, a partir de 2008. Somente os “especialistas” da imprensa
privada comprometidos com o grande capital não percebem essas realidades. Eles
não são uns gênios, prezado leitor?
O neoliberal tucano FHC, na verdade, não
governou como presidente de uma Nação, e sim como corretor de imóveis e de
empresas à venda. Lula trilhou um caminho contrário e fortaleceu o estado
nacional, que, posteriormente, tornou-se o maior responsável por o Brasil
praticamente não sofrer com a crise econômico-financeira internacional, que
acometeu o mundo no ano de 2008. Lula vem do trabalhismo paulista, que é
diferente do gaúcho, mas que no fim das contas tem os mesmos objetivos
políticos e sindicais, porque se trata de defender os interesses dos
trabalhadores. E é esta a questão primordial.
Lula, mandatário que já tem um lugar de
honra na história do Brasil tal qual Getúlio Vargas apenas compreendeu o
trabalhismo do antigo PTB e do PDT e passou a trabalhar, de forma programática,
essa realidade na Presidência da República. A direita percebeu e sua
ponta-de-lança, a imprensa privada, passou a combatê-lo, como o fez com
Getúlio, Jango e Brizola, ao ponto de, em 2005, quase derrubá-lo por intermédio
dessa estratégia draconiana, que se valeu do caso do Mensalão para sangrá-lo
politicamente, enfraquecê-lo, porque no ano seguinte haveria as eleições para
presidente. Todo esse processo teve a cumplicidade da cúpula do PSDB e,
obviamente, do DEM, que é o pior partido do mundo, pois tão conservadores
quanto os republicanos do Texas. Eles, juntamente com os tucanos paulistas, são
o Tea Party brasileiro.
Lula percebeu, juntamente com Marco Aurélio
Garcia, assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Márcio Thomaz
Bastos, ministro da Justiça, Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores,
Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil e Luiz Dulci, ministro da
Secretaria Geral da Presidência da República, que estava em jogo não apenas a
luta pelo poder em termos civilizados, partidários e constitucionais, mas, sim,
uma orquestração muito maior, que colocava em risco o seu mandato de presidente
da República conquistado, inquestionavelmente, nas urnas.
O presidente trabalhista avisou aos seus
ministros: “Continuem trabalhando no Ministério, porque eu vou para as ruas”.
Dito e feito. Lula subiu para o Nordeste, e de lá avisou à direita que não
aceitaria golpe de estado. Posteriormente, o presidente disse que o problema da
direita, dos conservadores, é que eles nunca se depararam e trataram com um
presidente cuja origem é o sindicalismo, a Igreja e as organizações sociais. É
um triunvirato poderoso, porque ele é enraizado na alma do povo, e, por
conseguinte, ramificado em todos os setores da sociedade brasileira. A direita
percebeu e recuou. Ela é cruel, mas não é e nunca foi idiota.
O governo neoliberal do tucano FHC, que
envergonha a verdadeira social-democracia, principalmente a européia, deveria,
na verdade, ter se espelhado em Getúlio Vargas que ofereceu propostas e
efetivou não um programa de governo, mas, sim, de estado para o País, com sua
equipe e, obviamente, com a força dos trabalhadores brasileiros. Se Getúlio é
considerado em um período ditador, como gostam de afirmar os “gênios” da
imprensa privada golpista, o que pensar então das políticas econômicas e sociais
de José Sarney, Fernando Collor e principalmente do neoliberal Fernando
Henrique Cardoso?
Há ditadura mais cruel? E há crueldade maior do
que a da imprensa comercial e privada? Esta apóia sempre os políticos que fazem
o jogo de interesses do grande capital nacional e internacional e compactua,
como sempre, com conspiradores de outros segmentos que se dedicaram e se
dedicam a derrubar ou ridicularizar quaisquer políticos que tenham propostas
nacionalistas, projetos para o País e programas de governo, exemplificados em
Getúlio Vargas, João Goulart e Luiz Inácio Lula da Silva, bem como em Juscelino
Kubistchek, que por pensar em seu futuro político, apoiou, em primeiro momento,
o golpe de estado de 1964. Depois Juscelino percebeu seu grave erro e passou
também a combater a ditadura militar, que o perseguiu e o humilhou.
Pois bem, a corrente política trabalhista dos
gaúchos, também dos uruguaios e argentinos, enfim, foi derrotada em 1964, por
intermédio de políticos e militares udenistas e golpistas umbilicalmente
ligados à Guerra Fria, promovida e patrocinada no ocidente pelos Estados
Unidos, e apoiada por parte da classe média despolitizada e conservadora e,
logicamente, como não poderia deixar de ser, pela imprensa privada, os
religiosos conservadores da Igreja Católica, banqueiros como o governador de
Minas, Magalhães Pinto, além dos empresários da Fiesp, da Fierj e de outras
federações empresariais menos importantes.
Não procede e não reflete a verdade a
interpretação de muitos historiadores, sociólogos, políticos e jornalistas que
Getúlio Vargas, em 1945, teve de renunciar por causa da vitória da Força
Expedicionária Brasileira (FEB) na II Guerra Mundial, como, por exemplo,
declarou ao “Jornal do Senado”, em sua edição especial de 24 de agosto de 2004,
o presidente do Senado e udenista bossa nova, senador José Sarney.
A verdade é a seguinte: Em 1950, Getúlio Vargas,
eleito legitimamente pelo voto popular, teve de renunciar, pois o Palácio do
Catete estava sitiado pelos militares (sempre eles). Agiu dessa forma para
manter o regime democrático e com isso garantir a vitória do marechal Eurico
Gaspar Dutra, seu ministro da Guerra, nas eleições constitucionais de 1946.
Tanto é verdade que Getúlio foi eleito em 1950, fato este que fez recrudescer o
ódio feito de bílis da direita reacionária udenista-militar, que nunca teve
voto e continuou a não tê-lo através da história, mesmo com suas novas
roupagens de Arena, PDS, PFL e agora DEM, que está a se transformar em um
partido médio para pequeno, ainda mais com o aparecimento do PSD, sigla
partidária fundada por Getúlio, do prefeito paulistano Gilberto Kassab, que fez
com que muitos demoníacos (desculpem, foi um lapso!), demistas pulassem do
barco para não afundar com ele. Kassab percebeu que ser aliado de José Serra é
dar abraço em afogado, e apoiar Geraldo Alckmin é não ter acesso livre para
concorrer a governador de São Paulo. Esperto o Kassab, não achas, caro leitor?
Com isso o DEM, que é o PFL e a UDN vai seguir o
seu destino: o fracasso e a extinção, palavra esta muito íntima de ex-senador e
ex-governador de Santa Catarina e ex-“ideólogo” do DEM, Jorge Bornhausen. Quem
sobrou para o DEM? O Cesar Maia. Porém, quem vai votar nele, a não ser alguns
mauricinhos e novos riquinhos da Barra da Tijuca e de parte da Zonal Sul e da
Zona Norte do Rio de Janeiro. Ah, já ia esquecer. Tem também o vice do Serra,
que não quis fazer o teste do bafômetro: o inesquecível deputado Índio da
Costa, intrépido playboy, sem esquecer o senador tucano e mineiro Aécio Neves,
principal adversário do PSDB paulista e de sua imprensa privada.
Voltemos ao Sarney. Udenista que também foi da
Arena e do PDS, conhece a história do Brasil. Ele sabe que Getúlio foi vítima
de um golpe. Vargas caiu porque sofreu um golpe “branco” e foi traído pelos
coronéis e generais, inclusive pelo seu ministro da Guerra, general Zenóbio da
Costa. Os generais, a maioria, dizia-se, até então, legalista, portanto,
constitucionalista. Esses mesmos coronéis e generais, dez anos mais tarde
(1964), ascendem ao poder, por meio de um golpe militar, com amplo apoio de
forças estrangeiras como a CIA e o Departamento de Estado, da IV Frota dos EUA,
de civis brasileiros de oposição, aqueles com influência junto aos empresários
que controlam os meios de produção e de comunicação, bem como o importantíssimo
apoio logístico, geográfico e político de governadores poderosos como Magalhães
Pinto de Minas Gerais, o intrépido, loquaz, agressivo, ambicioso sem limites
pelo poder e multifacetado Carlos Lacerda do Rio de Janeiro, denominado pelos
seus adversários de Corvo, e o governador de São Paulo, Ademar de Barros, “o
rouba, mas faz”.
Para o bem da verdade é necessário que fique
claro que Vargas não foi derrubado porque era “ditador”, e sim porque era
nacionalista, contrariava interesses internacionais e elaborou leis e assinou
resoluções que beneficiaram o trabalhador. A questão política (ser ditador ou
não) sempre ficou em segundo plano, mas foi usada e manipulada,
sistematicamente, como questão principal. A imprensa atacava violentamente
Getúlio (a Tribuna da Imprensa, do golpista Carlos Lacerda, publicou, de forma
cruel e infame, a seguinte manchete: “Somos um povo descente governado por um
ladrão”). Os proprietários de jornais, rádios, televisões e revistas pertencem
à classe do patronato e, igualmente, aos patrões de outros segmentos da
economia, eram e ainda o são até hoje contra os avanços sociais efetivados
pelos governantes trabalhistas. Eles sempre, quando podem, pedem a revisão das
leis trabalhistas. Sempre.
Considerar Getúlio ditador realmente foi um
subterfúgio para a burguesia brasileira combatê-lo e derrubá-lo. Tanto é
verdade que depois a imprensa empresarial apoiou como cúmplice e de forma
subserviente os militares a partir de 1964. Ou seja, a imprensa privada foi um
dos principais alicerces da ditadura militar. A ser assim e assim fazer os
barões da imprensa e das mídias enriqueceram a tal ponto que hoje enfrentam
governos e tentam pautá-los conforme seus interesses políticos, ideológicos,
econômicos e financeiros. Ainda mais se determinado governante for trabalhista,
como Getúlio, Jango, Lula e agora a presidenta Dilma Rousseff.
A verdade é que a ditadura Vargas perto da dos
militares de 1964 era coisa de amador. A imprensa da época, os ricos e parte da
classe média derrubaram Getúlio porque seu governo estava a distribuir renda,
além de inserir muitos milhares de brasileiros no mercado de trabalho e nas
escolas públicas. Getúlio Vargas foi derrubado em 1945 e morto em 1954 porque
era nacionalista e tinha um projeto de autodeterminação para o País. Fatos
estes que não interessam e nunca interessaram aos EUA e à nossa burguesia
herdeira do sistema de escravidão.
Os militares e civis que passaram a controlar o
Brasil com mão de ferro em 1964 se alinharam aos interesses internacionais,
tendo como base a Guerra Fria. Os Estados Unidos não permitiriam jamais que o
Brasil, bem como a Argentina de Perón e o Uruguai se desenvolvessem sem sua
aquiescência. Era uma questão de geopolítica e colonialismo, pois os
estadunidenses passaram a ficar histéricos quando a União Soviética dividiu o
mundo, simbolicamente, com o muro de Berlim.
O Brasil, então, passou a abrir as portas, com
mais ênfase, às multinacionais e os economistas, de pensamento monetarista,
como Eugênio Gudin, Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen e equipes
direcionaram a economia do País para o que hoje se chama de neoliberalismo, que
pode também ser chamado de globalização, que é o colonialismo maquiado, com
nova estampa, a fim de atender as demandas da nova ordem mundial, que é a mesma
ordem secular de sempre: manda quem pode (países ricos); obedece quem tem juízo
(países pobres). Como ocorre agora com a Líbia. Os países colonialistas, por
meio da ONU, órgão defasado, superado e de espoliação internacional, cala-se e
mais uma vez se torna cúmplice da rapinagem e da pirataria que se pratica por
meio da força nos países árabes, como exemplificam muito bem o Iraque e o
Afeganistão, somente para ficar nesses.
Acontece que Getúlio Dornelles Vargas tinha
juízo. Quem não tinha e continua a não tê-lo são os políticos de partidos
(extintos ou não) como a União Democrática Nacional (UDN), o PL, a Aliança
Renovadora Nacional (Arena), o Partido Democrático Social (PDS), o DEM
(ex-PFL), o Partido Popular Brasileiro, atual Partido Popular (PP), além de
outros partidos de centro e de direita como o PPS e o PSDB, aquela agremiação
política que vendeu o País e por causa desse grave motivo perdeu as últimas três
eleições para presidente da República.
Getúlio Vargas estava tão à frente de seu tempo
que, em 1929, na campanha à Presidência da República, pela Aliança Liberal, ele
propunha uma legislação que efetivasse as férias remuneradas e a regulamentação
do trabalho do menor e da mulher, o que venhamos e convenhamos, deixou a
“elite” econômica nacional inconformada, com raiva, ou melhor, com ódio.
Getúlio Vargas foi o maquinista da revolução industrial brasileira, a
transformar, desse modo, um País rural em urbano.
Criou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a
Vale do Rio Doce e a Petrobras. O mundo hoje, com as guerras no Oriente Médio,
na África e na Ásia árabe, está a enfrentar mais uma crise de petróleo, na
verdade de vários tipos de energia, e o Brasil é autossuficiente e, portanto,
não sente em demasia a alta nos preços do combustível fóssil. É verdade que os
preço da gasolina, por exemplo, não é barato, mas, contudo, o Brasil, com a
descoberta do Pré-Sal e com seu mercado interno cada vez mais forte, torna-se
um País mais poderoso do que já é, e preparado para enfrentar crises, bem como
ter o controle de suas diferentes fontes de energia. Isto se chama
independência.
Retornemos a Getúlio. Além disso, a construção
da CSN permitiu que o Brasil liderasse o segmento do aço e assim se tornasse
proprietário de seu destino, sem precisar exportar ferro bruto e depois comprar
o mesmo ferro de países industrializados a preços altíssimos, em dólares, o
que, sobremaneira, não agradou aos industriais norte-americanos do segmento do
aço. Só que produzir aço é uma questão de segurança nacional e de independência
para qualquer País, e Getúlio percebeu isso. Alguns grandes empresários sempre
remam contra a maré e contrariam os interesses de seu próprio País.
Lula, quando presidente, pressionou o
manda-chuva da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, a agregar valor à produção da
Companhia, ou seja, construir siderúrgica, fábricas que pudessem propiciar
empregos no Brasil para os trabalhadores brasileiros. Lula demonstrou, em
público, sua contrariedade. Agnelli pagou para ver. E viu; pois demitido. No
governo Dilma ele teve de sair da presidência da Vale do Rio Doce. Como se vê,
existem empresários, executivos atuais que agem como os empresários e executivos
do passado. O tempo passa, mas a cabeça é a mesma. São tacanhos e medíocres,
porque não pensam no País. Eles não têm compromisso. Não dá para deixar na mão
de um executivo predador uma empresa do gigantismo da Vale do Rio Doce,
identificada com o povo brasileiro, além de ser obra do estadista nacionalista
Getúlio Vargas. E a imprensa e seus “especialistas” de prateleira têm a
insensatez e a total falta de noção ao defender o injustificável e o
indefensável, tudo para manter privilégios e atender os interesses do mercado
internacional, mesmo se o preço for o prejuízo do Brasil e do seu povo
competente, criativo e trabalhador.
Fernando Henrique Cardoso, quando se despediu do
Senado em 1994, com o propósito de desmontar a Era Vargas, afirmou: “Um pedaço
do nosso passado político ainda atravanca o presente e retarda o avanço da
sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas, ao seu modelo de desenvolvimento
autárquico e ao seu Estado Intervencionista”. FHC queria o quê? O País não
tinha nada. Era rural. Getúlio remodelou o estado nacional e o organizou.
Somente o estado teria e tem (como demonstrou na crise mundial de 2008)
condições de fomentar e desenvolver a economia e, por conseguinte, permitir a
melhoria da qualidade de vida da população, ainda mais naquela época de Vargas.
Nada mais natural as palavras de FHC, que depois
de terminar o seu mandato, não deixou legado algum, a não ser o legado da
miséria, da diminuição da renda do brasileiro, da venda das estatais que FHC
não construiu e não lutou para construí-las, da subserviência ao FMI (faliu o
Brasil três vezes e três vezes pediu dinheiro), da não efetivação séria da
reforma agrária, da degradação do meio ambiente, da destruição das nossas
estradas, do racionamento de energia durante nove meses, o apagão, e, como não
poderia deixar de ser, do crescimento da violência.
O executor do neoliberalismo no Brasil, o tucano
FHC, criticou o legado de Getúlio no Senado, em 1994, como se fosse uma senha.
Ele sinalizou aos estadunidenses, credores históricos, que desmontaria o estado
brasileiro, com as vendas das estatais e do fechamento de instituições e órgãos
públicos e com isso permitir a diminuição do estado nacional. Estado menor mais
dinheiro para pagar a dívida. Estado menor significa mais poder para a
plutocracia. Atitude que os estadunidenses, por não serem entreguistas, não
fariam com o estado deles.
FHC, o neoliberal, trabalhou bem para os ricos e
manchou de vergonha todos os brasileiros que um dia acreditaram que a
social-democracia fosse democratizar a vida nacional, a começar pela
distribuição de renda e de riqueza. Afinal, foi isso que os sociais democratas
europeus fizeram. Somente eleições não bastam. Tem de haver democracia na
economia. Distribuição de renda, de terra, apoio à micro e média empresas,
crescimento nos índices de emprego e, sobretudo, aplicação massiva de recursos
em educação. Foi isso que Getúlio e Lula fizeram. Cada um com as realidades de
sua época.
FHC (ele é professor) e seu governo entreguista
não construíram uma escola de ponta, uma escola técnica. As universidades
públicas foram quase desmanteladas e as faculdades particulares surgiram como
sarampo em criança, a maioria delas somente de olho nas mensalidades pagas pelo
aluno trabalhador, despossuído de dinheiro e de ensino de qualidade. Quanto a
Lula, o que dizer?
Lula (e muitos sindicalistas da CUT, alguns
deles, inclusive, foram eleitos deputados), antes de ser presidente e por
desconhecimento, pensava de uma maneira bem parecida como o FHC, no que tange
ao trabalhismo a ao sindicalismo. Lula considerava a CLT como o AI-5 dos
trabalhadores. Para o presidente petista, Getúlio Vargas era o pai dos pobres e
a mãe dos ricos. Lula afirmava que o PT nasceu dos operários de macacão e deve
escolher o seu destino em vez de ficar à mercê do cajado de políticos que
deveriam andar com os trabalhadores e não dizer o que eles têm que fazer.
Na Presidência da República, Lula, homem muito
inteligente, dotado de uma clarividência política ímpar, percebeu que sua
condição de político e a sua realidade de vida e o seu pensamento ideológico
eram mais próximos dos trabalhistas gaúchos do que ele pensava. Ele não somente
percebeu como começou a governar como tal, ou seja, com as características
inconfundíveis de um mandatário trabalhista, tanto no Brasil como na Argentina
ou no Uruguai.
Lula sempre quis os sindicatos desvinculados do
estado. Os sindicatos foram criados na era Vargas. Lula tem forte influência
nos sindicatos, pois a CUT é um conjunto imenso dessas importantes entidades. A
verdade é que se não existissem os sindicatos, Lula não existiria como grande
líder político que é hoje. Lula, portanto, é fruto do sindicalismo criado por
Getúlio. Por mais que os sindicatos paulistas e confederações e federações de
trabalhadores não tenham oficialmente vínculo com o estado, não há como
desvincular Lula de Getúlio, porque ambos são (ressaltadas suas diferentes
épocas e origens) umbilicalmente e historicamente ligados aos trabalhadores
brasileiros.
Contudo, de uma coisa eu tenho certeza: não se
consegue desmontar a história, e Getúlio Vargas vai ficar para sempre na
memória do povo brasileiro. Antes de dar fim à Era Vargas (coisa que muitos
tentaram, mas não conseguiram), todo dirigente político tem de procurar não
imitar FHC — o neoliberal. Se tal mandatário pensa em realmente ficar na
história que ele faça por onde. Não basta ser um presidente administrador dos
interesses das classes privilegiadas. Tem de ser estadista. E Lula se fez
estadista igual a Getúlio.
FHC falou demais e fez de
menos. Lula aproveitou a crise mundial e parou de administrar somente a
macroeconomia (exportações, bancos, grandes indústrias e serviços) e passou,
inclusive antes da crise, a valorizar a poupança interna para fazer o País
crescer, além de se preocupar com a criação de universidades, extensões e
escolas técnicas. Dilma Rousseff vai agora implementar a construção de creches
e melhorar o ensino público fundamental.
Todavia, quem quer pagar ensino que pague. O
estado é o provedor maior, pois o estado é a própria população. Quando o estado
não cuida de seu povo, ele não é democrático. Esse negócio de empresa privada,
livre iniciativa é papo para boi dormir. Conversa mole para favorecer os ricos.
A livre iniciativa mama nas tetas do estado há muito tempo, como ocorreu há
pouco nos Estados Unidos e na Europa, por causa da crise de 2008, que derreteu
o neoliberalismo, sistema de rapina e desregulamentado de propósito para
privilegiar ainda mais quem já era privilegiado.
A verdade é a seguinte: empresário empregador
tem de ter apoio sempre e financiamento. Empresário especulador “tem que passar
a ser competente para se estabelecer”, como define o principal bordão
empresarial, além de ser a regra número um do mercado, tão admirada inclusive
pelos maus empresários. Getúlio Vargas é mais moderno que todos os presidentes
brasileiros, juntamente com Lula. Acontece que até hoje a nossa elite econômica
tem rancor do grande estadista, por ele ter colocado ordem no País, quando
assumiu o poder em 1930 e depois derrotou a “revolução” Cartola
Constitucionalista de 1932, que queria manter os privilégios de uma oligarquia
que ainda sonhava com o tempo da escravidão (política do café com leite).
Inclusive, infelizmente, parte da elite
acadêmica, universitária e de viés tucano, analisa Getúlio com uma ponta de
desdém, que é a inveja dissimulada. Getúlio Vargas foi um fenômeno político.
Quando ele assumiu o poder e passou a modernizar o estado e as relações
trabalhistas a libertação dos escravos tinha acontecido há apenas 42 anos,
depois de 350 anos de escravidão, a mais longa da história da humanidade. Acham
isto pouco? Mas não é. É muito.
A Era de Getúlio não foi devidamente
dimensionada pela história e pelos historiadores. E vai levar tempo, enquanto
viver neste País pessoas rancorosas, conservadoras e invejosas, que não
reconhecem o Legado de Getúlio Vargas, que os udenistas, a imprensa privada e
os seus “especialistas” de prateleira, os golpistas de plantão, os socialistas
equivocados, o FHC, o Serra e seus tucanos não reconhecem e não compreendem ou
simplesmente lutam contra os interesses do Brasil e seu povo.
O estadista brasileiro, o “ditador” esclarecido
Getúlio Dornelles Vargas reorganizou os partidos, fundou o PSD e o PTB,
estabeleceu o voto feminino, o voto secreto, criou a Previdência Social, criou
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estatizou a
geração de energia elétrica, criou a carteira de trabalho, criou a Fábrica Nacional
de Motores (lembra-se do caminhão FNM?), criou a Rádio Nacional, criou o Museu
Imperial de Petrópolis, a resguardar assim a memória do Século XIX, criou a
Eletrobras, criou o Serviço Nacional da Indústria (Senai) e o Serviço Social da
Indústria (Sesi), instituições essenciais para a formação de mão-de-obra
especializada, pois Getúlio Vargas estava a iniciar a industrialização do País.
Os empresários da Fiesp acham que foram eles que criaram o Sesi e o Senai. E os
Marinho e os executivos das Organizações(?) Globo pensam que o “Criança
Esperança” é programa de governo. Seria cômico se não fosse trágico. Realmente…
Sem comentários.
Criou ainda o presidente gaúcho e trabalhista o
Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), responsável pelo
treinamento e profissionalização da carreira dos funcionários públicos, criou a
“Voz do Brasil”, para divulgar as ações do governo, além de limitar a remessa
de lucros de empresas estrangeiras para o exterior. Somente este último item me
leva a imaginar o que Vargas deve ter arrumado de inimigos, tanto estrangeiros
quanto nacionais. O político trabalhista era, sobretudo, um homem corajoso.
Getúlio Dornelles Vargas fez essa obra gigantesca em 19 anos. Os outros
presidentes, juntos, com exceção do também estadista Lula, não fizeram nem a
terça parte do que fez o Getúlio. É isso aí.